SEM ÂNIMO PARA VIVER

   O sol castigava aquele pedaço de terra onde Afrânio costumava roçar todos os dias, alí ele plantava de tudo, macaxeira, inhame, batata, hortaliças e algumas frutas, tinha seu próprio alimento sem precisar gastar muito. O terreno fôra herança de seus falecidos pais, a pequena casa acolhia bem ele e a esposa Elza, aquela que amava perdidamente. Era uma mulher de certo gênio, dominadora, porém um pouco desligada das atividades domésticas, preferia sair alegando comprar alguma coisa na cidade ou visitar uma amiga. Afrânio adorava essa mulher, era Deus no céu e ela na terra, fazia todos os seus gostos. Não tinham filhos, o que facilitava a vida de Elza em suas andanças. O marido ficava meio cabreiro, desconfiado às vezes, mas preferia confiar na mulher que era o amor da sua vida.

   Certa manhã Elza avisou que precisava sair, o marido queria até que ela o ajudasse nesse dia, precisava dela na colheita para depois fazer uma entrega na cidade, ela fez cara de dengo e abraçou ele, deu um beijo na testa e saiu apressadamente. Afrânio nada falou, aceitou com um sorriso meio sem graça, afinal não queria desapontá-la.

   Terminado o seu trabalho, como muitas vezes fazia, dirigiu-se a cidade na velha caminhoneta levando os produtos para venda. Em lá chegando notou alguns olhares curiosos para ele, algumas pessoas riam, pois o conheciam bastante. Ficou chateado com aquela situação e já imaginava o que poderia estar acontecendo. Depois de fazer a entrega e receber a quantia devida, Afrânio saiu sem rumo e acabou parando em um bar onde tomou uma cerveja. Defronte ficava um motel e qual não foi a sua surpresa ao ver a esposa saindo dele acompanhada de um sujeito que ele bem conhecia, Tonho do armazém. Seu coração palpitou, achou que poderia estar sonhando e deixou cair duas lágrimas de decepção. Viu quando Elza e o amante se cobriram na esquina dessa cidadezinha do interior. Deu um tempo, tomou o resto da cerveja e partiu para casa. Na caminhoneta ainda chorou um pouco e ao chegar em casa não a encontrou.

   Passaram-se alguns dias desde que Afrânio flagrou a mulher saindo de um motel, brigaram naquele dia quando ela chegou em casa, oportunidade em que ela negou o fato, mas diante da afirmativa dele acabou cedendo e confirmando a sua fraqueza, que gostava dele e blá blá blá, terminando por ele aceitar aquela situação e esquecer o que passou, afinal amava muito a esposa e não queria perdê-la de forma alguma. O grande problema é que Elza não se consertou, continuou traindo o marido com Tonho do armazém e segundo comentários tinha mais alguém na parada, o que deixou nosso personagem bastante chateado.

   Numa bela manhã, depois de mais uma discussão, Afrânio saiu para a roça sem ao menos tomar o seu café, a mulher estava convicta de que estava abafando e poderia dominar o marido fazendo o que bem entendesse da sua vida. O pobre homem iniciou sua tarefa no seu terreno sempre olhando para aquela casa que era o seu lar, seu patrimônio, estava sem ânimo e aquela situação não poderia permanecer da maneira como estava. Amava aquela mulher, sabia que não poderia viver sem ela, no entanto assim não poderia ficar. Sua cabeça martelava, pensava em resolver aquela situação definitivamente, não via outra opção. Estava determinado, jogou a enxada no chão e partiu para casa, sentia fome, mas isso não era problema, seu desejo era outro. Entrou em casa tranquilamente, sorriu para Elza, sua esposa querida e lhe beijou a face com delicadeza. Ela estranhou e lhe ofereceu um sorriso sarcástico. Afrânio adentrou o quarto e pegou uma espingarda de caça que possuía, após engatilhar saiu do aposento e mirou em Elza. Ela estava de costas em frente ao fogão preparando o almoço. Tensionava sair para mais um encontro já do conhecimento do pessoal da cidade. Um tiro foi disparado e a cabeça da esposa foi atingida e espalhou sangue por cima da comida e pela parede. Seu corpo caiu pesadamente ao chão e o miserável homem traído chorou convulsivamente sobre ela. Em seguida apontou a arma para si próprio e um segundo disparo foi feito. Dois corpos jaziam agora, um por cima do outro.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 25/02/2019
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