Massagem

A moça abriu a porta de vidro na qual estava escrito "RECEPÇÃO" em letras vermelhas e viu-se frente a uma mesa, também de vidro, atrás da qual estava sentada uma loura muito bonita, de cerca de 30 anos, vestindo um imaculado tailleur branco. Branco, aliás, era o tom preponderante no ambiente: paredes e teto, carpete. Tudo muito asséptico e frio. A recepcionista ergueu-se e aproximou-se dela, mão estendida.

- Olá! Débora, não? Eu sou Sandra!

Débora estendeu a mão e recebeu um aperto seco e firme.

- Sou eu. Recebi o e-mail de vocês...

- Sim, nós só trabalhamos com e-mail. Nada de WhatsApp ou Messenger.

E indicando que se sentasse ao lado da mesa da recepção, numa cadeira sinuosa aparentemente feita de alumínio cromado e polietileno:

- Não era o que estava pensando, não é?

- Não é não. Isso aqui parece... um laboratório.

Sandra deu-lhe um sorriso de dentes brancos e perfeitamente regulares.

- Mas, se você for aprovada, a nossa oferta é válida: R$ 200,00 por hora de massagem.

- É um bom dinheiro... - hesitou Débora. - Mas que tipo de cliente vocês têm aqui?

- Não temos clientes - o sorriso de Sandra ampliou-se. - Vamos lhe pagar para receber massagem.

- Receber massagem... de quem?

Sandra apoiou os cotovelos na mesa de vidro e entrelaçou as mãos.

- Somos uma empresa de tecnologia... não posso revelar nosso nome oficial, já que este projeto é secreto... mas estamos trabalhando com um novo conceito que irá revolucionar o mercado. Você já viu uma cadeira massageadora?

Foi a vez de Débora sorrir.

- Ah, bem que eu achei que havia algum engano... eu não faço esse tipo de massagem!

- Calma! - Atalhou Sandra. - Sabemos que não faz massagem terapêutica, embora seja o que está no seu perfil naquele site de acompanhantes. A experiência de garotas do seu tipo é exatamente o que queremos agregar ao nosso produto.

- Uma cadeira de massagem com... a experiência de uma garota de programa? Como funciona isso?

- Ficou curiosa, hein? - Riu Sandra. - Mas, para saber mais, terá que assinar um contrato de confidencialidade conosco. Não poderá revelar nada do que se passar aqui dentro sem autorização expressa nossa, ou será processada. E nós temos ótimos advogados.

Débora pensou: 200 reais por hora para receber massagens em um modelo qualquer de cadeira? Era mais do que ela ganhava em determinados dias... e tendo que aturar clientes nojentos.

- Onde eu assino? - Indagou.

* * *

A sala de testes parecia-se ainda mais com um laboratório, porque, na verdade, era um. E a cadeira não era uma cadeira: lembrava uma câmera de bronzeamento artificial, embora o interior fosse revestido de uma espécie de espuma de borracha preta e macia. Lhe foi dito para tirar suas roupas e se deitar na câmara, cuja tampa fechou-se automaticamente sobre ela em seguida. Embora não sofresse de claustrofobia, Débora sentiu-se um tanto intimidada pelo fato de estar confinada naquela espécie de sarcófago de múmia. Mas, o compartimento era bem ventilado, e uma música suave começou a tocar nas laterais da sua cabeça. Em seguida, o revestimento acolchoado começou a vibrar, de um modo delicado, parecendo que estava se ajustando aos contornos do seu corpo. Débora foi relaxando, e após poucos minutos, caiu no sono. E sonhou.

Havia um lugar com túneis escavados na rocha, e cavernas, que iam descendo e descendo. E depois, havia um lago azul no meio de uma caverna, rodeado de areias muito brancas. A luz do sol entrava ao meio-dia por uma fenda na rocha, que subia por centenas de metros até a superfície. E as pessoas, segurando archotes, desciam até o lago através dos túneis e cavernas, e aguardavam até que a luz do sol tocasse as águas. E então, se despiam, e deitavam-se na praia circular. E a areia, parecendo dotada de vontade própria, os cobria da mesma forma que a câmera de relaxamento havia feito com ela. E seus corpos eram massageados. E eles adormeciam.

Na sala de controle, Sandra virou-se para a técnica responsável pelo equipamento e comentou:

- Se as pessoas soubessem que essa câmera de privação sensorial nos permite explorar o futuro... creio que nos pagariam para poder usá-la!

A técnica ajeitou os óculos.

- Talvez não, se lhes contássemos que não poderão ver os números da loteria na semana que vem... só o futuro muito, muito remoto. E que nem sempre faz qualquer sentido.

- Uma caverna com um lago no fundo... e versões em areia do que parece ser a nossa própria câmara de isolamento - ponderou Sandra.

- Qum sabe, no futuro remoto... os tanques de privação sensorial sejam esses montes de areia?

- E o que será que eles estão explorando? - Questionou Sandra.

* * *

Abriu os olhos dentro da câmara escura. Sentia-se relaxada, mas estranha. A tampa abriu-se automaticamente e ela sentou-se, apoiando-se nas laterais. Olhou ao redor.

Que lugar era aquele?

Onde estava a caverna?

[29-11-2017]