O HOMEM SEM SOMBRA

   Na sombra de uma árvore descansava um mendigo, exausto depois de suas andanças a pedir esmolas. Revigorava o corpo esquelético para novas investidas. Na calçada de um bar, em pleno meio dia, Joca tomava uma cerveja como aperitivo para o almoço. Viu quando um outro mendigo se dirigia para aquela sombra, cambaleava um pouco, sua sombra Joca acompanhou, ficou imaginando o que seria das pessoas se não fosse suas sombras, uma imaginação boba que lhe veio a mente.

 

   Um cachorro atravessou a rua e sua sombra provocada pela luz do sol foi acompanhada por Joca, agora decidido a se inteirar de qualquer outra que por alí fosse vista. Levantou sua mão sobre a mesa onde tomava sua cerveja e começou a brincar com a sombra dela, fazia movimentos e ria sozinho. Esticava o braço e lá estava a sombra, queria enganá-la recolhendo o braço rapidamente, mas era impossível, ela ia e vinha. Joca ria como um bobão.

 

   Joca já ia tomar o último gole quando um senhor de terno preto apontou na esquina, ele observou a elegância do distinto cavalheiro que usava um chapéu e tinha na mão direita uma bengala. Concentrou-se nessa figura desconhecida, afinal nunca o vira por alí, ficou curioso. O homem se aproximava e Joca ficou abismado com sua presença alí e mais abismado ficou quando não detectou a sombra do desconhecido homem de preto. Arregalou os olhos e esperou ele aproximar-se mais para ter a certeza absoluta. O estranho passou por ele, cumprimentou-o com um "boa tarde" e sentou-se junto a uma das mesas, em pleno sol. Nada de sombra. Joca observava curioso procurando a sua sombra, mas ela simplesmente não existia. Chamou o garçom e perguntou de quem se tratava, este olhou na direção indicada e disse que não via ninguém alí além dele. Joca quase caiu de costas. Apontou ostensivamente para a figura que julgava estar vendo mas o garçom negou ter alí qualquer pessoa. O cavalheiro então levantou-se e foi embora sob o olhar espantado de Joca que continuava sem ver sua sombra.

 

 

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 04/09/2019
Reeditado em 02/08/2023
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