Assim Diz A Lenda (Parte I)

Diz a lenda, que certa vez estava Pedrão muito atarefado, conferindo atentamente a sua interminável lista de postulantes ao reino dos céus, quando um dos seus auxiliares chegou esbaforido e com os olhos esbugalhados; quase sem fôlego foi logo dizendo:

-Mestre! Mestre! O senhor não é capaz de adivinhar quem é que está causando um tremendo ‘fruzuê’ lá pelo meio da fila querendo, de qualquer maneira falar com o senhor!

-Você sabe muito bem que eu não sou adivinho meu caro. E se não se acalmar e me dizer logo, de quem se trata; nunca que vou ficar sabendo. Respondeu-lhe, Pedrão, com um sorriso.

Respirando fundo, o anjo lhe respondeu:

-É um daqueles sinistros emissários do Capiroto!

-Como é que é? Que audácia daquele chifrudo; enviar um dos seus até aqui! Quem ele pensa que é?

-Eu não sei o que é que ele pensa mestre. Só sei dizer que tem um infeliz lá que está armando o maior ‘barraco’ no meio da fila, e ainda diz que só vai sair de lá; só vai embora depois que conseguir lhe transmitir um recado do seu senhor. O que é que eu faço mestre? Perguntou o pobre anjo.

-Aqui ele não pisa de jeito nenhum. Retrucou Pedrão. E, levantando-se calmamente, arrematou; segura as pontas por aqui rapidinho, que eu vou até lá ver o que é que ele quer comigo e despacho logo o enxerido.

E Pedrão se dirigiu até a altura da fila onde estava o tal emissário do encardido.

Logo assim que o avistou, foi dizendo;

-O que você pensa estar fazendo aqui na minha área, infeliz? Acaso não sabeis que estes seus pés imundos não podem sequer tocar este lugar? Ouviu então, como se fosse um gemido gutural:

-Estou aqui porque tenho uma mensagem urgentíssima daquele que é o meu senhor; mensagem esta que precisa chegar até o Seu Senhor de qualquer maneira, caso contrário eu serei explodido em milhares de pedaços, disse, desesperado o capeta.

-Mas que audácia dele! Quem ele pensa que é para querer se comunicar com para o Meu Senhor? Por acaso será que ele já se esqueceu do que aconteceu com ele? E que por isso ele jamais poderá sequer olhar de novo para a face do Meu Senhor? Disse Pedrão.

-É! Ele sabe muito bem tudo isso. Disse até que essa haveria de ser uma missão muito difícil para mim, mas que contava com a minha astúcia para atingir o objetivo. Foi ele mesmo quem sugeriu que eu viesse até o senhor, que é o guardião geral do reino, onde ninguém entra sem passar pelo seu crivo. E todos nós sabemos que o senhor ‘é assim com Ele’. E que, se quiser, é o único que pode fazer chegar até Ele o seu pedido.

Pedrão se espantou com a palavra -pedido- e, meio ressabiado disse;

-Um pedido? Será que eu ouvi direito? Quer dizer então, que todo esse rebuliço que você está fazendo aqui na minha área é uma tentativa de fazer chegar até o Meu Senhor um pedido daquele talzinho?

- Opa, Opa; “Talzinho” não caro Pedrão, ele ‘é o cara’; dono e senhor de muitas almas, e você sabe muito bem disso!

-Tá bom! Tá bom! Não vou perder meu tempo discutindo com você; vá logo dizendo o que é que ele quer do Meu Senhor, que eu decido se vale a pena ou não levar ao conhecimento d’Ele.

-Bem, o que meu mestre pede humildemente, cá entre nós; desesperadamente, pois é assim que ele tem se sentido nestes últimos tempos, é que o seu senhor, cujo nome nenhum de nós consegue pronunciar, tenha mais compaixão de uma classe específica de homens que estão proliferando no planeta terra. Disse o enviado.

-Mas que pedido mais inusitado... Balbuciou Pedrão; pensativo.

continua...