O assistente

Na TV diante de Alexandre, o detetive Jager havia acabado de entrar num armazém sombrio, as poucas luminárias existentes criando poças de luz amarelada em meio à escuridão. Jager esgueirou-se por trás de uma pilha de engradados e sacou o celular do bolso. Digitou um número e olhou diretamente para a câmera, em expectativa. Sobre o carpete, ao lado do sofá onde estava deitado, o celular de Alexandre tocou. Ele estendeu a mão e franziu a testa ao ver quem o chamava: Jager.

- Acredita em mim agora? - Indagou triunfante.

- Agora não é hora para isso, Alexandre - atalhou secamente o detetive na tela. - Você acompanhou a ação desde o início?

- Sim.

Jager olhou para ambos os lados, tentando identificar algum movimento suspeito.

- Esse é mesmo o esconderijo de Zybach?

- Sim, mas voltou com os capangas para o porto... você tem que procurar uma sala, no fundo do armazém; é lá que Zybach mantém Marilen prisioneira.

- Sem guardas? - Jager ergueu os sobrolhos.

- Zybach pensou que levariam dias até descobrir o esconderijo, e até lá, já teria cruzado a fronteira.

- Pensou errado - replicou o detetive. - Obrigado pela dica.

Alexandre ia complementar a informação, mas Jager já havia desligado. A comunicação era de mão única, e ele não podia chamar o personagem na tela; só lhe restava esperar que Jager se virasse sozinho, com as informações de que agora dispunha.

- Afinal, você ganha para isso - ponderou Alexandre.

Na tela, o detetive seguia cautelosamente, arma em punho, rumo aos fundos do depósito, onde ficava a sala descrita por Alexandre. Finalmente, ele chegou à porta do aposento e, verificando que estava trancada, usou uma gazua que trazia no bolso do paletó para abrí-la. Diante dele, de pé, com uma caneca de porcelana entre as mãos, estava Marilen Wenger. Ela arregalou os olhos, surpresa.

- Leonardo! Como conseguiu me encontrar?

- Digamos que tive a ajuda de um amigo - respondeu Jager, abaixando a arma e abrindo um sorriso.

- Não viu nenhum dos homens de Zybach aí fora? - Indagou Marilen cautelosamente.

- Acho que saíram para tratar de outros negócios. Vamos, antes que voltem; depois eu chamo reforços para cuidar deles.

- Zybach colocou uma câmera de vídeo aqui, - disse Marilen apontando para uma estante ao lado da porta - como uma babá eletrônica, caso alguém aparecesse.

Quando Jager se virou para tentar localizar o dispositivo, ela sacou uma pistola que trazia no cós da saia e apontando para o detetive, disparou duas vezes. Jager foi lançado ao chão pelo impacto das balas, uma expressão de incredulidade no rosto. Marilen aproveitou para chutar para longe a arma de serviço dele.

- Desculpe, Leonardo, mas eu preciso realmente fazer isso.

Mantendo o detetive sob a mira da pistola, ela sacou um celular e apertou o botão de chamada. Sobre o carpete, ao lado de Alexandre, o celular tocou.

- Qual o próximo passo, Alexandre? - Indagou Marilen, olhando para a câmera.

- [18-07-2022]