A IMPRESSIONANTE HISTÓRIA DO HOMEM QUE ENGANOU A MORTE
Chovia forte quando Marlon dirigia a noite por uma estrada mal iluminada, costumava passar sempre por alí na volta do trabalho, geralmente de dia, mas calhou dele se demorar um pouco no escritório para por em dia algumas tarefas e não viu o tempo passar, anoiteceu e ainda por cima começou o toró. Olhou o relógio, passava das seis, mas ele seguiu em frente. Ligou o rádio do carro para distrair, mas o mesmo ficou chiando, não conseguia pegar, já ia desligar chateado quando uma voz rouca, quase inaudível, disse: "você vai morrer!" Dito isso desligou-se sozinho. Intrigado com esse fato e tomado de surpresa, acelerou e perdeu o controle do veículo, caindo numa vala, mas sem grandes conseqüências. Depois de algum tempo e com o cessar da chuva conseguiu sair dalí e chegar em casa todo sujo de lama.
No dia seguinte, ainda sonâmbulo, após levantar-se, olhou instintivamente para o espelho e viu, não sua imagem, mas uma figura estranha, toda de preto, segurando algo que dava a impressão de ser uma foice. Como a imagem estava borrada, rapidamente sumiu e Marlon pôde ver sua própria imagem. Ficou desnorteado mas conseguiu tomar seu banho, fazer a primeira refeição do dia e ir para o trabalho após beijar a esposa.
No trabalho não conseguiu se concentrar bem, ficava pensativo olhando através da janela do 4° andar os prédios a sua frente. Uma nuvem escura passou baixa entre dois prédios e ele viu claramente u'a mão, apenas a mão saindo da nuvem, chamando-o com aquele conhecido gesto abrindo e fechando, movimentando os dedos. Marlon arregalou os olhos assustado e presenciou a nuvem se dissipar.
A noite estava fresca e no terraço de casa ele conversava com Elza, sua esposa, falando mais uma vez do ocorrido no trabalho, estava tenso, imaginava estar tendo alucinações, mas tudo era tão real, será que estava precisando ir ao médico? Pensou nessa possibilidade, mas acabou desistindo, tudo ficaria bem.
Alguns dias se passaram e Marlon precisou viajar a serviço, ia no carro da firma para uma cidade a cerca de duas horas da sua. Depois do almoço partiu junto com mais dois funcionários, a tarde estava clara, céu sem nuvens e um vento bastante agradável. Percorridos alguns quilômetros por uma auto estrada o veículo que ele dirigia saiu misteriosamente da rodovia e caiu numa ribanceira. Marlon não sabia explicar o porquê desse acidente, viu somente seu corpo ensangüentado e os dois companheiros fora do carro, cujos corpos estendidos no matagal apresentavam deformações horríveis. Olhou com mais precisão para o próprio corpo e não encontrou uma das pernas e nem parte da mão direita. Entrou em desespero e ficou mais fora de si quando não conseguiu se levantar, a direção do carro forçava o seu tórax de forma que não o deixava sequer mexer-se. A dor era intensa, mas estava conseguindo suportar, mesmo sem entender diante da falta de um dos membros e parte de outro. A dor começou a aumentar, estava insuportável, chegou a um ponto de Marlon perder totalmente os sentidos.
A tarde era a mesma que Marlon presenciara quando dirigia o carro em plena rodovia deserta, ele via isso ao abrir lentamente os olhos, a sua frente estava aquela imagem que ele vira no espelho em casa, agora com mais nitidez e em corpo inteiro. Portava uma foice e vestia uma túnica preta, ria para ele e disse com todas as letras: "vim buscá-lo, você vai comigo". O pobre homem se desesperou e gritou, mas sua voz ecoava naquele local cheio de mato como se não saísse de sua boca, ela se repetia em ecos roucos. A figura dantesca já se preparava para tomar posse de sua alma quando ele viu sua própria imagem bem próxima da figura que poderemos caracterizar como a morte que veio em busca do seu pupilo. A sua outra imagem olhou para ele e o chamou. Marlon lembrou-se daquele gesto da mão em uma nuvem escura vista da janela do escritório. Como se uma força estranha o puxasse, seu corpo deformado foi lançado para cima do outro e ele se viu com uma espécie de poder e conseguiu levitar. A figura negra apenas ficou olhando a sua façanha sem nada fazer e ele flutuou sobre a copa das árvores até se ver em outro local, porém bem próximo do local do acidente. Tudo escureceu em seguida para o acidentado que só despertou no leito de um hospital com a esposa Elza ao seu lado. Sua primeira preocupação foi conferir se a sua mão estava no lugar, mexeu as pernas, também estavam no lugar, o que o fez respirar aliviado. Tinha apenas uns arranhões, mas os seus companheiros haviam perecido no acidente.