Guerreira.
Esta história não começa com bebes roubados de maternidade ou em séculos passados. Não começa em guerras contra reis ou ditaduras.
Começa no meio das lavouras do parana, em meados dos anos sessenta, quando uma quase índia dava luz a uma criaturinha que viria a ser não só uma mãe exemplar, como uma guerreira em seu tempo.
Passou uma infância sem estudo, praticamente. Cabo de enxada era o amigo que matava a fome. Mas não que não tenha comido muito feijão carunchado nos tempos difíceis...
Carpia terreno pra comprar vestido de festa, ir ao bailinho.Esquecer as durezas da geada. Mas a felicidade é coisa própria dela, isso nunca tirou suas forças. Esta de pé, até hoje, afinal!
Casou-se aos 20 e poucos e teve dois filhos. Passou dificuldades enormes, até por oferta de compra de um dos filhos teve que passar. É mole?Viu um dos pequenos morar em condição tão precária a ponto de pegar doença de bicho;morando num lugarzinho imundo, sem perspectiva de mudança ou melhora.
Deu seu basta. Seu CHEGA!Saiu dali em busca de seu espaço.Levantou paredes, e , ah, ja ia me esquecendo, ai já tinha mais uma filhinha (esta hoje com 19 anos, metida a escritora online.)
Trabalhou em posto de saúde, muitos anos, diga-se.Até festas de aniversário pro filho foram feitas nos postinhos.
Passou por reformas políticas, muitas passeatas, sempre acreditando na mudança, lutando por seus ideais.
Voltou pra escola para terminar o colégio. Afinal, nunca gostou de estar parada vendo a vida passar diante de si.
Ficou desempregada um tempo, até que entrou como auxiliar de serviços gerais, terceirizada, em um condomínio do grande abc.De lá, passou pra outro condomínio, só que agora como porteira!
Devido a seu estilo sempre guerreiro, ingressou na faculdade de administração ao 45/46 anos.Foi depositada nela uma confiança gigante quando foi indicada para um cargo na área que estuda na rede pública de saúde. Olha só pra onde voltamos , hein?
Agora, no ultimo ano de faculdade, mais uma luta pra essa grande guerreira enfrentar: 48 anos, trabalhando como louca, ultimo ano de faculdade. GRA-VI-DA!
Mais um passo grande, que pra ela não vai ser um desafio tão enorme. Já venceu a fome,empregos que eram horriveis,falta deles, os desafios de ser mãe de dois filhos e encarar suas infâncias, aborrecências e pseudo-adultidades,começar uma faculdade depois de tantos aos sem estudos.....
Essa criança que vem vai ter o privilégio de ser filha da maior guerreira de todas: minha mãe.