A MORTE NÃO É O FIM

Após a cerimônia fúnebre voltamos para casa.

Michel estava mais calado que nunca, a dor

da perda parecia ter tragado sua vida.

Eu via apenas uma sombra do homem que ele

fora um dia.

Aquele mês foi o mais estranho em nossas vidas,

simplesmente dia e noite haviam se misturado.

Não mais tinhamos controle sobre nossas ações,

tudo parecia uma enorme nuvem escura.

Já haviam passado quase seis meses e foi nesta

epóca que os pesadelos começaram.

Em todos Fernanda nos dizia que não tivera culpa,

chorava e nós sentiamos sua angustia.

Acordavámos de madrugada, suados, doidos e não

mais dormiamos até o dia clarear.

Procuramos uma igreja e pedimos missa em sua memória.

Michel enfim conseguiu ter o sono de volta e dormia todas

as noites serenamente.

Eu no entanto era cair a noite e minha cabeça latejava

terrivelmente.

E ao tentar dormir pesadelos terríveis tomavam formas e

conta do meu ser.

Não havia um siquer que eu não escutasse Fernanda pedindo

ajuda, não a visse em pranto sofrido.

Um ano de sua morte e ainda era segredo para todos o porque

dela ter cometido suicidio.

Eu havia também mantido segredo de todos os sonhos tido com

ela, até que um dia algo estranho aconteceu.

Voltamos ao apartamento dela para empacotarmos suas coisas

tudo fechado e de repente um vento gelado adentrou o ambien-

te.

Michel, eu e sua mãe ficamos apavorados, parados e fui eu que a

vi e neste instante perdi a consciência.

Quando acordei dona Elza e Michel me olhavam intrigados e assus-

tados não mais suportei e contei tudo que estava acontecendo

nos últimos doze meses.

Um tanto incrédulos me ouviram e por fim desabafei não foi suíci-

dio, alguém causou a morte dela.

Talvez pelo momento eles nada falaram e quando cheguei em casa

Michel me disse que teriamos que ir a um psiquiatra.

Respirei fundo, sabia de sua dor pela perda da sua única irmã e

a maneira estúpida que ele a perdeu e disse firmemente temos

que buscar ajuda espiritual.

Ele talvez para não me aborrecer ficou em silêncio, mas não me

dei por vencida.

Numa dicção eloquente afirmei ela não seria freira por vocação,

mas por um desejo absurdo de sua mãe, isso não estava no

coração dela, não foi o seminário que a matou, mas alguém.

Tomado por minha voz firme ele foi ficando pálido e se eu não

o amparasse ele teria caido ao chão.

Na manhã seguinte procurei dona Glória minha vizinha que estuda-

va fenônemos paranormais.

Quando ela veio me receber no portão um caláfrio me percorreu

e meu desejo vou sair correndo.

Se não fosse sua agilidade em me segurar pelos braços eu teria

corrido.

Entrei em sua casa e antes que eu dissese algo ela foi narrando

todos os acontecimentos como se eles fizessem parte de sua

vida.

Fiquei sem folêgo, suando frio e foi ela que me afirmou você é um

canal aberto, esta moça depende de você para encontrar a paz.

Quando cheguei em casa Michel estava furioso e me limitei a dizer

somente um oi e fui para meu quarto.

Me ajoelhei e orei a como muito tempo não fazia e de certa forma

a noite tive um sono menos atribulado.

Acordamos na manhã seguinte com dona Glória nos chamando

no portão.

Michel dormia profundamente, me levantei sorrateiramente e fui

atende-la.

Me pedindo desculpas perguntou se eu não gostaria de ir com ela

a uma cidade vizinha num centro.

Nem pensei, voltei para dentro vesti um jeans e uma camiseta e

escrevi um bilhete para o Michel, peguei a bolsa e a acompanhei.

Viajamos por tres horas num onibus fretado e chegamos a uma

cidade pequenina.

Fomos a uma casa simples, mal entrei e comecei a passar mal,

minha cabeça doia terrivelmente, vozes agudas e incompreensí-

veis ecoavam por minha cabeça.

Dona Glória me amparou, fui levada a uma sala onde várias pes-

soas oravam.

Me colocaram sentadinha numa cadeira e não sei bem como ex-

plicar mas naquele momento ouvi Fernanda nos falando.

Chorei um pranto sofrível e meu corpo doia muito, principalmente

a cabeça.

Quando a seção acabou dona Glória me pediu para que levasse

Michel para que soubessemos o que realmente havia acontecido

com sua irmã.

Voltamos para casa e já era madrugada Michel furioso me espera-

va na rua.

Aos berros me fez entrar para dentro e insultou dona Glória que

permaneceu em silêncio.

Os dias se arrastaram tensos e confusos em casa, Michel parecia

impaciente e ocupado demais para me ouvir.

E todo diálago começado terminava com discursão e numa noite

dona Glória foi nos visitar com um grupo de orações.

Por sorte a mãe do Michel estava em casa e a contragosto Michel

permitiu que eles entrassem.

Durante a oração as luzes se acenderam e apagaram e desta vez

foi a mãe dele que nos confidenciou que desde a morte de sua

filha ela vinha tendo algumas visões.

Michel parecia concordar, mesmo que sua fisionomia contrariada

negasse.

Foi numa manhã de sabádo que resolvemos ir a um centro espirita.

Pela primeira vez os pais do Michel estavam juntos e no meio da

seção um medium clarividente nos revelou.

Ficamos pasmos, boca aberta-

Querido papai, mamãe e Mi, com alegria é permitido esta comuni-

cação não chorem mais, tão pouco me culpem.

Papai querido, o senhor sempre me ensinou o amor incondicional

não culpe o mundo pelo ocorrido.

Eu não sofri, foi tudo muito rápido e quando acordei vovó estava

aqui.

Não houve culpado, somente foi o universo cumprindo suas regras.

Fiquem na paz de Jesus, vão em paz que eu estarei também.

Quando o medium terminou choravamos e tinhamos definitivamente

a certeza não fora ela a causadora.

Se passaram seis meses e numa manhã de setembro recebemos

uma ligação da delegacia.

Quando chegamos ao distrito os pais do Michel já estavam presen-

te e fomos levados a uma saleta.

Nos sentamos e o delegado nos contou que na noite anterior um

sujeito os procurou e confessou o assasinato da nossa querida

Fernanda.

Do espanto para as lágrimas foi fração de segundos, naquele mo-

mento ficamos sabendo que ela tinha um namorado e que numa

discursão ele perdera a cabeça.

Precionada para contar a família sobre seu envolvimento amoroso

e deixar o seminário ela havia se negado, enfurecido ele atirou em

sua cabeça e forjou o suicidio.

Choramos de dor e alívio, enfim, a verdade tinha se feito presente

e poderiamos deixa-la seguir em paz sem o peso da culpa.

O pai do Michel após a surpresa nos confidenciou que não tinha

siquer um dia que não chorasse e culpasse sua filha, mas que

agora tinha paz no coração.

Gratidão por dona Glória, pela espiritualidade que a tudo ve, mas

no tempo certo permite que se finalize.

-SALLITA-

SALLITA
Enviado por SALLITA em 26/12/2008
Reeditado em 27/12/2008
Código do texto: T1354216
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