ALUCINAÇÕES DE UM MORDOMO

Parte 1

O velho relógio de parede deu doze badaladas, na sala enorme e com móveis rústicos o velho mordomo pareceu assustar-se com a quebra do silêncio que ali reinava. Era exatamente meia noite, momento em que a porta que dava acesso àquele cômodo se abriu repentinamente, porém ninguém entrou. O velho olhou ao redor como se procurasse uma explicação para esse fato, sentiu o que nunca havia sentido antes naquele ambiente: medo.

Parte 2

Nícolas, esse velho mordomo agora medroso, sentado em um confortável sofá, criou coragem e levantou-se bem calmo, o que impressionou a si próprio, entendeu que nada deveria temer, afinal era um homem religioso e não dava crédito a coisas sobrenaturais. Foi até a porta cientificar-se do que teria acontecido. Sentia um pouco de receio, mas isso é natural em qualquer pessoa, tinha no pensamento a determinação de não deixar se abalar. Nada de anormal no corredor que dava acesso a porta da sala, caminhou até a outra sala que se encontrava às escuras e acendeu as luzes. Tudo no lugar, janelas fechadas, móveis em ordem e um silêncio sepulcral. Respirou aliviado observando todos os detalhes, inclusive o retrato do patrão na parede, um homem de fibra e caráter, falecido recentemente vítima de infarto. Levantou uma das mãos e respeitosamente afagou a imagem colorida do mesmo. Nesse instante a campainha da antiga mansão tocou e um sobressalto tomou conta de Nícolas.

Parte 3

O velho mordomo teve um arrepio, sentiu o sangue gelar, hesitando em se aproximar da porta principal da mansão devido a hora avançada. Aos poucos foi se acalmando e teve dúvida se realmente a campainha tocou, afinal estava tenso e sua audição poderia muito bem ter recebido uma falsa mensagem do cérebro. Olhou o relógio de pulso coçando a cabeça, já era mais de uma hora da madrugada, como poderia ter passado tanto tempo desde as badaladas da outra sala? Estaria delirando? Não ousou abrir a porta e seu instinto recomendou que voltasse aos seus aposentos e tentasse dormir. Foi o que fez, mas a porta estava trancada e Nícolas tinha certeza que tinha deixado aberta. Procurou nos bolsos a chave e não encontrou. Ouviu passos no corredor e seu corpo tremeu.

Parte 4

O barulho dos passos cessaram e Nícolas suspirou aliviado por não vislumbrar ninguém por perto. Instintivamente pôs a mão na maçaneta da porta do seu quarto e conseguiu abri-la. Entrou e deu um profundo suspiro cuidando de fechar a mesma, percebendo que a chave estava no lugar, na parte de dentro. Sentou-se na cama e deixou o corpo cair pesadamente sobre ela. Mais uma vez consultou o relógio e admirou-se com a hora: quatro da manhã. Como as horas passaram rápido, pensou. Umas batidas na porta fizeram o mordomo entrar em pânico.

Epílogo

Mesmo tomado pelo pânico, suando frio, Nícolas permaneceu deitado, não ousou levantar-se e ir até a porta que tinha certeza de haver trancado com segurança. As batidas aumentaram e o mordomo continuou na cama fazendo todo esforço para manter a calma. Sabia que naquela imensa mansão só existiam mais quatro pessoas além dele, ou seja, a viúva e agora única patroa, a filha e duas empregadas. Tinha que ser alguma delas que insistia em bater na porta. Pensou em atender, mas uma voz masculina o fez voltar atrás e não atender. A voz pedia para que ele abrisse de imediato e ameaçava derrubar a porta. Nícolas tremia igual vara verde e seu temor se concretizou: a porta veio abaixo e uma figura demoníaca ele vislumbrou. Gritou como um louco até perceber que estava no chão, havia caído da cama e acalmou-se quando viu as duas empregadas a socorrê-lo, que com chave extra tinham aberto a porta depois de ouvirem seus gritos. Já era manhã e Nícolas tivera um pesadelo que chamou a atenção dos demais residentes da mansão.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 13/12/2018
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