Uma Manhã de Verão em Nazaré (Parte II)

Maria então disse ao seu marido que o seu pequeno certa vez havia lhe contado, ter descoberto uma caverna, que ficava logo após a virada da colina, na outra margem do rio, onde também gostava de ir com seus amigos. Mas José ponderou, dizendo que a tal caverna ficava em direção oposta ao local onde foram encontrados os pertences dos meninos, e que eles não haveriam de ter ido para lá deixando tudo abandonado, do jeito como eles encontraram. Mas a insistência de Maria, baseada no seu instinto maternal, terminaram por convencer José, que concordou em ir com um grupo de pessoas até lá. E logo assim que começaram a descer a colina pelo lado oposto avistaram, meio que escondida por entre algumas moitas; a entrada da caverna. Mas, à medida em que o pequeno grupo ia se aproximando da caverna, parecia que os rugidos dos leões se tornavam mais fortes, o que fazia com que muitos deles ‘tremessem na base’.

José quando viu que sobre uma enorme pedra que havia bem ao lado da entrada da caverna, estavam as sandálias do seu menino, sentiu que seu coração parecia que ia sair pela boca, e quando Maria também as viu, praticamente se atirou em direção à caverna, precisando ser contida por algumas pessoas, que a seguravam tentando, ao mesmo tempo, convencê-la do grande risco, da loucura que seria entrar naquela caverna daquele jeito.

Os homens então começaram a confabular entre si, buscando encontrar qual seria a melhor maneira de resolver aquela situação. Mas na realidade, bem lá no fundo, todos eles acreditavam que o pior já havia acontecido... Àquela altura dos acontecimentos, alguns já estavam até pensando em desistir, com a desculpa de que era melhor ir até o povoado buscar ajuda, pois o perigo era muito grande. Permaneceram confabulando por alguns breves minutos, que mais pareceram horas.

Foi quando, subitamente, sentiram como se seus corpos fossem sacudidos, tamanha foi a potência do rugido que se ouviu vindo da caverna..

Mas eis que, após mais alguns rugidos ensurdecedores, surge da escuridão da caverna a imagem dos três meninos que, tranqüila e despreocupadamente, saem caminhando em direção da pequena, e já então apavorada multidão. Eles sorriam ao notar as expressões de verdadeiro terror que estava estampada nos rostos daquelas pessoas.

E quando eles já se encontravam bem próximos de seus pais, eis que a pintura principal que precisava ter a grandiosidade suficiente para dar o toque final naquela verdadeira obra-prima daquela belíssima manhã de verão, se realizava ante os olhares estupefatos daquela pequena multidão; foi quando, com um forte assobio, o filho de Maria e José, ergueu o seu braço direito, e fez um sinal em direção a entrada da caverna, como se dissesse: “Vem!”. E, de lá, caminhando ordeira e mansamente, como se cordeirinhos fossem, surgiram os dois leões e o tigre, que tanto pavor havia causado.

Instintivamente a multidão começou a recuar, mas ele lhes disse: “Não tenhais medo!” - Frase sua que se tornou muito conhecida nos séculos que se seguiram-.

Os animais iam se achegando até ele, e entrelaçavam-se aos seus pés, e brincando com ele, acabaram derrubando-o, agindo como se fossem seus gatinhos de estimação. Estarrecidos; ninguém estava entendendo nada...

Mais tarde, já com tudo resolvido, e tendo os animais sido recapturados, e por ele, reconduzidos às suas jaulas e sendo reintegrados à comitiva circense, coube aos seus coleguinhas explicar a todos, com riqueza de detalhes, como foi que tudo aconteceu: Disseram eles que estavam se banhando após terem pescado alguns peixes, quando viram se aproximar da margem oposta de onde estavam, aqueles animais. O medo tomou conta dos dois meninos, que pensaram que as feras fossem atravessar o pequeno riacho e devorá-los.

Foi quando notaram que aquele que seu amiguinho que os liderava, a princípio apenas se limitava a sorrir, e logo em seguida saiu nadando em direção às feras.

E logo que se aproximou das feras, começou a acariciá-las, afagando carinhosamente os seus pelos, ao mesmo tempo em lhes dizia, como que sussurrando em seus ouvidos, palavras ininteligíveis para o ouvido humano, mas que pareciam ser muito bem entendidas por aquelas feras que, ronronando, brincavam com ele como se fossem gatinhos de estimação, parecendo até que já o conheciam por muito tempo. Então ele seguiu à frente delas, conduzindo-as tranquilamente até aquela caverna, para que ali elas pudessem ficar protegidas, isto porque eles ainda não sabiam que elas haviam fugido de suas jaulas.

Os meninos disseram ainda que a princípio eles tiveram muito medo de serem atacados pelas feras, e por isso não estavam dispostos a sair da água, mas que ele lhes disse com muita firmeza e autoridade: “Não tenhais medo!” E eles perderam o medo. Afinal de contas; disseram eles, depois daquilo que haviam presenciado, não tinham mais razão para não acreditar e não confiar nele.

Ah! E adivinhem como se chamava aquele pequeno líder, que até as mais ferozes feras obedeciam?...