O DIABO NO DILEMA
Sobressaltado, caminhou pela estéril aridez dos campos mortos.
O calor sob os pés derretia a pele. Um abajur foi aceso. Vozes esparsas. O tilintar dos talheres e o vidro estilhaçando após um instante paralisado na expectativa do som. Os pés ainda queimavam.
Avistava no limite do horizonte uma luz que não cegava e, mesmo antes de intencionar aproximar-se, sabia intocável.
O abajur foi quebrado.
Os pedestres faziam a travessia através das linhas brancas paralelas na areia imóvel. O tempo não transcorrido.
Gritou para que esperasse, mas o animal não ouvia. Sob a areia o animal era fogo. A saliva escassa, o réptil exerceu seu propósito.
Fixou seus olhos esbanjarem o impossível no seco: chorava.
O animal pedia a morte, então o réptil mordeu.
O veneno percorreu seu corpo ao mesmo tempo em que, com a pele indefesa, bebia o líquido de seus olhos.
As vozes foram abafadas pelo silêncio.
Ecoou no infinito entardecer a luz laranja do fim do dia. A morte divagada.
Para o limite do horizonte o réptil seguiu, tocou a luz. O animal rastejando debaixo da areia, os pés queimando, estilhaçou o copo no chão. Todos notaram. Apagaram o silêncio do sonho.