A VOZ E A FORÇA ESTRANHA

Parte 1

Os meus olhos lacrimejantes apenas vislumbravam um céu acinzentado, com poucas nuvens, algumas escuras, me dando a certeza de que eu não estava ali por querer, não era esse o mundo que eu me acostumara a apreciar pela sua beleza natural, pelo seu céu azul e de branquíssimas nuvens. Queria chorar, extravazar meus sentimentos, mas não conseguia, apenas tentava conter as lágrimas, o que de certa forma me aliviava um pouco. Ao meu redor uma sombra aparentemente fresca, alguns sons que não conseguia destinguir a origem, talvez zumbidos a me importunarem a alma entregue ao desespero. Dor alguma eu sentia, somente um cansaço inexplicável como se tivesse feito algum trabalho pesado, apesar de me ver sentado em uma relva, com algumas folhas embranquiçadas e secas, talvez pelo efeito do calor do sol. Do sol? Mas cadê ele que não o vejo desde que ali cheguei? Nem me lembro do tempo que nesse local passei, não sei que horas são e o que ali fazia! Gostaria muito de entender essa situação em que me encontrava, não fazia sentido eu ali permanecer sem que me fosse explicado algo. Horas de reflexão, de uma agonia que abalava o coração, com batimentos normais, pelo menos isso. Tudo era calmo ali, nenhum pé de pessoa, um silêncio absoluto, exceto esse som ou zumbido, sei lá!

Procurei me levantar depois de muito imaginar sobre o que teria me levado a esse ponto, foi quando uma voz me despertou daquele estado de algum tipo de demência. Me chamava pelo nome e eu procurei em vão saber de quem se tratava.

Parte 2

Repentinamente me veio à lembrança momentos que me deixavam feliz, sorri por esse motivo, me sentia tal qual uma criança a saltitar depois de ganhar um presente, eu não cabia em mim, me sentia como se nenhum problema me afligisse por mais cruel que fosse, alguma coisa havia transformado o meu descontrole emocional. A voz, então, me chamava, era como se um eco inundasse aquele ambiente nada agradável, desconhecido, mas eu me sentia confortável assim mesmo, uma força estranha me conduzia prazeirosamente, nem me preocupava mais com a voz que insistia em me chamar, eu não mais queria ouví-la por estar envolvido em um transe que me deixou alegre, confiante, um tanto abestalhado.

Percebi que não mais me encontrava naquele local, era um outro mais agradável, refrescante, com um sol que brilhava sem me ofuscar. Ah! O sol, enfim ele surgiu e me presenteou com seus raios! Como me alegrei com essa visita inesperada, tão desejada! Me confortou a alma, até me fez esquecer o que fazia ali, fora do meu mundo natural, repleto de pessoas. Não poupei esforços, comecei a caminhar por esse novo local, não me sentia mais cansado, meu corpo reagia naturalmente, via aquele céu azul a me contemplar com belíssimas nuvens brancas, pássaros voando majestosamente em vôos mirabolantes como a me saudar com suas acrobacias. Decididamente eu sentia o desejo de ali permanecer, a minha alma exigia, eu não podia desapontá-la, afinal minha alegria era extasiante.

A voz voltou a me chamar, pensei em atendê-la, mas a força estranha que me conduzia era mais forte que o meu desejo de lhe dar atenção. Fiquei como um autômato, em delírio permanente, sob o sol agradável, olhando o azul do céu, vendo-o bem próximo a mim, me dando a impressão que podia tocá-lo. A voz enfim se calou e eu pude me sentir calmo e sereno, sentindo meus olhos querendo fechar para um sono gratificante e foi isso que aconteceu.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 06/12/2018
Reeditado em 06/12/2018
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