UMA VIAGEM AO FANTÁSTICO MUNDO ALÉM DA VIDA

   Uma enorme porta se abriu lentamente, estava envolta em uma nuvem de fumaça, um enorme salão era visualizado e ela entrou. Estava aturdida, não compreendia aquela situação, não sabia onde estava e nem o que fazia naquele local tão estranho, apesar de pomposo. Adentrou cuidadosamente até atingir o meio do salão, olhou em volta impressionada, janelas enormes e algumas portas se encontravam fechadas, porém deixavam entrar através de vidraças coloridas bastante luminosidade, isso facilitava a sua "vistoria" na tentativa de identificar onde ela se encontrava. No auge dos seus vinte e nove anos jamais havia imaginado passar por um fato dessa magnitude. O silêncio era total, não conseguia ouvir nem os próprios passos, o que a levou a olhar para o chão. O piso era semelhante a uma cerâmica de boa qualidade, tinha uns desenhos incompreensíveis, porém o que lhe chamou a atenção foi estar descalça, onde estaria seus chinelos? Sua roupa! Por que usava essa mais parecida com uma túnica branca? Passou as mãos sobre a vestimenta na altura do peito, nada sentiu, era como se estivesse anestesiada, não sentia o toque em seu próprio corpo. Se inquietou, sentiu um calafrio, queria chorar, gritar, mas não tinha força suficiente, mal conseguia respirar apesar de se sentir confortável quanto a isso.

   A vida nos leva a situações as quais não entendemos, somos pegos de surpresa, lamentamos, passamos por reflexões, mas continuamos a ser o que sempre queremos, em muitos casos não aceitamos conselhos, imaginamos ser donos dos nossos narizes e o que fazemos ou deixamos de fazer é responsabilidade nossa.

   O grande salão a empolgava, essa criatura estava tão extasiada que tinha a impressão de estar flutuando, por um momento viu o chão um pouco abaixo de seus pés, o teto a poucos centímetros de sua cabeça, eram ofuscantes e de cores em tonalidades que fugiam ao seu conhecimento. Uma lembrança se achegou dela, que nem sequer lembrava o seu próprio nome, eram pessoas que a chamavam, que pareciam tristes, que lhe estendiam as mãos. Sua mente teve outro lampejo de lembrança, ela abraçava alguém, mas não conseguia identificar quem, isso a incomodava, fazia esforço para estimular a mente, porém nada mais acontecia além disso. Seu cérebro se recusava a atendê-la, para ela era imprescindível desvendar esse mistério, como poderia estar em um lugar sem nunca ter desejado ir? Como chegou a esse local e por que? São perguntas que não poderia responder para ela mesma e isso a deixava transtornada. Resolveu ir mais além do que o centro daquele imenso salão que mais parecia um cômodo de um castelo, caminhou em busca de uma saída qualquer para descobrir mais alguma coisa, quanto mais andava mais parecia que se distanciava do objetivo a que se propôs, ou seja, encontrar uma saída, saber o que existiria lá fora, encontrar alguém com quem pudesse conversar e lhe explicar o que estava acontecendo. Parou de caminhar, não estava obtendo êxito, poderia se cansar em vão. Se cansar! Êpa! Essa palavra lhe causou um certo espanto, enfim lembrou-se de mais um detalhe dela, apesar de não ter se lembrado ainda do nome. Ela vivia cansada, tinha dificuldade para respirar. Aproveitou para fazer o teste alí mesmo, inspirou, respirou, tudo bem, nada de anormal. Repetiu várias vezes o exercício, tudo beleza, um bom sinal, não precisava se preocupar mais com essa deficiência, ou melhor, ela não existia mais e isso era bom. Sorriu satisfeita, mas depois ficou cabisbaixa, triste, não sabia o seu nome, não lembrava mais nada e não sabia como fôra parar alí.

   Às vezes a vida nos prega peças, nos faz de bobos, porém geralmente nós contribuímos para isso quando fugimos um pouco da realidade, dos nossos compromissos, o dia a dia pode até concorrer para isso, os problemas que enfrentamos, etc. Mas tudo tem um sentido, uma razão de ser, nem todo caminho dar na venda como muitas vezes pensamos, os atalhos nem sempre são recomendáveis, temos que ter o senso de responsabilidade e agir de acordo com o coração e não com a emoção.

   Nossa personagem olhou bem ao redor, continuava no centro do salão, não vislumbrava nada que pudesse fazer para sair daquele marasmo. Intuitivamente tentou se aproximar de alguma porta, tentaria abrí-la, necessitava muito saber algo a respeito da sua "visita" a esse local tão empolgante, tão impressionante e que lhe roubou o raciocínio, deixando-a sem o seu próprio pensamento, afinal não lembrava nada além dos flashs de lembranças que seu cérebro captou, aquelas pessoas tristes estendendo-lhe as mãos e o abraço, pessoas essas que não reconhecia. Isso lhe deixava indignada, pois poderia ser uma pessoa inteligente, poderia ter uma ocupação em vez de estar alí sem nada fazer. E aquelas pessoas as quais se lembrou? Poderiam estar precisando dela, já que lhe davam as mãos como quem quisesse algo. Foi pensando nisso que se viu diante de uma das portas que se abriu para ela. Dessa vez não teve fumaça, apenas um frescor e um aroma indecifrável que lhe penetrou através das narinas. Ela respirou profundamente, se sentiu até reanimada, nada igual vira em toda a sua vida, imaginou estar acordando de um sonho maravilhoso e aquele perfume lhe parecia familiar. Sim, era familiar mesmo! Ela acabou de lembrar que junto a janela do seu quarto existia um jardim e nele as flores exalavam esse mesmo aroma quando ela acordava. Eram flores diversas que cultivava, que tinha o maior carinho. Ah! Como foi bom sentir o perfume das flores que mais gostava! Agora ela já sabia, tinha um quarto, acordava sentindo o perfume de suas flores prediletas, mas... e o seu nome? Sua casa? As pessoas que poderiam existir nela? Não! Isso não lembrava.

   Fugimos inúmeras vezes de quem está do nosso lado, de quem precisa da nossa convivência, fugimos até de nós mesmo quando nos infiltramos num quarto e nos isolamos da realidade, da família. Em outros casos nos "escondemos" dentro de um aparelhinho chamado celular e nele apenas prestamos atenção. Só ele no momento interessa para satisfazer as nossas "necessidades".

   Já tendo ultrapassado a porta que se abrira para ela, nossa personagem pôde caminhar pelo local, um belo jardim quase idêntico ao seu, ele só tinha bem mais flores, muitas borboletas que bailavam sobre elas e inúmeros pássaros que só nesse exato momento ouvia o canto mavioso deles. Ficou maravilhada com aquela "apresentação", tudo indicava que seria para ela. Uma voz distante pronunciou um nome: Margarida! Seus olhos se arregalaram e como num passe de mágica ela lembrou que aquele nome lhe pertencia. Era isso mesmo, seu nome era Margarida e no seu jardim tinham flores com esse nome. Agora já sabemos que a nossa personagem se chama Margarida. Ela sorriu satisfeita, gargalhou mesmo, mas em seguida se entristeceu, queria saber por que estava ali, distante do seu quarto, das suas flores e com certeza de pessoas que deveriam gostar dela.

   Todos nós temos família, temos pessoas que nos cercam e nos dão amor e carinho. É com elas que seguimos em frente, que vislumbramos o nosso futuro, que nos divertimos, é com elas que passamos os bons momentos da vida e aturamos os problemas que geralmente surgem. Essas pessoas que formam a nossa família são de fundamental importância para nós.

   Margarida percebeu que estava em algum lugar do mundo, só não sabia onde, tinha um céu, árvores, montanhas, tinha tudo que ela conhecia no seu mundo, mas não conseguia entender porque estava ali. Aproximou-se de uma flor de sua preferência e a cheirou, sentindo o seu perfume, foi nesse momento que sentiu uma vertigem e viu que iria desmaiar. Caiu suavemente sobre a relva e nada mais viu. Acordou em um leito de hospital ao lado da família, ela tinha sido vítima de um acidente de carro que ficou pendurado em uma ribanceira quando voltava da faculdade com quatro amigas. Essas conseguiram sair do automóvel após o choque com um animal na pista. Margarida ficou presa ao cinto no volante enquanto as amigas tentavam puxá-la de dentro do veículo até conseguirem, uma delas abraçou-a chorando, momento em que ela perdeu os sentidos devido a pancada que recebera na cabeça.

  

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 13/03/2019
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