Um estranho sonho
Nina acordou. Abriu os olhos e ficou sobressaltada. Ela estava numa casa estranha e pior, deitada em uma cama que não era a sua. Sem compreender o que estava acontecendo, apavorou-se. Ela não entendia como chegara até ali, se na noite anterior, havia dormido ao lado do marido. Não sentia as pernas, não podia mover os dedos dos pés que perderam sua força, mas estranhamente, aquelas partes do corpo estavam brancas como leite. Ela queria sair daquela cama, mas não podia, seu corpo parecia uma estátua pregada nela. Tentou, desesperadamente, se mexer, mas foi inútil.
Súbito, um cheiro de chocolate no ar. E então, percebeu que estava se transformando em chocolate branco. Embora, forças misteriosas estivessem agindo nele, seu corpo não perdia a forma e continuava do mesmo jeito, seu cérebro ainda mantinha a lucidez. E afinal, não havia perdido as pernas. Elas continuavam lá, só que agora eram de chocolate branco e estavam paralisadas. A transformação era inevitável, pensou.
Não era fácil se conformar com aquela situação, principalmente porque não podia se mexer. Se tentasse qualquer movimento, poderia quebrar-se toda, pois, a maior parte de seu corpo tinha virado chocolate. Isto foi o suficiente para deixá-la em pânico. Assustou-se mais ainda, ao descobrir que a transição para chocolate progredia. O fenômeno ia se alastrando e boa parte dela se tornou chocolate: as pernas, o tronco e os braços, e já se aproximava do pescoço, logo seria numa boneca de chocolate, e comida fácil para as formigas que que logo chegariam.
O medo foi aumentando, e ela se sentindo cada vez mais frágil e menos corajosa. Embora, não pudesse se mover, reparou que seu corpo experimentava certo prazer em ser chocolate e se deixava levar pelo cheiro que exalava do próprio corpo. Mas já estava farta de sua condi-ção e da solidão que sentia.
De repente, as coisas mudaram. Sentiu que um forte calor começou a envolver seus pés, e percebeu que eles estavam se derretendo como manteiga ao fogo. Ao notar que era o sol que invadia sua cama, apavorou-se. Imediatamente, intuiu o que iria acontecer:Seria em pouco tempo, uma massa disforme de chocolate derretido.
Quando teve certeza de que não conseguiria sair dali sem a ajuda de alguém, pediu, sem saber a quem, que a ajudasse. Mas, ela não sabia que o que pedia era inútil, pois estava num sonho e seu pedido foi sufo-cado pelo silêncio e se extinguiu completamente no ar. Era tarde de-mais, sentia o calor do sol derretendo seus pés e ameaçando suas pernas. Contudo, ela não se entregou: gritou num concentrado esforço para acabar de vez, com sua estadia naquele mundo estranho. Nunca havia gritado tão alto assim na vida.
E então, sentiu uma mão tocar seu ombro, e ao mesmo tempo ouviu seu nome. Reconheceu a voz. Sorriu. Estava salva pelo marido que a seu lado, vendo sua aflição, a acordou com algumas sacudidelas. Ela tateou com a mão as pernas até tocar seus pés, examinou-os para ter a certeza de que estavam intactos. Sentiu-se aliviada. Depois, alegrou-se por estar acordada e ver que tudo ao seu redor fazia parte de seu mundo real. Ela, portanto, sonhara.