O último momento

O último momento

j f da costa filho

Olhei o relógio; corria a undécima hora. Franzi o senho e deixei es-capar o impropério:

- Diabo! Como chegarei a tempo?

Encontrava-me longe do local onde se daria o enforcamento. Da fa-zenda cupim até campos dos goitacases dista longa noite de boa sela. Constrangia-me a idéia de vir a perder um espetáculo que estava rareando, diante da relutância do imperador em sancionar essas sentenças extremas.

Felizmente, um anjo benfazejo levantou-me pelas alças do suspen-sório e me atirou no miolo da cena executória, no exato momento em que estalavam – crash! – as vértebras cervicais de Mota Coqueiro.

- Seria a última? perguntei ao juiz-presidente da cerimônia.

- Sim. A majestade não acolherá nenhuma outra.

Restei em grande mutismo. “Por que tão esdrúxula decisão do su-premo magistrado, logo agora quando mestre Ursulino me havia talhado uma casaca preta cerimonial?” indaguei-me desconsolado.

“Urubu! Urubu! Urubu!” gritavam os pássaros falantes que, em bando, promoviam vôos rasos sobre meu chapéu de plumas enegrecidas.

j f da costa filho
Enviado por j f da costa filho em 16/11/2010
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