O último momento
O último momento
j f da costa filho
Olhei o relógio; corria a undécima hora. Franzi o senho e deixei es-capar o impropério:
- Diabo! Como chegarei a tempo?
Encontrava-me longe do local onde se daria o enforcamento. Da fa-zenda cupim até campos dos goitacases dista longa noite de boa sela. Constrangia-me a idéia de vir a perder um espetáculo que estava rareando, diante da relutância do imperador em sancionar essas sentenças extremas.
Felizmente, um anjo benfazejo levantou-me pelas alças do suspen-sório e me atirou no miolo da cena executória, no exato momento em que estalavam – crash! – as vértebras cervicais de Mota Coqueiro.
- Seria a última? perguntei ao juiz-presidente da cerimônia.
- Sim. A majestade não acolherá nenhuma outra.
Restei em grande mutismo. “Por que tão esdrúxula decisão do su-premo magistrado, logo agora quando mestre Ursulino me havia talhado uma casaca preta cerimonial?” indaguei-me desconsolado.
“Urubu! Urubu! Urubu!” gritavam os pássaros falantes que, em bando, promoviam vôos rasos sobre meu chapéu de plumas enegrecidas.