ALMAS GÊMEAS
ALMAS GÊMEAS
Enfim, nos derradeiros meses de 732, os francos derrotaram os muçulmanos, devolvendo a França aos seus, apesar dos inúmeros mortos e feridos. Esposas e filhos procuravam por parentes, pais, maridos, enquanto um velho capelão encomendava a alma dos falecidos e dava a extrema-unção aos gravemente feridos. O acompanhava o médico militar Guillaume Louis Daguerre, vivamente incomodado com a situação. Já o padre perdera a conta das vezes em que estivera num campo de batalha e essa, de Poitiers, era só mais uma ! Eis que, de repente, vão de encontro a uma cena inusitada: o soldado frnacês a entoar o Hino pátrio, espada na mão e meia lança "espetada" no tronco. Estaria delirando ?!
-- "Ande logo com isso, padre, estou morrendo" !
Ao ver o médico, espanta-se quando o reconhece:
-- "Oh, mon ami Louis... cést lui mêmme" ?!
O capelão põe a estola entre as mãos do ferido, prepara o vidrinho dos Santos óleos e inicia a rotina de orações:
-- "Pater noster qui est in coellum, santificetur nomen tuum"..., no que o interrompe o moribundo, protestando:
-- "Mas, porque não reza em francês, isso aqui não é Roma" !!!
-- "Arrependa-te dos teus pecados, filho, vais falar com Deus em breve" !
-- "Êle sabe de todos e eu precisaria de 2 dias para declinar todos êles... me dê logo a absolvição, reverendo" !
-- "Celson duMont, por favor, faça o que pede o padre" ?!, implora Louis.
-- "A única coisa de que me arrependo é não ter me dedicado aos verdadeiros amigos"!, olhando diretamente pro médico. O calejado capelão percebeu que havia mais do que simples amizade entre ambos. Se amavam, se desejavam e aquilo era pecado mortal gravíssimo.
-- "E você, doutor... não tem NADA para confessar" ?!
-- "E-e-eu, hein ?! De onde o padre tirou essa idéia" ?!, enquanto via seu amigo partir, ambos com lágrimas no olhos e a certeza do ADEUS final !
"NATO" AZEVEDO (em 12/out. 2019, 20hs)