ESCATOLOGIA FREUDIANA

Sentou-se na cadeira automática e afivelou o cinto para ter segurança.

Colocou o óculos blindado e ativou o sensor da cadeira, assumindo a posição de decúbito. A mão direita moveu o manche,provocando um discreto declínio. Apertou um botão acima de sua cabeça, e uma espécie de capacete de aço desceu do teto em direção à sua cabeça,adaptando-se ao formato do seu crânio. Um segundo botão no próprio capacete foi acionado e um dispositivo penetrou na região subcutânea do seu couro cabeludo,ativando um chip de memória implantado há seis meses no córtex cerebral. Esboçou uma careta de dor e sentiu um feixe elétrico percorrendo seus circuitos,estimulando as sinapses entre seus neurônios até atingir o ponto chave do implante,situado na sede da sua memória,o giro do Cíngulo.

Tremores percorreram todo o seu corpo e finalmente,um sensor na cadeira,ativado pelas contrações musculares,disparou uma pistola injetora. Um líquido amarelado começou a fluir pelas suas veias e ele finalmente adormeceu num transe profundo.

Estava nos corredores de um hospital. Circulava entre médicos,enfermeiros e pacientes. Procurava aflito por um lugar onde pudesse esvaziar sua bexiga e intestinos. Os banheiros estavam todos ocupados. Tentou um reservado na sala de espera,mas os banheiros não tinham portas e teria que expor as pessoas ao odor fétido de seus excrementos. Tentou o banheiro da lanchonete. Os sanitários estavam todos entupidos,com fezes bonhando nos vasos transbordados. Suas cólicas aumentavam a um nível insuportável quando então recobrou os sentidos. O capacete foi recolhido e a cadeira foi retomando a sua posição inicial.Retirou os óculos e a claridade ofuscou-lhe os olhos. Desafivelou o cinto,levantou-se e dirigiu-se a uma sala ao lado do laboratório. Não se lembrava dos detalhes do sonho, mas havia uma situação que repetia-se com frequência e precisava saber porque. Ligou a aparelhagem digital e reproduziu as imagens captadas pela memória do chip implantado. Imediatamente, o cheiro da merda penetrou-lhe pelas narinas lembrando-lhe de muitos mal feitos que sua mente fazia questão de manter escondidos no recanto mais profundo do seu subconsciente...