CERIMÔNIA FÚNEBRE

Sinceramente, eu não sabia o que estava fazendo alí diante daquele ataúde, em plena cerimônia fúnebre, sem ao menos conhecer o defunto. As pessoas nem olhavam prá mim, mas também isso não me interessava muito, eu apenas fui levado a esse "encontro" por circunstâncias por mim até então desconhecidas, quando me dei conta alí estava, como se fosse indicado para prestar uma homenagem independente de conhecer ou não o falecido. Alí estava ele, vestia um terno preto e tinha as mãos cruzadas onde se via em um dos dedos um anel de ouro. Aquilo me intrigou, eu conhecia aquele anel, ou melhor, tinha quase certeza que conhecia. Procurei visualizar seu rosto mas não conseguia, como já era quase noite uma sombra encobria as suas feições e isso não permitia que eu identificasse o morto. O seu paletó era idêntico ao meu, que coisa! Tinha bigode como eu.

As horas se passavam, nada acontecia naquele ambiente silencioso, eu já começava a ficar impaciente, queria sair dali, respirar um pouco de ar puro lá fora, já que alí era uma sala, apesar de ser enorme, muito abafada, me sentia irritado. Mas cadê forças para sair dali? Parecia uma estátua alí parado, sem fazer movimentos, mesmo sem me sentir cansado, até que as pernas estavam agüentando bem pelo tempo que estava velando aquele cadáver. Fiz um esforço danado para tentar identificar pelo menos um dos que estavam presentes a essa cerimônia fúnebre, não conseguia circular entre eles mas tinha a impressão de que olhava cara a cara para todos eles, só que não via com nitidez seus rostos, essa sombra maldita impedia minha visão e isso me aborrecia demais. Tinha um quadro na parede, me concentrei nele, procurei identificar quem era por se tratar de uma pessoa, um tipo pintura de um retrato, era um sujeito de bigode e em sua mão direita visualizei o mesmo anel usado pelo cara que se encontrava deitado dentro do caixão. Olhei pro defunto, lá estava o tal anel amarelo de puro ouro. Instintivamente olhei minha mão em busca do anel e o apalpei com vigor, era idêntico, exatamente o mesmo. Nesse momento me deu uma vontade louca de gritar, de tentar chamar a atenção daquelas pessoas que fingiam não me ver, mas quando abri a boca para o grito (eu nem sabia se ele ia ecoar com vigor), fui interrompido por um murmúrio de pessoas que chegavam dizendo: podem levar o caixão! Foi nesse exato instante que me vi dentro dele e reconhecido aquelas pessoas antes de baixarem a tampa do mesmo. Era tudo parentes e amigos.Tudo escureceu, é só o que sei dizer.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 30/04/2019
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