O DIÁRIO DE ANTONIETA

   O pipocar de fogos de artifício anunciava algo importante na pequena cidade de Goiana, interior de Pernambuco, João Guilherme cumpria o que prometera a sua esposa Damiana, quando nascesse o próximo filho ou filha, mostraria para todos a sua alegria. Um homem de seus quarenta e oito anos casado com uma mulher de quarenta alimentava essa esperança e ela chegou. Nasceu Maria Antonieta, a criança que terá os mimos de um pai que andava descontente com os dois filhos homens, completamente fora dos padrões a que foram submetidos, causadores de desgosto para um homem de fibra que possuía uma fazenda e obtinha a maior parte dos rendimentos financeiros com o plantio da cana-de-açucar. Fazia o gosto dos filhos e eles, agora com 19 e 20 anos, nada queriam com a vida, apenas esnobarem e aproveitarem a vida mansa dada pelo papai. João Guilherme era uma pessoa sensível e não gostava de problemas, mesmo que isso afetasse a sua própria reputação. Esse grande dia foi 20 de julho de 1949 e a partir daí ele começou a escrever sobre todos os passos da filha.

   Vinte anos se passaram, Antonieta desfrutou de uma vida nababesca para desconforto de seus irmãos, eles agora com quase quarenta anos, o pai já beirava os setenta mas tinha uma saúde de ferro. Seus irmãos, já casados e com filhos resolveram morar na Europa e para lá se mudaram, ficando a moça com os pais. Ela agora escrevia tudo sobre sua vida no seu diário, o pai lhe passara essa responsabilidade.

   João Guilherme adoeceu numa noite chuvosa de inverno, Antonieta já estava com 22 anos, viu seu pai ser encaminhado para um hospital no Recife, de onde nunca mais voltou. A mãe, um pouco debilitada com o ocorrido, viu o marido ser enterrado e não resistindo também foi acometida de mal súbito indo a óbito. Maria Antonieta agora estava sozinha, os irmãos, que voltaram da Europa, praticamente não a aceitavam e ela foi expulsa de casa, eles agora dominavam a situação, tudo estava sendo escrito em seu diário. Ela foi morar com uma velha tia em João Pessoa que a acatou.

   Sem muitos recursos para continuar sobrevivendo acabou por se interessar por um senhor de seus sessenta anos, ela com quase 30, enquanto seus irmãos assumiram o controle dos negócios deixados pelo pai. Orientada por pessoas de onde morava resolveu acionar a justiça e em pouco tempo teve sua parte dos bens recuperada a muito custo. Tudo foi documentado no seu diário, nada acontecia que ela não fizesse constar nele. Iniciou um curso de enfermagem, já que tinha dinheiro suficiente, deixou o tempo passar e pouco via os irmãos ingratos.

   Certo dia, folheando uns escritos antigos feitos por seu falecido pai, Antonieta viu uma informação bastante interessante, ele havia guardado em terras da fazenda um baú que fôra enterrado por trás de uma cocheira e nele continha inúmeras jóias de grande valor, um segredo que só ele sabia e que ela sem querer descobrira. Conseguiu chegar lá às escondidas dos irmãos e subornando um caseiro. Com ajuda de um conhecido de confiança cavou no local indicado e lá estava o bendito baú abarrotado de jóias. Levou-o cuidadosamente para casa e tratou de transformá-lo em dinheiro vivo.

Os irmãos de Antonieta começaram a amargar alguns prejuízos, não dispensavam o luxo e a ostentação, o que os colocava perigosamente no vermelho, enquanto a irmã, de quem não gostavam, assumia uma posição privilegiada no meio médico, depois que formou-se em enfermagem e assumiu um alto posto em um hospital na capital paraibana.

Mais alguns anos transcorreram, Antonieta mandou confeccionar um livro que a deixou bastante conhecida no meio literário, toda a história de sua família foi contada nele. Era o ano do lançamento de uma edição que a fez ganhar muito dinheiro, 2010, ela já estava com seus 60 anos bem vividos, seus dois irmãos viviam praticamente na miséria depois de venderem os bens que possuíam e torrarem o dinheiro com farras e viagens desnecessárias. Eles com 79 e 80 anos, viúvos, moravam em um asilo sustentados por Antonieta. O final do livro dela dar ênfase a essa triste página da história da família.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 07/03/2019
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