IMPACTO POLICIAL | Capítulo 2
Ângelo Negrão
Capítulo 2
Dentre os cinco filhos gerados pelo casal Macedo, Jane sempre foi a mais esperta, a mais bonita e também a mais sagaz. Gostava de estudar, adorava as primeiras posições nas competições esportivas escolares e era amante dos mais belos rapazes de sua classe. A natureza foi bastante generosa com ela. Quando ainda era uma adolescente de quinze anos, Jane já arrancava suspiros de meninos abobalhados mergulhados em testosterona. Por onde ela passava deixava seu rastro de sensualidade. Isso era motivo de orgulho e de muita preocupação também por parte de seus pais.
— O que será de nossa menina com toda essa beleza? — Dizia seu pai.
Jane Macedo se formou em pedagogia, mas algo ou alguém soprou em seus ouvidos lhe dizendo que ela não chegaria a lugar algum sendo uma pedagoga. O lado errado falou mais alto e Jane caiu como uma coelhinha. Mente fraca dá nisso. Ela largou os estudos mergulhando fundo no submundo oferecendo seus caros serviços a quem realmente poderia pagar por eles.
— Foi muito difícil? — Perguntou Osmar Ruas se esforçando para não cair em tentação perante sua contratada.
— O esperado. Fred Sampaio podia muito bem ser um monstro como era conhecido no meio da bandidagem, mas caiu de joelhos perante a Coelho aqui.
— O que acha de trabalhar para mim de forma permanente?
De repente Jane se viu diante de um dilema. Quando entrou para a vida do crime, o plano era trabalhar como freelancer. Estar presa a um determinado grupo e recebendo ordens de homens como Osmar Ruas não seria algo saudável. Assim como Fred Sampaio, Ruas não inspira confiança.
— Lamento. Terei que declinar. Espero não o ter desapontado.
Osmar deixou sua cadeira atrás de uma incrível mesa de tampo de vidro temperado e caminhou bem devagar em direção a diva criminosa.
— De forma alguma. Mas peço que repense minha proposta com carinho. Tenho outros planos para Helenópolis e você se encaixaria perfeitamente neles.
Coelho anuiu.
*
Para a maioria dos policiais o DPH é de uma certa forma a sua segunda casa. Há casos de agentes que passam mais tempo ali dentro focados em desvendar casos do que aninhados em seus lares. Ângelo Negrão não é adepto a essa situação. Apesar dos pesares ele ama estar com seu pai e jamais o trocaria por ocorrência alguma. Família é tudo e sem ela o ser humano não obtém sucesso em qualquer área da vida.
— Bingo! — Vibrou Magali lhe trazendo uma folha de papel. — Você acertou em cheio.
— A Coelho entrou em ação mais uma vez. — Pegou o papel onde há a imagem de Jane deixando o hotel.
— Ela foi vista com Fred Sampaio num bar.
— É a especialidade dela. Ela tem um poder de atração sobrenatural. — Disse ainda olhando para a foto. — Quer mais um palpite? Algo me diz que Coelho está a serviço de alguém muito poderoso.
Magali abriu o notebook.
— Alguém muito poderoso, tipo, o maior dos criminosos de Helenópolis? — A extensa ficha de Osmar Ruas, assim como a sua foto, ocuparam a tela do notebook.
— Bingo, novamente. — Negrão estalou as falanges.
*
Ser um policial era um dos sonhos de Ângelo quando ainda vestia calças curtas. Na verdade ele desejava ser muitas coisas: bombeiro, veterinário, jogador de futebol, até mesmo massagista ele cogitou. A oportunidade de ser um agente da lei bateu em sua porta e ele não a desperdiçou. Seu Adalberto e dona Irene Negrão deram duro para ajudá-lo em sua formação e quando tudo foi concluído eles puderam bater no peito e dizer ao universo o quão orgulhosos eles estavam. Infelizmente dona Irene partiu antes do filho assumir seu primeiro caso, mas isso de forma alguma lhe trouxe infelicidade. Negrão prometeu para ele mesmo que trabalharia bastante e tudo isso em nome de sua mãe.
— Já chegou, baitola? — Falou seu Adalberto deitado no sofá assistindo ao seu seriado favorito.
— Olha o respeito, vou prendê-lo por desacato. — Jogou as chaves junto com o distintivo e a arma no coldre em cima da mesa de centro.
— E a gostosa, ela vem jantar aqui?
Ângelo pôs as mãos no rosto.
— Magali Duarte, este é o nome dela, pai.
— Pode até ser, mas você há de concordar que ela é tesuda.
Sim, e muito, pensou.
— Vocês formam um belo casal. Nunca pensou em chamá-la para sair?
— Magali é minha parceira. Não podemos misturar as coisas.
Adalberto sentou-se e diminuiu o volume da TV.
— Eu já te falei como conheci sua mãe? Nós trabalhávamos no mesmo setor. Irene mal olhava para mim e eu a cada dia ficava mais apaixonado por ela. Certa ocasião eu a convidei para almoçar e foi neste dia que a nossa história teve início.
Ângelo pode ver os olhos de seu pai ficarem úmidos.
— De repente a mulher da sua vida está do seu lado e você não se deu conta.
Silêncio.
— Vamos tomar uma gelada? — propôs Negrão.
— Só se for agora. — esfregou as mãos.
*
O pôster de sua banda predileta desde os tempos de adolescência ajuda a deixar a pequena sala de seu apartamento um pouco mais aconchegante. Jane Macedo ama Guns N roses e mesmo não dominando bem o idioma ela canta todos os seus hits a plenos pulmões principalmente quando está no banho. Claro que há outros artistas por ali: Elton John, Michael Jackson, Beyonce, Shakira e Bruno Mars. Cada um ocupando uma parede.
Melhor que um banho quente, uma xícara de café ou até mesmo uma dose dupla de Campari e saber que sua conta bancária anda bem movimentada. A morte de Fred Sampaio a fez ficar um pouco mais bem de vida digamos assim. Não é a primeira vez que ela trabalha para Ruas. Quando o mestre do crime a solicitou há um ano, ele depositou em sua conta o suficiente para que ela curtisse férias por mais ou menos dois anos tranquilamente. Dinheiro nunca foi problema para um homem como Osmar.
Ao deixar o quarto segurando o celular aberto em seu aplicativo do banco, Coelho explodiu em gargalhadas ao contar a quantidade de dígitos em seu saldo. Uma pedagoga jamais conseguiria ganhar em dez anos o que ela ganhou em uma noite. O crime compensa?