O BOM FILHO, A ANCIÃ E OS SABONETES

O BOM FILHO, A ANCIÃ E OS SABONETES

Conta-se que nossos bisavós, avós e pais possuiam prole numerosa. Em muitos casos isso é verdade. Os meus entes passados e meus pais tiveram muitos filhos. Minha mãe criou 11. Agora já é bisavó. Dona Miracy, uma respeitável senhora mineira de 90 anos de idade, também é bisavó e caminha para tataravó.

Conta-se, também, que em nossas terras mineiras uma dessas avós sempre pedia ao filho que a visitava para dar-lhe de presente um sabonete, quando a viesse visitar. O bom filho a comtemplava então com o melhor sabonete que comprava com muito gosto.

O filho cresceu, formou-se, casou-se e mudou-se para outra cidade. Muitos eram os filhos da anciã, já com muitos janeiros e dezembros nos ombros alquebrados pelo tempo. Os filhos e filhas a visitavam com frequência, sempre levando um agrado. Porém, o que ela mais apreciava era granhar sabonete do filho bom.

O tempo passou célere. Os filhos aos pouco deram muitos netos e bisnetos a essa velha senhora, agora, já de cabelos longos e branquinhos como a neve ou o algodão maduro.

E numa noite fria. Friíssima, a notícia pegou de solavanco os filhos da anciã: o anjo da morte veio ao seu encontro... O adeus à vovó, bisavó, tataravó foi triste... A comoção tomou conta da grande-família. E agora?

Passado o luto o que fazer com os pertences da falecida?

Então os filhos tomaram a decisão da partilha democrática e cada qual ficou com um ou mais pertences, como recordação daquela santa-mãe de todos os filhos e filhas.

Ao filho bom coube a velha arca de madeira, couro e trancas de ferro, aferroalhada e com a chave no ferrolho. A arca, embora muito antiga, estava como se tivesse sido usada a pouco tempo. O filho levou a arca para a cozinha de sua casa, onde a mesma servia de assento, nas conversas em família à beira do fogão a lenha.

Numa tarde de domingo, friíssima, o filho resolveu abrir o baú da vovó... Surpresa... É difícil de acreditar...

A arca-baú estava cheia de sabonetes...

Aí o filho pensou grande: minha mãe não usava os sabonetes... Ela queria apenas o carinho, o amor, a presença de seus filhos em sua modesta casinha branca, dos filhos que ela muito amava!

PS: Caríssimo(a), pense grande, faça maior ainda: não negue seu carinho, seu amor aos seus anciães... Dedico este caso ao meu Pai e a minha Mãe, com muito carinho e gratidão!

Luiz Limagolf