CONFISSÕES DE UM LOUCO
A janela aberta deixou entrar os primeiros raios de sol de uma manhã como tantas outras paraTed, ele sempre deixava aberta nas noites quentes para aliviar o calor naquele cômodo no primeiro andar de um prédio antigo e sem pintura, um pouco esquecido pelo seu proprietário que lhe alugara há cerca de dois anos. Alí morava por iniciativa de seu pai, um próspero comerciante da região no interior de São Paulo, para adaptá-lo a uma vida mais sensata, mais responsável. Trabalhava numa pequena loja de antiguidades, seu dono era muito amigo de seu pai e se propôs a ajudá-lo nesse sentido, já que encontrava muita dificuldade em mantê-lo na área rural, sem querer estudar e muitas horas passando trancado no quarto quando não estava perambulando pelas redondezas. Teria assim uma ocupação e um dinheiro para se manter, sem precisar pagar o aluguel da moradia.
Levantou-se e fez o asseio matinal, em seguida dirigiu-se ao bar em frente onde tomou o café da manhã, assim fazia regularmente, indo depois para a loja onde trabalhava sem ligar muito para o horário, coisa que seu patrão não se preocupava muito em respeito ao amigo que lhe recomendara. Nesse dia pediu para largar mais cedo e foi direto para o seu quarto, lá manuseou alguns cadernos onde escrevia tudo sobre sua vida, guardava-os a sete chaves dentro de um baú fechado com duas chaves, um segredo que só ele sabia.
Ted saiu assim que manuseou alguns escritos, nem tomou banho, ganhou a rua com um ar de dominador, estava em busca de algo que o seu cérebro malicioso ordenava. Se pôs a caminhar sem rumo determinado, adentrou uma viela, casas humildes, pouca gente na rua, a noite chegando e já bem no final daquela área uma moça lhe chamou a atenção, ela estava diante de um mercadinho já fechado, falava ao celular. Movido por um desejo mórbido Ted a agarrou e entrou por um beco ao lado do mercadinho, tapou-lhe a boca para não gritar e mostrou-lhe um punhal, o que fez a assustada garota ficar quieta. Adentrou um matagal e estrupou-a, fez tudo que gostava com ela, isso num espaço de tempo em torno de vinte minutos. A jovem completamente despida foi alí deixada após o ato libidinoso e Ted voltou rapidamente para o prédio, tomando um banho e indo consultar os cadernos de anotações no baú. Começou a escrever o que acabara de acontecer, iniciando em seguida a ler em voz alta o que alí constava de mais novo.
Agora vocês conhecem o perfil desse rapaz de 36 anos, que vive só por não se adaptar ao convívio com os pais, que nada sabem do seu procedimento, sabem apenas que é um filho complicado, que enfrentou problemas na adolescência, que sofreu bulling na escola e até foi violentado por um sujeito que trabalhava lá, o que causou a sua demissão e a saída do rapaz do estabelecimento de ensino. Daí em diante Ted não mais quiz estudar, passava o tempo trancado no quarto e até passou um certo período internado por recomendação médica, mas deixou o hospital psiquiátrico para ficar em casa mesmo, aos cuidados da mãe, até que atingindo uma certa idade pediu para morar só.
Ted pegou um dos cadernos, viu uma anotação interessante, riu como um demente, ele tinha ainda 22 anos, estava em uma festinha de aniversário a convite de um amigo, não conhecia ninguém alí, bebera um pouco, viu quando uma garota se dirigiu ao jardim sozinha, seguiu ela, a moça sentou-se numa pedra junto a umas plantas, fugia das vistas das pessoas, abordou-a, ela estava tonta, havia bebido, ele aproveitou e agarrou-a, ela não reagiu, ali mesmo ele a estuprou. Passaram-se apenas quinze ou vinte minutos, depois do ato ele deixou-a na grama e voltou para a festa, demorando pouco e saindo fora, não queria complicações. Em outra anotação ele vibrou como se estivesse vivendo aquele exato momento quando estuprou uma jovem deficiente mental, muito bonita e de um belo corpo. Ela morava nas proximidades de sua casa, os pais haviam saído repentinamente para voltarem logo, foi o tempo suficiente para ele agir irresponsavelmente. Sua vítima não ofereceu reação e ele deixou o local rapidamente depois de ter pulado uma janela por onde entrou e saiu.
A campainha tocou, Ted sobressaltou-se, ninguém o procurava no prédio, nem seu pai. Apenas uma única vez ele esteve alí quando precisou trazer uns móveis para o filho. Foi atender, abriu a porta, era seu pai acompanhado de dois homens que ele não conhecia. Ted gelou, tinha a mente confusa, mas em certos momentos agia como uma pessoa normal. O pai entrou e os homens o seguiram, queriam falar com ele. Por essa ele não esperava, perguntas foram feitas e ele titubeou ao responder, o baú ali aberto (não deu tempo dele fechar) estava a vista dos presentes e despertou atenção. Os homens eram policiais e seguiram uma pista depois de seu último estupro. O quarto foi revistado e as anotações dos cadernos apreendidas, Ted não tinha como negar o crime cometido e as anotações serviram de prova para a elucidação de outros crimes cometidos.
Preso, Ted não teve a mínima condição de defesa, todos os crimes de estupro estavam alí catalogados por ele próprio.