"SACRIFÍCIO" INÚTIL
"SACRIFÍCIO" INÚTIL
Hortênsia suspirava nos estertores da agonia, jamais imaginara para si um fim tão triste ! Crescera sonhando com passarelas, em ser a rainha dos bailes, em alegrar aniversários, em enfeitar a Vida em mil cantos. E, agora, ali estava agonizante, "esquartejada" sem que lhe dessem nenhuma chance de defesa, nenhuma escolha. Ouvira falar de sacrifícios humanos para honrar imperadores, como na Roma dos Coliseus e gladiadores; entre os mais as virgens eram mortas como oferenda aos deuses que protegiam as colheitas e os cruéis astecas arrancavam o coração dos guerreiros derrotados para homenagear o Deus-Sol, deus da Vida, Senhor de tudo !
Porém, o que sucedeu com ela era absurdo: ser sacrificada para derradeira homenagem... a um morto ! Quanta inconsciência ! Quanta insensibilidade ! As lágrimas desciam-lhe face abaixo, enquanto o povo sádico a olhava sem piedade, aceitando seu fado, quase aplaudindo tanta barbárie.
Enfim, chegaram todos à estação final do seu martírio, choro e reza gerais misturando-se a sua dor.
-- "Com minha mãe estarei na santa glória um dia" !
-- "Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós, pecadores"...
Hortênsia viu a luz do sol pela última vez, o ar já lhe faltando, vertigem e pavor chegando juntos, a tampa do caixão a selar o seu Destino. Tudo por causa de um defunto, que ela jamais conhecera e que, talvez, nem merecesse homenagem alguma. Pior, quem sabe o sujeito não era um político e, para cúmulo do azar, brasileiro e de Brasília ?! Então, melhor seria o suicídio... junto com suas irmãs de infortúnio Hortênsia nada mais ouvia, morrera de raiva !
"NATO" AZEVEDO (em 10/out. 2019)