O Palavreado

Lucio, todas as vezes que chegava em casa, tinha o habito de zoar sua mulher com o seguinte palavreado: “Oh Deus que tudo pode, faça de mim um homem de bem e de minha mulher um bode”. Mas com o tempo, esta mania se transformou numa rotina e ele também passou a repeti-lo na hora de dormir como se fosse uma oração: “Oh Deus que tudo pode, faça de mim um homem de bem e de minha mulher um bode”.

Lucio era um cara legal apesar desta mania inocente e inofensiva.. No inicio sua mulher não se incomodava, mas com o tempo foi perdendo a paciência e quando ouvia o palavreado, engolia seco, abaixava a cabeça chateada. Não falava nada. Ele ria e repetia: “Oh Deus que tudo pode, faça de mim um homem de bem e de minha mulher um bode”.

Numa noite, na hora de deitar, ele fez a brincadeira. Desta vez, ela não ficou calada e mostrando-se zangada disse: “Deus ainda vai lhe castigar. Só quero ver quando um dia desses, você acordar com um bode no meu lugar, a seu lado na cama”. Ele ouviu aquelas palavras, e a principio, não levou a serio e ainda deu uma estrondosa gargalhada, deixando-a sem graça. Depois de se enfiar debaixo do cobertor, ficou incabulado com as palavras da mulher e prnsando nelas, adormeceu.

Acordou. O dia já amanhecera. Permaneceu na cama com os olhos fechados. Sempre gostou de ficar assim mais um pouquinho. Depois bocejou e espreguiçou. Abriu os olhos e virou-se para a mulher, exercício que sempre fazia pela manhã, antes de se levantar.

- Hei, mulher está na hora de ir fazer o ca.....

Ficou gelado. Esfregou os olhos. Sua mulher não estava lá. No seu lugar havia um bode dormindo. O que aconteceu? Ela é quem deveria estar ali. Lembrou de suas palavras ao deitar. Ela não podia ter virado bode desse jeito. Será que Deus levou a sério a minha brincadeira e transformou minha mulher num bode?

Desesperado começou a falar sozinho. O que vou fazer agora? Sem ela a mi-nha vida acabou, pois sou o único culpado de ela desaparecer. Apavorou-se só em pensar que a partir daquele momento estava casado com um bode, que o acompanharia pelo resto da vida, como uma sombra.

Resmungava, maldizendo a brincadeira que gostava de fazer. Fui castigado. E agora o que eu faço? Chamou e sacudiu o bode, mas ele continuava dormindo. Precisava acordá-lo, para saber o que tinha acontecido com sua mulher. Se ele era realmente ela que tinha virado bode. Alguns safanões a mais e o bode não acordava. Não o ouvia. Por que não acordava? Não entendia suas palavras? Ou sua voz não chegava até ele.

Levantou-se. E, desesperado saiu para a rua. Começou a chorar e gritar. Quando perguntava às pessoas pela sua mulher ninguém respondia. Ninguém lhe dava atenção. As pessoas passavam por ele como se fossem surdas e mudas. Começou gritar por socorro. Socorro! Socorro! Gritou bem alto.

Acordou quando sua mulher começou a sacudi-lo: “O que foi homem de Deus, porque você grita tanto, pedindo socorro”?

Sem graça, ele disse que não era nada e, rapidamente, se levantou, pensando consigo mesmo: “Nunca mais quero saber dessa brincadeira de palavreado”.