CABECINHA, O MISTERIOSO ET DE VARGINHA
Era uma cidadezinha à beira de um rio que se encontrava com o mar imenso. Cenário de verde mar e azul céu. Em seu pequeno cais, fervilhado de estivadores, pescadores, passageiros de lugares ribeirinhos e principalmente da meninada a banharem-se em meio a essa confusão. Tempo de liberdade e ruas. De pessoas simples e sorridentes. Foi nesse lugarzinho paradisíaco, chamado de Terra Branca, que nasceu o personagem deste conto.
Desde antes de nascer, Cabecinha, alcunha que o acompanha até os dias atuais, já dava um trabalho danado à sua mãe, pois não podia sentir o cheiro de cerveja que de vez em quando seu pai bebia, que se danava a espernear na barrica de sua pobre mãe, que não conseguia entender tanto alvoroço. Parecia que queria nascer antes da hora.
Foram nove meses de espera e expectativa. Afinal, seria seu segundo filho, que sua mãe esperava ardentemente que fosse uma menina, uma vez que já tinha um filho homem e queria formar um casalzinho.
Finalmente, após tanta espera, começaram a surgir as primeiras dores, chegara o dia do seu nascimento. Seu pai, avisado da situação apressou-se em buscar a parteira.
Os mais chegados, acudiram também, para o caso de alguma ajuda. Mas, ah! Deus, quanto sofrimento. Aquele menino, que parecia tão apressado pra nascer, demorava-se a sair pro mundo. Sua mãe suava e se esforçava ao máximo, com a ajuda da parteira que não conseguia entender o que impedia que o danadinho nascesse. Passavam-se as horas e os vizinhos amontoavam-se em volta de sua casa com a notícia que corria célere.
Foram horas de sofrimento e angústia para o seu jovem pai e toda a vizinhança. Os ponteiros do relógio pareciam que haviam parado. Expectativa geral, quando a parteira grita: Epa! Parece que agora vem.
Silêncio profundo no ar, expectadores entreolhando-se ....de repente, uma explosão de choro: Cuéééééééé! Foi ouvido em toda a cidade.
Meu Deus! Virgem Maria! Balbuciou uma carola, que acabara de sair da igreja.
Novo silêncio, expectativa geral. De repente começou um zumzumzum, entre as pessoas que amontoavam-se em frente da casa.
Não é possível! Isso não existe! Credo-cruz! Era o zumzumzum.
- A mulher deu a luz a uma bola! Comentou outro.
A notícia logo se espalhou pela cidadezinha e cada vez mais gente acorria ao local, para ver o fenômeno. Seu Raimundo, dono do cinema local, que também acorreu ao local para constatar, in loco, a boataria, imaginou-se logo lotando o cine São Raimundo.
- Uma atração dessas, vai vir gente até de Mossocó(cidade metrópole vizinha).
Aos poucos, os expectadores foram percebendo que a bola tinha pernas e braços e um pequeno birimbelo no meio das perdas balançando-se.
- Não é bola não gente, é um menino! Gritou a parteira.
- Ô xente! E a bola era a cabeça? Resmungou um velho curandeiro que também tinha sido chamado, para o caso de precisar de exorcismo.
E foi assim, que aquele menino nasceu. Logo cedo os primeiros balbucios, a primeira palavra: Uma, uma.
-Uma não meu filho, mamam, mamam diga! Insistia sem sucesso sua mãe.
Mas cabecinha insistia:
- Uma, uma.
Assim passaram-se os anos. Cabecinha crescia e mostrava-se um menino inteligente, cerebralmente justificava-se.
Ainda criança, a família mudou-se para a metrópole Mossocó. Porém, Cabecinha prometera aos amigos que só voltaria para Terra Branca quando tivesse experimentado todas as cachaças do mundo e quando descobrisse o que o fizera ter nascido com a massa encefálica mais avantajada que os outros. Nunca mais Cabecinha foi visto.
Uns dizem que é advogado, outros que é sindicalista e militante do PT lá pras bandas da capital.
Em Terra Branca, fala-se que foi visto pela última vez, envolvido num misterioso caso acontecido na cidade de Varginha. Havia tomado todas e foi parar meio atordoado nos arredores daquela cidade e havia sido confundido por duas jovens com um ET.
Mas, foi aqui no recanto das letras, que descobri sua verdadeira identidade. Cabecinha é poeta e esconde-se por trás de uma escrivaninha a escrever estonteantes poesias. Tô desconfiado, e isso, preciso contar a ele, que o que o fez com tanta desproporcionalidade encefálica é a ruma de poesias que povoa a sua cabecinha.
Cabecinha, agora você já pode voltar para Terra Branca!
Obs: Esse conto foi baseado na historia de um primoroso poeta recantista. Não poderei revelar seu nome, mas ele saberá quando ler esse texto. Espero revê-lo em Terra Branca, Cabecinha.