Lendas...

BOLÉIA: s f. Assento do cocheiro;cabina do motorista no caminhão

"Sou caminhoneiro mas não ando na banguela".

Costumam dizer que os motoristas de caminhão gostam de contar vantagens e exageros, assim como os pescadores. Mas garanto que o acontecido ao Marcão, caminhoneiro há anos, foi realmente verdade.

Marcão tinha um caminhão grande, bonito, na cor ocre e cheio de firulas. Muito bem conservado, o caminhão até brilhava de tão limpo.Tinha uma folguinha e lá estava o Marcão a dar brilho na lataria do dito cujo. Até a flanela era bem limpa e lavada toda vez que o motorista cumpria uma jornada. Nas portas , logo abaixo do vidro da janela, Marcão colocou várias faixas na cor de vinho. Pareciam aquelas bandeirinhas de festa junina. Nem um arranhão . Nada que pudesse macular aquele que marcão chamava de BEM. Nas portas uma inscrição até meio engraçada . Escrito na diagonal estava , assim: "mãheeeeeee o Pai chegou." E com letras rebuscadas e coloridas. Um primor! Os amigos gozavam , mas ele dizia que se não fosse assim a "muierada" , não pedia carona. Nem olhava para o caminhão.

Um belo dia , já ao anoitecer, Marcão deu de topo com uma mulher atravessando a estrada. Freiou rápido e gritou :_"Maluca, quase que eu te mato!Não tem "zóio", não ? A mulher nada falou e ele foi embora, acelerando o BEM. Andou uns 2 quilômetros, pensou na mulher, ficou com dó , deu uma ré num pequeno recuo, acertou o caminhão na pista e voltou.

Encontrou a mulher, ainda bem moça , já meio descabelada , pois ventava um pouco. Sempre ventava naquela região no entardecer. Parou e perguntou : "Pra onde vai, moça"? Nenhuma resposta Apenas olhou para Marcão com seus bonitos olhos levemente amendoados. "Quer uma carona " ? silêncio absoluto. Só se ouvia o motor do caminhão funcionando. "Não tem "zóio" e nem boca , moça ?".Nada. Continuava muda. Já que não quer prosa, entre e eu te dou carona. E me avise quando quiser descer.

Abriu a porta do caminhão e a moça entrou. Muito charmosa, sensual, usava uma roupa clara e simples e uma luva, de lanzinha branca. Marcão ficou entusiasmado e achou que ia render alguma coisinha pro lado dele. Tentou pegar no queijo da moça . Levou um safanão. Esperou um pouco, perguntou se ela queria café da garrafa térmica e tentou outro bote : pôs a mão na coxa da moça , bem perto da virilha...outro safanão. Intrigado ele tentava conversar, mas nada da moça de olhos amendoados responder. Resolveu não mais "tirar uma casquinha", quando a mulher fez sinal que queria descer. Marcão parou perto de um canavial ou laranjeiras... e a mulher esperou que ele abrisse a porta. Neste momento ele tentou beijá-la e conseguiu. Só que ficou estático, com uma fisionomia aterradora. O beijo parecia um bloco de gelo e o hálito nauseabundo. Quando saiu deste torpor não viu mais a criatura... esticou o pescoço e viu lá na frente um tecido esvoaçando. Essa visão durou exatamente 30 segundos. Extasiado e tremendo feito vara verde, engatou na primeira e foi estrada a fora...

Mas, não se conformava. Quem seria aquela mulher. Ficou a pensar durante todo o percuso até chegar ao posto de gasolina . Costumava abastecer o caminhão e comer alguns salgadinhos ,feitos pela mulher do dono do posto . Contou para os amigoa que alí estavam. Eram poucos , mas prestaram atenção na história do caminhoneiro. -"Eu não acredito", disse o Mané . Dono de uma borracharia . E deu uma gargalhada. Marcão insistiu na história a ponto de dizer que as pernas estavam bambas.Ninguém acreditou . E nem ele acreditava . Era tudo muito estranho. Marcão saiu , deu partida, engatou na primeira e foi estrada a fora...