Eu Do Outro Lado Das Terras Além

Amanheceu o dia, a noite já era! Os raios do sol lá fora talvez já se haviam despertado, não sei ao certo, disso não tenho tanta certeza, porque o quarto do apartamento aonde eu resido é meio fechado, que se eu não abrir o portão e sair para a rua, talvez não saiba se está mesmo ensolarado ou frio, pior que nessa época aqui, é inverno, sem quiser mencionar a mutabilidade repentina climática dessa cidade, Curitiba, que é impressionante; mas eu adoro mesmo assim o meu quartinho, porque aqui é aconchegante! Por exemplo, quando está frio lá fora, aqui é totalmente ameno; quando está calor ou mesmo um inferno lá fora, aqui nasce uma brisa suave, o que é realmente fascinante! Talvez o único defeito que este quarto tem, é que é, um pouco húmido e as vezes têm estragado as minhas roupas deixando-os um pouquinho mofados, se eu as deixo por muito tempo no guarda-roupas.

Certa vez, até o meu vizinho da Guiné Conacri, “Barry”, comentou estupefato:

__É impressionante como numa época de inverno como este que, aqui no seu quarto não faz frio; você tem sentido frio aqui?

__Não! Disse eu; porque perguntas?

__ Caramba, ali onde eu durmo, (no meu quarto) faz um frio dos diabos que não dá pra imaginar, que quando eu entrei aqui no seu, não senti isso.

__É porque o meu quarto é um quarto abençoado, disse eu sorrindo!

__ O que quer dizer? Replicou ele?

__ Nada, se não a verdade! Ahahah sorri eu zoando dele.

Portanto, nessa manhã de junho perto do dia vinte de 2019, data que marcaria a semana do imigrante, após ter respondido a minha donzela que aparentemente parecia chateada por termos dormido sem nos dizer boa noite, não porque queríamos, mas foi por mero esquecimento, disse ela:

__ Oi, bom dia, já que não me deste boa noite antes de dormir!

Porém, para me desviar duma briga desnecessária, formulei bem o meu raciocínio antes de responde-la, então disse eu:

__Bom dia meu amor; é verdade que não nos dissemos boa noite antes de dormirmos; você tem razão! E lembro-me bem que, você foi dormir primeiro sem te despedir de mim, e eu não me lembrei de tê-lo feito após de me jogar pesadamente para a cama também, após uma longa noite trabalhando com ilustrações do livro de um cliente, entretanto, simplesmente me apaguei..., não disse também “boa noite, meu Amor”, contudo peço desculpas, Coração.

__Tudo bem, Amor, respondeu ela, eu também me esqueci.

Entretanto no decorrer desse período me vi de repente numa certa localidade, lá longe bem além em outros cantos da terra; a pergunta seria, como eu chegara ali? Isso eu, a princípio não saberia como te explicar.

Enquanto isto eu caminhava ao longo de uma estrada, semi asfaltada quase que de terra batida; o lugar em que eu me encontrava parecia ser uma vila, não muito grande, bem no interior daquela região. Mas onde era este lugar? Eu, sinceramente não sei explicar, eu nunca estive antes ali, nem faço a mínima ideia como cheguei para lá! E assim, fui andando seguindo meu percurso, à beira dessa mesma estrada... seguia um certo rumo, para um destino que também desconhecia, mas era preciso que eu caminhasse e atingir a minha meta, até que em dado momento, vi uma criança que atravessava a estrada, correndo seguindo outras meninas da mesma idade, que já estavam no outro lado da rua; e como não era uma estrada muito movimentada, nem muito larga, então não aparentava ocorrer um perigo. Mas, num dado momento quando menos se espera, o inesperado ocorre! Subitamente, um carro meio que nem uma van, cor de leite, se aproximava velozmente perto de atropelar essa pobre criança; mas, felizmente, o motorista, deu tempo de antever o perigo, fez uma manobra perigosa vertiginosa, ao ponto de criar um “circulo”, se desviando do possível incidente inesperado; e, finalmente, conseguiu... por um lado eu fiquei de pé ao lado da estrada observando aquele cenário, boquiaberta, pela maneira como aquele motorista evitou aquela tragédia!

Na sequência, vários jovens da vizinhança que aparentavam ser amigos do motorista, vinham correndo atrás para ver o que realmente acontecera naquele instante; esses jovens, nas suas descrições fisionômicas, pareciam ser meio que bandidos, sei lá... que por um triz eu fiquei apavorado, e comecei a sair dali paulatinamente, quando de repente, o motorista daquela van, apareceu na minha frente, e começou a falar comigo; não me lembro ao certo da conversa, mas consequentemente, ele colocou a sua mão no bolso, pegou em uma nota de cem reais, que a princípio pensei que era falsa, e me entregou; depois que percebeu que tirara apenas cem reais, tirou mais uma nota de cinquenta, e mo entregou, somando o total de cento e cinquenta reais, mas, pelo qual o motivo eu não sabia. Porém, nem ousei perguntar, agradeci, e continuei prosseguindo o meu percurso. Todavia, quando eu caminhava, olhava pra trás com temor de que o mesmo indivíduo, visse de repente me atropelar e pegar de volta o dinheiro que ele me deu; e por muito temer, desviei-me da estrada, após uma longa caminhada, já fora do vilarejo, quase no meio do mato meio desértico, vi um atalho à esquerda dessa mesma estrada, que por sinal parecia ser um velho caminho, e estava totalmente esburacada, com trilhas profundas de um camião que ficara preso na lama num dia de chuva, mas eu por medo daqueles jovens favelados com rostos de gângsteres, não fiz a questão de prosseguir com a marcha por essa mesma trilha. Depois de algumas horas de andança, acabei chegando no seu limite, e vi que, havia uma ponte por ali, que já era quebrada, razão da qual os carros deixaram de passar por lá. E lá fundo abaixo da ponte tinha um rio enorme, que não parecia ser tão fundo; quando mirei com os olhos pra lá abaixo da ponte, pensando no que fazer se voltava pra pegar a estrada principal nova ou atravessar por entre aqueles ferros quebrados da ponte, vi que um certo velho “negro” meio que aqueles povos khoisans ou bosquímanos do sul de Angola vestidos semi nus, estava ali com um garoto, que poderia ser seu neto. Quando tentei saudá-los pedindo informação se podiam me mostrar um caminho que me levaria para o outro lado de onde eles se encontravam e ir ao meu destino, eles me respondendo gesticulando, num ápice quando prestava atenção neles, escorreguei-me e caí dentro do rio. Enquanto isso, fiz esforço nadando para chegar por terra, e bem perto de onde aquelas pessoas se encontravam, falei com eles de novo sobre um possível caminho que me levasse às terras além; sem me responderem, o velho fez gestos ao rapaz, e o rapaz em contrapartida, acenou me indicando onde seria a suposta entrada que daria acesso à estrada que me levaria ao meu destino. Quando seguia o garoto, ainda juntos naquelas águas do rio não fundo, me mostrou um lugar construído de ferros que aparentava ser uma jaula, e ao mesmo tempo um túnel; pensando eu que seria a possível saída, afinal, era uma armadilha, e eles queriam me fazer de banquete ao crocodilo que eles criavam ali. Sem eu perceber antes que era este seu plano, vi um crocodilo enorme vindo das águas com boca gigantesca aberta, bem em minha direção, para me devorar. Enquanto o garoto falava em uma língua estranha com o seu avô, eu dei-lhe um pontapé, lutei rapidamente, escapei-me da jaula e daquela maldita fera que estava prestes a me devorar.

E esses, malditos seres humanos, vendo que seus planos fracassaram, logo depois que eu consegui sair da água me livrando da morte planejada pelos mesmos, desesperados e raivosos, começaram a me jogar cobras pretas e de várias outras cores, para me picarem; porém, eu lutava jogando elas de volta contra eles, e afastando algumas delas, para não me fazer algum mal. Foi quando nesse momento que num abrir e fechar de olhos, pa-u-la-ti-na-men-te, abri os olhos, finalmente percebi que, eu estava apenas sonhando; e quando, definitivamente acordei, vi que já eram doze horas, ou seja, meio dia, hora de me preparar para ir à escola dar aulas de Inglês, lá no Bairro Alto.

E, outra coisa, sem esquecer de dizer que, após ter comentado sobre o inusitado sonho com a minha Amada, a estas mesmas horas, ela estava na igreja, orando à Deus por nós e pelo meu trabalho, lá na outra cidade do Paraná, em São José dos Pinhais.

Moisés António
Enviado por Moisés António em 16/09/2019
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