O DIABO NO DILEMA

Sobressaltado, caminhou pela estéril aridez dos campos mortos.

O calor sob os pés derretia a pele. Um abajur foi aceso. Vozes esparsas. O tilintar dos talheres e o vidro estilhaçando após um instante paralisado na expectativa do som. Os pés ainda queimavam.

Avistava no limite do horizonte uma luz que não cegava e, mesmo antes de intencionar aproximar-se, sabia intocável.

O abajur foi quebrado.

Os pedestres faziam a travessia através das linhas brancas paralelas na areia imóvel. O tempo não transcorrido.

Gritou para que esperasse, mas o animal não ouvia. Sob a areia o animal era fogo. A saliva escassa, o réptil exerceu seu propósito.

Fixou seus olhos esbanjarem o impossível no seco: chorava.

O animal pedia a morte, então o réptil mordeu.

O veneno percorreu seu corpo ao mesmo tempo em que, com a pele indefesa, bebia o líquido de seus olhos.

As vozes foram abafadas pelo silêncio.

Ecoou no infinito entardecer a luz laranja do fim do dia. A morte divagada.

Para o limite do horizonte o réptil seguiu, tocou a luz. O animal rastejando debaixo da areia, os pés queimando, estilhaçou o copo no chão. Todos notaram. Apagaram o silêncio do sonho.

Fabiano Rodrigues
Enviado por Fabiano Rodrigues em 10/07/2009
Reeditado em 10/07/2009
Código do texto: T1691924
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