Alameda 01
A festa havia acabado, e lá jazia “O homem” voltando para casa sob o silêncio da madrugada. Sua música ainda o ecoava e a fantasia implorava para ser guardada.
As luzes se apagaram, restando apenas o lúgubre dançar das flamas-postes. Os vivos dormiam e os mortos acordavam.
O caminho até casa parece se tornar infinito. Meras quadras multiplicadas pela solidão. Quanto mais andava, mais longe parecia seu destino, e mais retrógrado seu ponto de partida.
Um, dois, três ou quatro mendigos dormindo nas calçadas. Um para cada minuto que o relógio marcara, desde sua partida. Algumas latas de lixo, dois ou três gatos e cães de rua. Quase como uma dança. Um, dois, três... Um, dois, três... Um, dois, três...
A música ainda em eco. Parecia a tortura mais doce do mundo. O vinho não mais ao sono o entregava, mas sim ao torpor. “E porquê não? Uma caneca de brinde? Seria ótimo!” – pensou.
Sentiu-se uma criança brincando de algo proibido. Sentou-se no chão e pôs-se a chorar. Não lembrava mais sequer seu nome. E nem que não morava em lugar algum.
Aguçou seus ouvidos, pois achou que alguém o chamava, mas em seguida ignorou suas esperanças. Tirou sua fantasia de Deus, deitou-se, e dormiu ali mesmo.
Na rua. Sozinho. “Pobre homem”.
Matheus B. Funfas - 11/07/04