L E D A - SUMIÇO INTRIGANTE

   Ênio tocou o rosto gélido da mulher sem querer acreditar no que via e se pôs a lamentar, alí estava um corpo que tanto lhe deu prazer. Era Leda, um rosto bonito, cabelos sedosos, porém um semblante que não lhe agradava. Alí repousava em cima de uma pedra, na entrada de uma gruta e recebendo pingos d'água que minavam da rocha, bem próximo de uma floresta onde se aventurara com ela. Mal a conhecia, havia encontrado com ela na cidade e decidiu levá-la para sua cabana, a alguns quilômetros de onde se encontrava no momento. O sol ainda brilhava nessa tarde quando recolhera aquele corpo desfalecido e de curvas acentuadas, algum bicho a picara, não sabia qual, viu apenas quando ela desmaiava e caía na relva com a perna sangrando. Procurou em vão pelo autor do ferimento, resolveu então transportá-la para lugar seguro. Sua respiração era fraca e ele não parava de beijar aquela testa fria de quem não queria se separar.

   A noite não tardou e Ênio não sabia o que fazer, suas pernas cansadas o impediam de seguir a caminhada. Após lavar o ferimento dela notou que o sangue não mais fluía, o que o acalmou sobremaneira, olhou a lua que clareava a gruta através de um espaço entre duas grandes árvores alí em frente e procurou repousar seu corpo ao lado da mulher. Dormiu imediatamente.

   A manhã chegara enfim, ele não viu as horas passarem, o cansaço o fez dormir até o dia seguinte, o sol batia em seu rosto quando despertou e se assustou ao não encontrar Leda, ela sumira. Saiu em busca, procurou durante horas nas redondezas, nenhuma pista da mulher. Já perto do meio dia retornou para sua cabana, estava desolado e um pouco cansado. Abriu a porta e viu a mesa pronta, estava com fome mas sua admiração foi maior, quem haveria de preparar a comida que mais gostava? Examinou detalhadamente, o apetite aumentou, mas preferiu tomar um banho antes. Ao sair do banheiro, a surpresa: Leda o aguardava na mesa. Quase caiu para trás. Refeito do susto tentou entender a situação e ela lhe explicara que não tinha ido com ele. Ênio procurou o ferimento em sua perna, simplesmente não existia, ele também não queria acreditar que tinha saído só, mas as evidências eram claras e se deu por vencido.

   Depois do almoço tirou uma sexta, dormiu profundamente e acordou com uma ventania que escancarou a porta e quase derrubava os objetos em cima de móveis deixando-o assustado. Procurou Leda e não a encontrou, ficou preocupado, olhou em todos os cantos da casa e nada. O vento já amainava e uma vontade de ir até a gruta tomou conta dele, foi exatamente o que fez, sem perda de tempo.

   Pouco tempo depois Ênio chegava na entrada da Gruta e para seu espanto lá estava Leda, na mesma posição sobre a pedra onde ele a tinha colocado. Se achegou rapidamente e tocou seu rosto que permanecia gélido como antes, beijou suavemente sua testa, momento em que seus olhos se abriram. Ênio não conteve a satisfação e abraçou aquele corpo tão desejado, seu semblante de tristeza e preocupação mudou. Olhou o ferimento na perna dela, nada existia alí. Ela perguntou se ele dormira bem e sem nada entender o homem apenas a retirou dali nos braços e caminhou para casa.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 16/03/2019
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