CATARSE
Bomba no meu peito um coração em fúria. Tamanhas são as duvidas, que sem piedade, chegam e destroem a minha sanidade. Sinceramente não sei o que faço. Se eu confio no certo, desprezando o errado. Se me entrego ao errado sem me importar com o certo, deixando a cargo de minha dorida consciência.
Percebo que deuses e demônios, estão duelando numa só cabeça. A minha tão somente. O que por sinal, vem destroçando os neurônios. Nessa pugna, sinto aumentar essa tortura sem fim aqui dentro do meu ser, que nem um pouco vigilante, inventou vários personagens dantescos. O medo traumático, o terror do imaginário. A chuva torrencial de elementos que tomam a forma de espectros sinistros e sombrios. Que confrontam as ideologias simples, imperceptíveis de meu destino.
Parecendo as cinzas de galhos retorcidos, fico me retorcendo em filosofias infundadas. Construo mentiras, desmancho verdades, atreladas nas enganações da existência. Hoje deparo com verdades que não trazem a consistência de uma vida, predominada por rumores metódicos.
Acaricio a criança muda, no reflexo do espelho escondida nesse adulto que chora sem demostrar sua dor. Às vezes é difícil apontar a saída do olho do furacão. Contudo mostrar as dragas repetidamente de nossas fraquezas é fácil, e isso não uma prudência dos pseudos sábios. Elementos naturais, seres surreais, ingredientes essências dos contadores de historias de terror. Horrendas hidras que manifestam as claras em dias de escuridão.
Tudo se torna uma noite tempestiva. É chão de estrelas sem giz. Perguntas sem respostas. Diluvio que vertem em forma de lagrimas às magoas escondidas. Tremulas estão minhas mãos que aos poucos vão perdendo a força para assinar entre linhas tortas uma rubrica qualquer, inventada tal quais os elementais que me acompanham. Feito um negro cavalo alado com seus olhos de fogo relinchando. São tantos os lobos de plantão a espreita, tocaiados loucos para esganar esse moribundo que despercebidos rastejou até aqui, em busca do confronto com a minha própria e solitária morte.
Querer me atirar ao fogo desse vulcão, que espalha a lava da destruição. Não me faz sentir, nem mais, nem menos do que os romanos, os gregos e os troianos. Lendários heróis, os ceifeiros dos mitos de abomináveis transgressores da ordem e da moral. Sinto-me Judas aliado aos hipócritas que cercam o menino que viro um homem de fé.
Que aos poucos foi perdendo a razão de acreditar em algo. Algo palpável, algo concreto. Quem sabe sou apenas um covarde, um medroso que não sabe quem vive, desconhece quem morre. Não sabe nem se já esta andando com todos pelo vale da sombra da morte, pedindo arrego e piedade por meus pecados. Não entendo se a morada no céu é eterna, se o inferno e um gigante caldeirão sem fundo. Já não sei se a vida imita a morte, ou tampouco a morte imita a arte de viver. Viver por um ideal, lutar por uma causa, e que causa? [é como perguntar ao inevitável: quem é o pecador que virou santo?].
Qual é o santo que nunca pegou? Em todas as historias que se lê, se ouve ou se é contada. Todo ser que é bom, já foi mal um dia. E todo malévolo quer ser bom uma hora. Ou pelo menos morrer tentando acertar nos erros de sua vingança.
As muralhas do infortúnio levantam-se a frente dos oprimidos. Sou o mergulhador dos mares da imensidão angustiante. O vento mórbido e gélido leva-me na embarcação do descredito para as profundezas do insólito.
As mãos que sangram sem pestanejar, a boca que beijo sem os lábios macios, carnudos e sem paladar, renda-me no abraço da serpente maligna que esta a volta do meu eu ignorante. As estrelas, que rabiscam o inglório empíreo. A lua cheia dos adeptos dos lincantorficos ilumina os passos em direção ao desconhecido.
Vampiros notívagos que seguem o sangue da virgem ninfeta. Menina veneno, que destila seu licor aos imprudentes que vaguem pelo noturno. Mataram os meus sonhos de sonhador. Castigam-me como o pagão, que por hora deixou de acreditar em suas crendices. Rezas, velas, mandingas, e toda uma parafernália que faz os incrédulos recuarem nas suas oratórias.
O demônio vive a volta dos infiéis. Os anjos com suas asas sombreando os felizes fidedignos atores, atores que me ensinaram a interpretar a peça dramática da mais pura desilusão. Dando mais força de vontade de se morrer ou quem sabe de se viver. A mortuária é a última morada dos que pensavam ter a felicidade.
Outra mentira dos contadores de anedota. Felicidade é algo transcendental inexistente. Os momentos felizes podem ser eternizados. Porém quem vive esse momento? Quem mora nesse teatro, nos camarins da plateia dos antigos filósofos. Platão, Sócrates, Aristóteles. Que somente contavam legendas do abstrato e do pífio realismo.