IMPACTO POLICIAL | Capítulo 1

Ângelo Negrão

Capítulo 1

Do piano ecoa uma famosa melodia bastante conhecida por todos, principalmente por Fred que sem perceber tirou os olhos do belo par de seios volumosos de Jane. Losing my religion tem esse poder de mexer com os mais sensíveis. Aos poucos ele foi sendo entronizado num passado distante onde a voz de seu pai o alertava quando as mulheres oportunistas.

— Muito cuidado, meu filho. O poder de convencimento delas é quase divinal.

Na época o pequeno Frederico não entendeu muito bem o que seu velho pai quis dizer, mas hoje, aos quarenta e seis anos, as palavras ditas por seu Benedito Sampaio fazem todo o sentido.

— E aí, chefão. O que pretende fazer quando sairmos daqui?

— Quando sairmos? — Fred deu outro gole no uísque sem gelo.

— Exatamente! — Abriu um pouco mais o decote.

— Olha. Eu gostei desse bar. Boa música. Ótima iluminação e decoração, sem contar a bebida que é de qualidade.

— Eu andei pesquisando sobre massagem tântrica. Estava louca para aplicá-la em alguém. — Se insinuou.

Fred voltou a olhar para os enormes e chamativos seios da mulher com as pernas cruzadas à sua frente e de repente um dos maiores chefões de cartel de drogas foi acometido por uma excitação incontrolável.

— O que essas mãozinhas são capazes de fazer? — Repousou sua mão sobre a mão dela.

— Já foi a lua, Fred Sampaio?

— Não!

— Faço você ir até lá quantas vezes forem necessárias.

Fred estalou suas falanges chamando atenção de seus guardas costas.

— Vamos embora.

*

Fred Sampaio não deu somente um passeio na lua, às mãos de unhas postiças de Jane o fizeram flutuar por entre planetas, estrelas e outros astros. Deitado naquela cama de hotel cinco estrelas, nu, com o seu corpo escultural lambuzado de óleo e uma bela morena clara realizando as mais delirantes manobras em seu órgão genital, o traficante se entregou de corpo e alma à prática.

— Por que ninguém nunca me falou que era tão bom esse negócio?

— Jura, foi tão bom assim?

— Acho que vou querer o segundo tempo.

— Hum! Já está tarde, e os seus homens lá fora? — Despejou mais óleo em seu peito.

— Tem razão. Vou dispensá-los. Não quero ninguém me apressando.

— Ótimo! Onde paramos?

*

Seu Adalberto Negrão abriu outra lata de cerveja e se serviu. A seu lado Ângelo iniciou a contagem das latas em cima da mesa.

— Espero que esta seja a última da noite, não é pai?

— Certamente que não. Ainda tem a da madrugada. — Riu erguendo a tulipa na direção de Magali. — A mocinha não bebe?

— Não seu Adalberto. Eu não funciono bem com álcool. Muito obrigada.

Após o jantar e também da lavagem das louças, o velho Adalberto esticou as finas canelas em sua estimada poltrona reclinável dando sequência a sua leitura. Na varanda, com a fresca brisa circulando por ali, a dupla de agentes conversa informalmente sobre família. Magali Duarte pertence a uma que, desde quando ela ainda era uma menininha no interior de Helenópolis, convive com os altos e baixos da relação de seus pais.

— Eu sei que no fundo eles se amam, mas é complicado às vezes.

— Aqui em casa foi diferente. Meu pai sofreu muito com a morte da minha mãe. Eles eram cúmplices.

— E como ele está hoje em dia?

— Não posso dizer que ele superou a perda do grande amor da vida dele, mas posso afirmar que o velho Adalberto mata um leão por dia.

A policial negra de cabelos cheios e cacheados olhou para o parceiro de farda por um momento deixando um lindo sentimento tomar conta dela.

— É admirável a sua relação com seu pai.

— Nos esforçamos.

*

A camareira deixou o quarto 305 em pânico após ver o corpo nu e com sua garganta cortada. Lá dentro jaz um de seus hóspedes mais inusitados estirado na imensa cama. Seu desespero foi tão grande que alarmou o andar inteiro.

— O que aconteceu Creusa do céu? — Berrou a recepcionista.

— Tem um defunto no quarto 305. Ligue para a polícia.

*

Rubens Sodré, chefe do departamento policial de Helenópolis. Um sujeito mau humorado por natureza, mas que possui uma larga e brilhante carreira na segurança pública. Amado por poucos e odiado pela maioria de seus subordinados, Sodré nunca se abalou devido a isso. Elegante, bonito, dono dos mais sombrios olhos azuis ornamentado por um óculos de lentes finas, o chefe do DPH faz de sua profissão um verdadeiro sacerdócio e exige de todos a mesma conduta. Ao ser notificado sobre a morte de Fred Sampaio, o seu humor que já não é lá essas coisas se tornou um tsunami devastador.

— Negrão e Duarte dêem uma olhada nesta ocorrência. — pôs o papel em cima da mesa.

Quase sofrendo um infarto, Magali olhou para o chefe.

— A senhora não está sonhando, agente Duarte. Finalizaram Fred Sampaio num quarto de hotel.

— Tiros? — Perguntou Negrão.

— Não. Degolado. Quero os dois no caso. Essa cidade vai pegar fogo com a morte desse sujeito então, se preparem. — Saiu.

*

Infelizmente a profecia de Sodré estava se cumprindo. Não foi preciso mais do que duas horas para que toda Helenópolis pegasse fogo com a morte de Fred. Assim que chegaram ao hotel a dupla de agentes pode sentir na pele uma atmosfera pesada, carregada de tensão. Ao descer da viatura, Negrão andou apressadamente até um dos PMs que guardava a entrada do lugar e pediu que reforçassem a segurança em torno do quarteirão.

Se fora do hotel o clima é de apreensão, dentro dele é quase impossível de se respirar. Sobe e desce de funcionários. Falatórios e olhares desconfiados.

— Odeio quando isso acontece. — Falou Negrão subindo as escadas.

— O que?

— A guerra entre as gangues havia cessado, lembra? Sodré tinha razão. Fred Sampaio é figurinha carimbada no meio criminoso. Vamos ter trabalho.

— Um problema de cada vez, detetive Negrão. Pode não ter sido obra de grupo rival.

Depois de se identificarem e cumprimentarem aos agentes presentes dentro do quarto, Negrão e Magali foram direto para a cena do crime onde um perito baixinho e barrigudo se esforçava para a conclusão de seu trabalho. Bastante conhecido no meio por sua falta de proatividade, Mentira, apelido que Gustavo odeia, olhou para as pernas da detetive sem ao menos disfarçar.

— Algum problema com as minhas pernas, Mentira? — Duarte jogou o peso do corpo para a perna direita.

— Nenhum problema. Elas são perfeitas. Negrão é um cara de sorte.

E sou mesmo, pensou olhando para o corte no pescoço do cadáver.

— Mas o que temos aqui, Gustavo? — Negrão se aproximou um pouco mais da cama.

— Um corte profundo causado por uma navalha.

A dupla de agentes se olharam.

— Certeza? — Magali olhou mais de perto.

— Posso não deixar isso claro, mas, sou um profissional.

Não era uma boa notícia. Se o que passa pela sua cabeça no momento for comprovado, Ângelo estará diante de mais um problema, e ainda mais complicado. Há alguns anos ele vem no encalço de uma assassina profissional que presta seus serviços para figurões do crime. A Coelho. Linda, sedutora e mortal.

— A guerra começou de fato. — falou Negrão se afastando. — O mau humor do chefe infelizmente vai piorar.

— Está falando sério? — Duarte fez uma careta.

— Muito sério. — Deixou o quarto em direção a recepção.

Júlio Finegan
Enviado por Júlio Finegan em 27/08/2024
Reeditado em 22/09/2024
Código do texto: T8138578
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