Bolo Fake
Fui a uma festa de aniversário de gente que não guardo intimidades e, logo na chegada, percebi que o meu convite era fake. Mas aí rolou, porque os seguranças também eram fake. Lá dentro, aquele enorme e maravilhoso bolo em cima da mesa me chamou a atenção. Então, pensei: é fake!
Fui ficando por ali, pois a minha presença como convidado era apenas protocolar, quer dizer... fake — sou um humilde caçador de talentos e estava em uma festa de recentes celebridades.
Lá pras tantas, depois de ter bebido sozinho uma garrafa de Romanée-Conti, ouvi a responsável pelo buffet dizer a um dos garçons que havia comprado seis caixas daquela suposta preciosidade a preço de ocasião. Ao ouvir tal heresia, imediatamente, tive uma estranha sensação, a de estar boiando em um universo paralelo e gelatinoso onde não havia nada em que eu pudesse me apoiar; quanto mais eu tentava ficar de pé, escorregava como manteiga fake na chapa quente. Nesse caso, permaneci sentado por algum tempo e cochilei debruçado em uma mesa.
De repente, acordei com um som bastante ensurdecedor que ecoou nos meus ouvidos — mas que logo percebi não ser nada de mais — apenas uma nova musiquinha de uma daquelas recentes celebridades. Fui pra pista e aí, então, é que fiquei solto. Muito solto por sinal. Solto demais... soltíssimo!
Eu já bailava entre as notas musicais quando, perdendo o equilíbrio, fiz como fazem os verdadeiros artistas na Calçada da Fama em Hollywood — afundei as duas mãos bem abertas sobre algo frio e mucilaginoso que estava à minha frente, vomitando em seguida todo o Romanée Conti bebido. Detalhe: o bolo não era fake.