Consolidação (Campôneo)

Consolidação (Campôneo)

E chegou a altura em que a simplicidade do mundo deixou de dizer alguma coisa, viu-se vazio, sem poder inventar nada. Já lhe tinham roubado o título, a artimanha de ser criador, inventor dos seus desígnios e manias. Incomodava-o o exacerbado orgulho de Deus que havia chamado para si o nome de tudo. Chegou à estaca negativa da mais real escala da vida. Ser um simples humano tornara-se pouco para o seu querer.

Aprisionou-se no tempo, deixando-se ficar intacto até ser novamente chamado ao areópago do sul, um monte que se salvou da ferrugem, um monte incorruptível que mantém a entrada da sua caverna virgem de tanto acolher eremitas. Ouviu o chamado, pegou em sua alma em mais umas quantas ideias e partiu, pelo caminho tomou um cajado com o qual poderia ferir a fúria dos rios e desviar a gula dos leões, foi-lhe dado o poder mas, sabia a pouco, queria seu o poder de poder dar poder. Queria consolidar-se campôneo e foi. Sua meta era o Mundonlõ, as estrelas não tinham significado algum para a sua orientação, sabia atravez dos ancestrais, quantos passos eram necessários para se chegar a Deus, divinizado. Pelo caminho confeccionou uma cabaça e uma flauta para reanimar a garganta e afugentar o silêncio, era o mundo que levava em suas recordações e nem ele sabia.

Chegou-se à berma do rio, era este afinal o templo dos cultos imprescindíveis para se chegar a campôneo, a qualidade que o Mundonlõ reservara para si. Pensou em regressar, recontou os passos que havia marcado, sonhou embriaguez, a muleta que faltava ao seu cansaço, transformou um dos afluentes em Walende e a festa fez questão de despertar o mato, os peixes vieram em terra acusar os sobas pelos rituais que os dizimava, em laudo trouxeram o resultado das autópsias que confirmaram o crime magistral da governação intensa e sem oposição dos criadores da cruz e da vítima feita por ela.

Sentia o cheiro de reinado, era o fim de todas as mentiras. Ainda bem que duvidou de Deus (pensava). Fez-se então poderoso, o intermediário para se chegar aos ancestrais, com a sua flauta criou canções para aqueles que, ficaram atraz crentes de que, a sua cor e raça não era inferior nem igual a nenhuma outra. O caçador na aldeia voltou aos seus cultos antes da caça, ficou-se a saber que Umbanda é cura e não feitiço para mal algum, nunca mais pararam os batuqueiros e os dançarinos presos pelo som do N’goma espremiam o corpo.

Divinizado, chamou então seu Umbi Umbi, pediu destreza sempre que ameaçado o reino, orientou que fossem salvos todos aqueles que não ajuntassem para si espelhos e que a custa disto tinha de sacrificar seus irmãos, que ficassem a queimar nas suas modernisses todos os lacaios e sipaios da nova ordem…

Tchulo Luther
Enviado por Tchulo Luther em 20/08/2019
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