MANÍACO DEPRESSIVO AGRESSIVO: resultado da raiva,revoltado com o mundo

Correu. Correu.

As ruas estavam praticamente desertas, correu mais. Atravessou varias ruas, olhou para trás. Ainda estava sendo seguido. Tinha que se esconder. Atirou nos seus perseguidores. Pulou o muro de um condomínio. O alarme soou. Continuou correndo...

Estava num terraço de um prédio de vinte andares. E as duas mãos na nuca indicavam uma boa forma de reação aos três caras armados em volta dele:

- Pois então, você foi pego! Como está se sentindo?

- Bem- olhou em volta apertando a língua por entre os dentes - tirando o fato de três pessoas querendo me matar.

- Não se faça de santinho! Eu quero saber o nome, agora!

- Mais do que você está falando?

O homem destravou a arma e deu dois tiros no chão. Bem perto dos pés de refém.

- Cuidado. Você pode acabar acertando.

- Imbecil. Eu quero te matar. Eu soube que seu primo andou comentando com você o nome da testemunha surpresa que a policia arrumou para incriminar o Deputado Gaudenzi.

- Ah, mas eu não sei de nada.

- Maquemerda! Por que todo cara que sabe das coisas e não quer falar diz que não sabe de nada. Que tal dizer isto pessoalmente para ele.

Um helicóptero começou a aproximar-se do prédio. As lâmpadas do heliporto estavam ligadas e avisando o local de pouso. O helicóptero ligou as luzes e aquelas quatro pessoas estavam bem no meio. Começaram a afastar-se para o helicóptero pousar.

O refém viu aí sua chance de escapar. Avançou contra o possível chefe do trio, desviando-se da mira da arma desarmou o homem e ficou com a arma dele, utilizando-o como refém. Puxou o sujeito consigo amedrontando ele e levando até próximo da saída. Chutou o traseiro do homem e disparou na corrida. Velozmente desceu a escadaria sendo perseguido pelos outros dois.

Correu. Correu...

- Poxa brother! Não me traz aqui neste lugar não.

- Por quê? É cheio de mulher.

- Tudo bem, essa parte eu adoro. O que me mata é a quantidade de playbozin que tem aqui no point, vamos pra outro lugar.

- Que nada! Eu tenho grandes projetos para nós aqui hoje.

Ele odiava locais públicos com mais que dois playboys por quilometro quadrado, sempre evitava. Tinha raiva desses tipos de pessoas, preferia ir a um encontro de nerds ou CDFs, ou seja lá qualquer pessoas que não tinham um orgulho tão grande quanto o mestre Álvaro ou o pico da bandeira. Seu amigo estava levando ele para o maior point da cidade. Aceitara sair com o amigo que não via a tanto tempo, mas desde aquele instante pressentiu que a noite não acabaria bem.

Estacionado o carro começaram a andar pela orla da praia, já passava das dez da noite e um grande movimento marcava o ambiente.

- Eu não gosto deste lugar. Marcos, vamos embora?

- Poxa vacilão, acabamos de chegar.

Talvez ele não odiasse tanto os playboys, odiava o fato de ter sido abandonado pela sua morena chocolate para ela se casar com um playboy. Esse fato deixou-o profundamente desolado e maníaco-depressivo-agressivo: uma combinação de fogo com nitroglicerina pura.

Sua cabeça começou a rodar. Três homens vigiavam-no numa media distância, atitude não muito suspeita. Ele ouvia os papos das pessoas na rua, não escutava mais seu amigo. Esbarrou sem querer em alguém.

- Olha bem onde anda seu desastrado.

- Desculpa moço.

- Caipira, olha o que você fez no meu tênis novo, ele era branquinho. Sabia?

Enquanto sua cabeça doía, ele olhava de soslaio, coçou a cabeça, seu amigo colocou-lhe a mão no ombro. Estralou o pescoço e esticou os braços os alongado.

- Estraguei o seu tênis novo, não é? Vai contar pra sua mamãezinha! Aproveita e pede também pra ela colocar uma fraldinha nova no bebezinho dela, poxa Juninho, você se acha dono do mundo, eu acho que já passou da hora de alguém te ensinar como se vive...

Uma multidão estava se aproximando, inclusive dois guardas municipais que faziam ronda. Mas antes que eles chegassem muito perto o valentão já tinha partido para "o larga a brasa" para cima do playboy. Uma insanidade de palavrões estava sendo esbravejados pelo valentão, pelo playboy e por um amigo do playboy que começou a apanhar junto com o colega.

Enquanto batia instintivamente e repetidamente sentia seu corpo ficando leve, não percebeu as pancadas que levou nos braços por causa dos cassetetes dos guardas. Quando pisou na cabeça do playboy e viu ele desacordado desmaiou também.

Nesse momento os três homens chegaram perto da confusão, até então tinham apenas acompanhado de perto a briga e esperando o que ia acontecer. O valentão não podia morrer, não ainda. Conversaram com os guardas, apresentando-se como policiais federais e mostrando um mandato de prisão no nome dele: Lucas Pimentel. Os três levaram apenas ele, deixaram os outros dois espancados por conta dos guardas que estavam muito preocupados com os dois, pois estavam desacordados e ensangüentados.

Quando Lucas acordou viu que estava num terraço.

Mais uma consulta a psicóloga. Ele não suportava mais. Desde que se separara da ultima namorada os amigos, a família e outros colegas pediram muito para ele procurara ajuda profissional.

Ele aceitou a ajuda, crente que seria levado para uma boite com streaptease a cada dez minutos e cheia de profissionais do sexo dispostas a fazerem qualquer loucura com ele.

Foi com muito espanto, raiva e furor que ele percebeu que estava entrando numa clinica psiquiátrica, ele não estava doido e pelo menos não tão doido quanto queria estar. Depois de chutar os países baixos de dois seguranças e ser segurado contra a parede por mais quatro é que ele aceitou fazer uma consulta. Apenas uma. Depois ele decidiria se continuaria o tratamento.

Por sorte a psicóloga era loira, de 1,80 m e tinha acabado de fazer uma cirurgia pra implante de próteses de silicone, além de tratar muito bem seus clientes nunca usando uma saia de mais do que dois palmos de comprimento.

Ele aceitou o tratamento. Sob protesto. Mas depois da quarta consulta ele não agüentava nem ver a cara do prédio ou da psicóloga.

- Não estou mais agüentando doutora.

- Calmo moreninho. Já estamos quase descobrindo seu problema, pensando bem eu ate já sei o que você tem.

- Conta logo doutora - não desgrudava os seus olhos dos olhos verdes da doutora - e me fala também a cura.

- Você tem DOC, distúrbio obsessivo compulsivo, você gosta de ficar fazendo a mesma coisa repetidamente.

- Hum.

- E você está maníaco-depressivo-agressivo.

- O que é isto?

- É um distúrbio que torna você susceptível a algumas situações, neste seu caso especifico, se você encontrar um playboy no meio da rua, você vai ver o cara que roubou sua namora nele. Com certeza você vai enxergar tudo vermelho, sua cabeça começara a rodar e depois vai ficar bem leve, a descarga de adrenalina será muito grande, isso torna sua força maior. Entretanto quando o efeito deste hormônio cessar você irá apagar, pois seu corpo terá feito um esforço colossal que te vai por numa pior muito grande, será que você entendeu?

- Caramba! Isso é devido ao distúrbio obsessivo compulsivo?

- Não! Isso é devido ao fato de sua namorada o ter abandonado te trocando por playboy mesmo. Conselho: não freqüente lugares que o tipo de pessoa dele costuma freqüentar. Evitando esses ambientes, você evita entrar em encrencas.

- Obrigado doutora.

Saiu da psicóloga e foi para o aeroporto esperar seu amigo Marcos, fora da cidade já a mais de cinco anos. Dentro do aeroporto se sentiu desconfortável, pois não gostava de lugares muito movimentados e naquele dia particularmente havia pessoas saindo pelos buracos do local. Foi rapidamente para o banheiro, lavou o rosto, suava bastante, ficou lá ate que o amigo ligasse confirmando a chegada.

- Alô Lucas? Onde você esta amigão?

- Estou aqui, só um momento.

Os dois amigos se encontram e foram embora no carro de Lucas, decidiram ir comemorar a data na night, marcos insistiu tanto que foram para uma praia muito movimentada á noite, fora lá onde a ex-namorada de Lucas conheceu o atual namorado.

- Pô brother! Nesse lugar não!

Um péssimo dia. Não o primeiro, apenas mais um péssimo dia, é estranho como as coisas dão errado todas juntas e só se somam para aumentar a desgraça.

O dia acabando. Todo mundo voltando do trabalho ( e ao mesmo tempo), transito tumultuado, engarrafado e congestionado. A m**** do sinal fecha antes que o motorista imaginou e lá vem um desatento batendo atrás.

- Ai meu Deus - Lucas tenta permanecer calmo. Olha no retrovisor, o desatento está saindo do carro com uma arma na mão - lá vem merda.

Destravou o extintor de incêndio que ficava em baixo da poltrona do motorista, esperou dentro do carro que o homem armado se aproximasse.

- Sai de dentro do carro seu medroso!

Lucas nem teria ficado lá se a força da colisão não tivesse o feito bater no carro da frente e o motor não estivesse mais querendo funcionar. Ainda precisava reaver o prejuízo.

- Eu estou esperando ou você quer morrer aí dentro desse carrinho velho mesmo?

- Está bem, eu saio.

Abriu a porta violentamente fazendo com que o homem afaste-se do carro. Levantou-se impetuosamente e foi andando em círculos enquanto apagava o fogo do machão com o pó do extintor de incêndio. Quando o pó acabou. Partiu para cima com o cilindro na mão. Duas cacetadas bem forte e o sujeito desestruturou-se. Começou a brotar um feixe de um liquido vermelho da testa do homem no chão, será que ele estava morto? Será que estava vivo? Na duvida ligou para uma ambulância.

Naquele ínterim acabou dentro da delegacia. Alegando ter agido em legitima defesa, com o apoio de algumas testemunhas que não viram nada (nada mesmo) do acontecido, mas que disseram ele ser inocente. Some isto com as promessas de alguns favores aos policiais e ele conseguiu ser solto. Ainda foi embora acompanhado pelo primo: promotor.

- Bem que você podia parar de meter-se em encrencas, não achas?

- A culpa não foi minha. Ele quem começou. Se não agüenta cachaça: toma leite.

Lucas acompanhou o primo até o tribunal, não havia nada de melhor para o resto da noite, estava solteiro, solteiro e deprimido. Foram os dois para uma sala privativa a qual o primo tinha acesso.

- E como vai o processo contra Gaudenzi?

- Indo, novas testemunhas - disse bem alto.

- E qual o nome daquela mulher bonitinha que estava sentada perto do Gaudenzi, na ultima sessão do julgamento que eu vi? Falou baixinho.

- O nome? Você quer sabe o nome dela? Eu te falo - falou alto e o resto cochichou no ouvido do outro - Suzana.

- As paredes têm ouvidos - Um dos homens de Gaudenzi ouviu a conversa, não a entendeu toda, porem foi rapidamente contar aos seus parceiros o que ouvira secretamente.

O julgamento foi cancelado, o juiz fora encontrado com a boca cheia de formigas e o pescoço separado desta num sitio distante da capital, ninguém sabia dizer como aconteceu?

- Vamos Lucas. Já sei aonde vamos. Uma surpresa. Vou te levar numa profissional, aposto como ela vai te deixar tão menos estressado, não se preocupe. Confie em mim!

- Beleza - pensou consigo mesmo - é hoje que eu me afogo nos braços de uma mulher bem quente, talvez até me esqueça da outra.

Pena que o sorriso dele desapareceu ao ler na entrada do prédio: "Clinica Psiquiátrica Dr. Freud".

O sol refletiu no mar e encheu de luz a parte debaixo da ponte. Lucas acordou, ele e mais uma dúzia de mendigos que dormiram no mesmo lugar. Na cintura ainda estava a arma. Conseguiu escapar dos dois perseguidores. Pensou no que podia ter levado o deputado Gaudenzi a pensar que ele saberia o nome de alguma nova testemunha.

- Aceita um espetinho de carne de cachorro aí? Um idoso já um tanto caduco ofereceu cavalheiramente um pouco de comida a ele que então acordou, saindo do transe psicótico no qual se mergulhara nos últimos instantes.

- Obrigado seu moço. Outro momento eu aceito, estou sem fome agora. Que merda, as paredes têm ouvidos, penas que são um tanto surdas e não compreendem direito o que a gente fala.

Assustado e um pouco confuso sentiu os hematomas nos braços e nas pernas. Andou distraidamente até a margem da praia que estava sob a ponte. O velho caduco foi atrás. Sentaram-se na areia molhada.

Não sabia o que fazer? Estava com medo? As pernas tremiam bastante. A fome bateu. Antes que pensasse em qualquer solução para o seu problema aceitou o espetinho do velho. E ficou olhando o trafego pesado de carros naquela ponte.

FIM