A acompanhante
- Me paga uma bebida?
George, diante de uma dose de uísque, virou-se para ver quem o abordava no balcão do bar. Mulher, cerca de 30 anos, vestida de modo insinuante mas não vulgar. Bonita, avaliou.
- O que você bebe? - Indagou, indicando um assento vazio ao lado.
- Acho que posso começar com uma água tônica, até decidir se vale a pena continuar a conversa - declarou ela abrindo um sorriso.
George fez sinal para o barman.
- Uma água tônica para a dama indecisa.
E para a mulher, que se sentara ao lado dele:
- Você tem nome ou devo chamá-la apenas de Mulher Misteriosa?
- Crystal - declarou ela, ainda sorridente.
O barman colocou uma garrafa de água tônica e uma taça diante de Crystal, que se serviu e tomou um longo gole.
- E o que você faz na vida, Crystal? - Indagou George de modo calculadamente ambíguo.
Ela deu de ombros.
- Oh, você sabe... um pouco de tudo. Depende do interesse mútuo.
- Interessante - redarguiu ele, bebericando o uísque. - E você tem um lugar próprio, ou atende a domicílio?
- Às vezes, nem é preciso domicílio, não é?
Crystal inclinou-se para ele e cochichou em seu ouvido:
- Se você tiver um carro estacionado aqui perto, podemos resolver lá mesmo. Que tal?
- No carro? Quanto? - Indagou George de modo enfático.
- Oitenta pratas - sussurrou Crystal.
- Parece uma pechincha - redarguiu George, levando a mão ao bolso do paletó. Quando a retirou, estava com o distintivo da polícia encaixado na palma da mão.
- Você está presa por crime de solicitação - anunciou ele, exibindo o distintivo.
Crystal ergueu os sobrolhos, aborrecida.
- Um policial?
- Surpresa! - Foi a vez de George abrir um sorriso. - Creio que você vai ter que me acompanhar... até a delegacia.
Crystal, muito séria, abriu a bolsa que colocara sobre o balcão e dela retirou uma identificação oficial.
- Também é policial? - Indagou George, consternado.
Ela balançou afirmativamente a cabeça.
- E você acabou de estragar o meu disfarce, detetive.
Passado o momento de embaraço, ambos caíram na gargalhada.
- O que você está tomando, afinal? - Indagou ela.
- Uísque.
- Me pague um, - decidiu Crystal - a noite já está perdida mesma...
George fez um aceno para o garçom e depois voltou-se para a colega disfarçada:
- Crystal não é o seu nome de verdade, não é?
Ela abriu um sorriso zombeteiro.
- Como você adivinhou, detetive?
- [24-07-2022]