'' ROUPAS BRANCAS...limpinhas, branquinhas ""

Oziel sempre gostou de roupas brancas. Desde menino quando se entendeu por gente, gostava.Queria so' vestir branco.Sua mae ralhava, dava trabalho, moravam em rua de terra, o chao da casa era de terra batida, tudo na casa, no bairro, era amarelado pela terra, ........e como Oziel queria usar roupa branca?, que trabalheira para ela, dona Nilza, deixar sempre as barras das calcas, limpinhas, branquinhas de novo.E as camisas entao? trabalho dobrado.Ela cansou, falou:- a partir de agora nao lavo mais, e nao lavou mesmo.

Oziel no comeco ainda lavou, lavava, nao igual sua mae, claro, ela era lavadeira de madames ricas da cidade, sabia o que fazia, ele nao, era moleque de rua, metido a '' granfino'', so' usava roupa branca, gostava...mas cansou tambem, e parou de usar roupa branca, deixou de lado, sujas, amareladas , e agora usava '' semidao'' eu uso, xadrez, vermelha ou amarela, mas seu desejo era branco, branca, limpinha, branquinha...e enfiou '' guela abaixo'' o desejo das roupas brancas.

Seu sonho?...nem dinheiro de montao, nem carro importado nao, seu sonho era um '' terno de linho irlandes, branco, branquinho, limpinho, uma camisa branca, alva, bem passada, uma gravata azul claro, clarinho com um prendedor de gravata dourado com um brilhante cintilante no meio, meias pretas, sapatos pretos, e assim sonhava Oziel, mas nao trabalhava para isto comprar, com que dinheiro?...e resolveu estudar, se matriculou em uma escola noturna, do governo, para fazer o curso comercial e foi trabalhar, de dia, o dia todo no armazem do Porto, secos e molhados, carregando caixas e caixas de oleo, de bacalhau e sacos e sacos de arroz , de feijao e de farinha, de milho, de trigo, pesadas caixas, pesados sacos, o corpo doia , mas a mente compensava e pensava no '' mardito'' terno de linho branco irlandes, e ele nem sabia o que era '' irlandes'', tinha visto em uma revista, queria.

Tudo aprendeu na escola comercial e no escritorio do Porto, secos e molhados foi transferido e ja' estava no ultimo ano, iria se formar, Tecnico em Contabilidade, titulo de luxo para quem morava no lixo, saiu de la', saiu de casa, morava nos fundos do Porto, secos e molhados, seo Joaquim gostava dele, ajudava e na escola tudo estava sendo preparado para a formatura, Oziel fazia parte da comissao de formatura, e a comissao na '' correria'' atras de dinheiro para a festa fazer...brindes eram arrecadados e eram leiloados, rifas eram feitas.

O pai de uma aluna tinha uma loja de tecidos, doou varios cortes de tecidos para serem leiloados, '' rifados'', e no meio veio um corte, enorme, de linho branco irlandes...Oziel esticou os olhos assim que viu, sabia...era este!!!, doente ficou, queria o corte de linho branco irlandes, queria, desejava, sonhava...que roubava, tirava, saia correndo, levava....e foi colocado como '' rifa'', cada aluno recebia uma cartela, vendiam os numeros...e eram sempre 1.000, 1.000 numeros cada....e Oziel pirando, comprando, comprando.

O dia da rifa chegou, era um sabado, o numero ganhador teria que bater com o numero ganhador da loteria federal...Oziel ganhou, pirou de vez, foi ate' a casa do presidente do gremio , da comissao de formatura, ele nao estava, esperou, ele chegou...nao Oziel, o corte nao esta' comigo, esta' na escola, nos armarios, so' segunda Oziel...ficou louco, queria por a mao, era seu...mas esperou!!!

E segunda chegou, e so' a noite Oziel colocou a mao no corte de linho branco irlandes...nao disse nem obrigado, pegou, foi para casa, nem aula assistiu, foi curtir, abriu, mediu , viu...e ai caiu em si..mas ainda tenho que fazer o terno, quem ? quem? vai fazer? quanto vai custar?...seo Joaquim se condoeu, conversou com a esposa, ela levou Oziel em um alfaiate do bairro, fazia sim, e cobraria tanto, fica pronto em 15 dias...Oziel topou, mandou fazer, voltou uma semana depois, experimentou, provou...e no dia combinado pagou e levou, levou para seu quarto, nos fundos do Porto, secos e molhados, estendeu na cama e ficou contemplando seu sonho , sua criacao...saiu.

Comprou uma camisa branca, como queria, facil achou a gravata azul clara, na mesma loja da camisa, e procurou um prendedor de gravatas como o que tinha sonhado, levou horas procurando e afinal achou, nao dourado, que dourado nao se achava, comprou um prateado, com um falso brilhante no meio, mas que tambem cintilava, nao tanto, mas cintilava...as meias pretas e os sapatos pretos ja' havia comprado, fazia um tempao, escondia embaixo da cama, na caixa e na embalagem as meias, para nao sujar.., tomou um banho, vestiu uma cueca nova, branca.

Se vestiu todo, menos o paleto, se olhou no espelho da porta do guarda-roupa, se viu de corpo inteiro, olhou para sua bunda, decidiu...tirou tudo, vestiu uma cueca amarelinha clara, colocou tudo de novo e decidiu que tinha ficado melhor com a cueca amarelinha clara, tapava melhor o preto dos pelos pubianos, mas ainda pensava na cueca branca, era nova e a amarelinha clara nao..se conformou!!!

Tirou tudo, guardou tudo, deitou e dormiu. Sabia o dia e a hora que iria usar.

O dia chegou. Era a noite do baile de formatura. Ele vestiu-se para viver seu sonho. Viveu.

Fez sucesso desde a entrada, durante o baile todo e Valeria, a linda Valeria, a linda mulata clara, de cabelos ondulados, cabelos bons como ela mesmo dizia, de lindos olhos amarelados, de boca carnuda, peituda, coxuda, bunduda, ficou como peixe beliscando o anzol e quando Oziel puxou a linha com forca ela mordendo a isca veio todinha para a vara dele, ele fritou, sem farinha e sem oleo, oleo so' o natural e comeu, bem comido e ela falando que era a primeira vez, ele nao acreditando e so' acreditou quando viu todo aquele sangue manchando toda seu terno de linho branco irlandes, limpinho, branquinho e agora todo manchado de sangue vaginal e ele lembrando de sua mae dizendo"-

Mancha di sangui e' difici di sai'', inda mais di ropa branca...da' um trabaio danado e num sai nao, sempre fica manchado i si coloca candida piora, mancha mais, fica rosa...ropa di linho 'entao!!! num sai nao...ropa de linho branco, inda mais si e' marca '' irlandes'' quando mancha cum sangui tem que joga fora, e' uma merda este sangui....

E aquilo, aquelas palavras martelando na cabeca de Oziel e ele martelando, dando murros na cabeca de Valeria, estavam no quarto dele, para onde tinham ido depois do baile e onde logo que entrando ele ja' foi entrando nela, so' arrancou a calcinha dela, abriu apenas a braguilha e a vara saltou dura e rija para fora, da calca de linho branco irlandes, e entrou com tudo na gruta dela, e agora ele gritando, ela '' esguelando'' de tanto gritar, tentado escapar, sair dele, nao conseguindo, ele esmurrando, batendo, na furia descontrolada, ela meio desmaiada, sem forcas, ele apanhou o martelo de bater carne de cima da pia, numa fracao de segundo, deu uma, deu duas, deu treis...mais nao deu, ela caiu de vez, o martelo de bater carne era de ferro, fundido, o fudido martelo que matou a linda mulata bunduda Valeria.

Saiu nos jornais, e nas fotos mesmo em branco e preto, se podia notar nele, no seu terno de linho branco irlandes, uma enorme mancha escura ate' a metade das coxas e quase no peito e pequenas manchas de salpicos de sangue...sangue da linda Valeria, e ele sendo levado algemando no meio de dois policiais...e tudo por um sonho!!!

Na primeira visita que sua mae lhe fez na prisao ele lhe pedindo a bencao e perdao, ela abencoando e perdoando, que mae sempre abencoa e perdoa tudo, tudo mesmo, dos filhos, coitadas!!! e ele dizendo:-

Mae, por que? por que? eu tinha que usar roupa branca, terno de linho branco irlandes e ir me sujar, e ainda de sangue mae, sangue nao sai mais da roupa branca, do terno de linho branco irlandes....e dona Nilza, boa mulher, boa mae, colocando a mao na boca dele, pedindo silencio e dizendo:-

Nao si priocupa nao fio meu...a mae ja' lavou, tiro as mancha bem tirada fio..si priocupa mais nao fio..saiu tudinho, tudinho...dona Miloca, minha freguesa compro um sabao importado, tem agora fio, tem muitos agora qui tira as mancha te' de graxa di sapato, di oio...coisa boa qui so vendo fio..fico novo...ve?

E Oziel olhando admirado, do terno para a mae, da mae para o terno, da camisa...tudo limpinho, branquinho, branquinho...tudinho limpinho...sentou, colocou as maos na cabeca, chorou!!!! e baixinho, dizia para si mesmo:- tudo aconteceu foi porque usei a cueca velha, amarelinha clara...eu sabia!!!daria e deu azar, eu deveria ter usado a branca nova, novinha, branquinha, clarinha , clarinha como esta que estou usando agora e toda esta roupa branca que minha mae lava e tras para mim...branquinha, clarinhas, limpinhas...

Eta mae, eta dona Nilza, lavadeira de primeira.

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WILLIAM ROBERTO CUNHA
Enviado por WILLIAM ROBERTO CUNHA em 19/05/2010
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