A JUSTIÇA TARDA, MAS NÃO FALHA
Pedrinho Malvadeza, essa é a alcunha Pedro Osório, um rapaz que começou sua série de homicídios antes mesmo de completar 15 amos.
Tudo começou com uma brincadeira de mau gosto na escola secundária onde estudava, ele era um cara durão, mas que enrubescia quando alguma menina da turma a ele se dirigia.
Como toda sala de aula tem sempre um ou mais sacanas, Cesáreo se encaixava perfeitamente nesse papel, adorava criar um clima hostil entre colegas, e em algumas vezes envolvia também garotas, que sabiamente mantinham distância da figura, e assim não dar margem a alguma de suas contumazes grosserias.
Cesáreo só ficava calmo quando aprontava alguma confusão, e foi assim que envolveu a feiosa da Clara, com o tímido Pedrinho, falando do amor não correspondido dele em relação à ela.
No dia seguinte, ao final da aula de matemática, Clara pediu silêncio a todos, declarando que aceitava namorar o Pedrinho. Cesáreo deu uma gargalhada e saiu correndo da sala, foi prontamente seguido por um Pedrinho enraivecido.
Foi próximo a escadaria de acesso ao térreo, que o fugitivo sentiu suas pernas literalmente perderem o chão, em seguida, rolou degraus abaixo, só parou quando bateu a cabeça em um vaso de plantas que decorava o ambiente, e ali ficou paralisado.
O enterro foi no dia seguinte, toda turma acompanhou o caixão até o momento final. Dali para frente, todos culpavam Pedrinho pelo acidente fatal. Seus pais, diante da situação irreparável, providenciaram a imediata transferência para outra escola do bairro.
Não demorou muito, para que também na nova escola a fama de Pedrinho chegasse, logo ninguém mais lhe direcionava a palavra. Veio então a depressão acompanhada da presença de um moleque da favela da Santa Marta.
Suas tardes nunca mais foram às mesmas, saia uniformizado para a escola, mas seu destino era favela, onde conhecia os aviõezinhos do morro. Daí foi um pulo para sair de casa, e passar a trabalhar para o tráfico.
Logo, passou a circular armado pelas imediações da favela, então aconteceu o pior, parado na subida do morro por dois policiais militares, foi rápido no gatilho e produziu suas duas primeiras mortes oficiais.
Biruta o chefe do tráfico não queria sujeira na sua área, mandou dois capangas pegarem a viatura e darem sumiço nas vítimas. Pedrinho foi convocado a subir o morro para conversar com Biruta, e explicar detalhes dos fatos e também pedir apoio ao comando.
Ainda assustado com a velocidade dos fatos, foi saudado por Biruta e dois assessores com algumas carreiras de pó, era de alguém com sua desenvoltura que a organização procurava já fazia algum tempo. A viatura e o corpo dos dois militares foram carbonizados em uma via deserta da Floresta da Tijuca, buscando assim incriminar outra favela.
O alto comando da polícia não conseguia entender o que aqueles dois policiais estariam fazendo fora de sua área de atuação.
Foi no terreno livre da praia, num final de tarde, que Pedrinho teve o primeiro contato com um diretor do comando, e também a encomenda da primeira vítima. Dali para frente, receberia um generoso pro labore mensal, acrescido de um bicho a cada tarefa realizada com sucesso.
Logo, a fama de Pedrinho Malvadeza se espalhara pela cidade, a princípio seu vínculo era com o Comando Vermelho, mas que não exigia exclusividade. Ele tinha um nome a zelar, e uma bela estatística de homicídios em seu currículo profissional, e isso tinha valor no mercado do crime.
Os anos passando, e Pedrinho Malvadeza mantendo qualidade inquestionável nesse seu trabalho de eminente risco.
Tudo se modificou quando encontrou a mulher da sua vida, Michele realmente passou a lhe trazer toda aquela felicidade, que nunca tinha se permitido, ela sabia que ele era bem sucedido, mas nem imaginava seu ramo de negócio.
Ele não conseguiu manter em segredo por muito tempo seu ramo de negócio. Afinal, saía pouco de casa, e mesmo quando ia à rua, não demorava muito. Michele descobriu como ele ganhava a vida, e pegou pesado, ou ele abandonava aquela vida, ou ela partiria sem volta.
Ele sabiamente optou pelo melhor dos mundos, não ia agora abrir mão dessa nova possibilidade de construir uma família, que em algum momento foi até idealizada, mas ficou perdida num passado já distante.
Na busca por mais segurança para a família, optou por deixar a cidade do Rio de Janeiro, onde cultivara amizades e também inimizades, migrar para o vizinho Espírito Santo foi a estratégia, optou por morar numa pequena cidade no sul capixaba.
Conseguiu nova identidade, agora seria conhecido como coronel aviador Pedrosa, que cansado da violência da cidade grande, optara por dar qualidade de vida a sua família e ainda desfrutar de uma vida rural, comprara também um sítio no município vizinho.
Os cinco primeiros anos dessa nova vida passaram rápido e tranquilos, seus três filhos desfrutando a tranquilidade que só cidades pequenas permitem a seus moradores.
A única bandeira do coronel, como gostava de ser chamado, foi o aparato de segurança que instalou em sua casa, um quebra molas, cerca elétrica e uma câmara avantajada do tipo 180°, que lhe permitia de dentro de casa, ter uma panorâmica do que acontecia em grande extensão da rua.
Um lema diz que: “a justiça tarda, mas não falha”, e foi justamente o que ocorreu com Pedrinho Malvadeza, fruto de algum desafeto, que não eram poucos, conseguiu descobrir o paradeiro do assassino de aluguel.
Em conjunto policiais a paisana dos dois estados monitoraram os passos desse suposto coronel, e foi num domingo de manhã, com a família toda em casa, que veio a voz de prisão, ele já saiu de casa algemado, encerrando abruptamente um momento lúdico de sua vida de um assassino de aluguel.