LINHA POLICIAL - Paulo Alves - Parte três - Capítulo três

Linha Policial

Paulo Alves

Alves tinha em mente de que quando chegasse em sua casa encontraria sua amada feliz, bem disposta, mas tudo que encontrou foi uma Janaína prostrada, derramada na cama ainda com as roupas que usou durante o dia inteiro. Depois de passar pela cozinha e se surpreender com o fogão fechado, o policial caminhou até o quarto ainda tentando entender o que havia acontecido.

- Minha pretinha, o que aconteceu nessa casa?

Janaína estava encolhida no canto da cama com dois travesseiros em cima da cabeça.

- Ei, você está bem? – acariciou suas nádegas.

- Me deixa, Paulo. – a voz saiu abafada.

- Eita, calma, podemos conversar? Tire isso da cara. – puxou um dos travesseiros.

- Eu quero ficar quietinha, só isso, será que eu posso? – tomou o travesseiro do namorado.

Quase perdendo a paciência, Paulo se levantou. Colocou uma mão na cintura e a outra ele coçou a nuca.

- Está de TPM?

Como uma menina carente ela tirou os travesseiros da cabeça e olhou para o detetive com olhos úmidos.

- Quem dera.

A mente de Paulo Alves entrou em colapso.

- Me explica isso, meu anjo. – voltou a se sentar.

Relutante, a jornalista se encostou na cabeceira da cama e encolheu às pernas deixando os joelhos perto do rosto. Ela permaneceu um certo tempo em silêncio fazendo o cérebro do namorado entrar em ebulição. Depois de fungar o nariz algumas vezes, Janaína resolveu abrir a boca. Mas não saiu nada.

- Sim?

Não está sendo fácil começar esse papo, por isso ela decidiu ir direto ao ponto.

- Acho que estou grávida.

A voz de Janaína ainda pairava dentro do quarto quando Alves sentiu seu espírito sair. Só Janaína pode contemplar a expressão no rosto do futuro pai de seu filho ou filha. Isso não ajudou nem um pouco, pelo contrário.

- Paulo. – ela o cutucou. – meu Deus, você está em choque?

- Sério? – ele abriu os braços e perguntou bem alto assustando-a.

- Sim, passei mal o dia todo, vomitei algumas vezes e cheguei a comprar o teste de farmácia, mas...

- E? – Paulo estava embasbacado.

- Não tive coragem de fazer. Joguei fora. – abaixou a cabeça.

A adrenalina diminuiu e Paulo voltou para a razão.

- Não entendo porque você está tão triste. Você sabe que esse é o meu sonho, e quero acreditar que seja o seu também.

Quando Janaína achou que às coisas poderiam piorar, elas se tornaram insustentáveis.

- Paulinho, meu amor. Claro que é o meu sonho também, mas eu ainda não realizei os que vinham antes desse, entende? Eu preciso crescer na profissão, estudar mais e ser mãe agora atrapalharia.

Depois de expirar, Alves se levantou.

- Sim. E se você estiver grávida, o que pensa em fazer? – cruzou os braços.

Janaína não teve coragem de continuar olhando para Paulo. Realmente ela não cogita essa possibilidade. Ele aguardava a resposta enquanto ela olhava para a janela aberta revelando uma noite clara.

- Eu não estou, grávida, é apenas um mal estar passageiro.

- Certo. – pegou o celular no bolso. – vou pedir um teste.

Janaína engoliu seco.

- Aproveita e peça uma pizza de frango.

Mesmo irritado o policial não deixou escapar a piada.

- Viu, você já está até com desejo.

- Hum, sério?

- Sim, você não gosta de pizza de frango.

*

Uma van atravessou os portões de uma antiga fábrica de tijolos que há anos se encontra desativada. No aguardo do veículo, Romão e mais meia dúzia de homens armados. Assim que parou, a porta foi aberta e um sujeito alto segurando uma metralhadora desceu acenando para o chefe. Félix se aproximou e olhou para o interior da van onde haviam três homens com as mãos amarradas para trás, olhos vendados e amordaçados.

- Deu trabalho, mas conseguimos. – disse o motorista.

Os homens também usavam fardas da polícia e estavam agitados. Romão socou o da ponta no rosto.

- Vamos levá-los para dentro.

Foi perigoso e ousado e por que não dizer desafiador. Sequestrar três policias. Nem quando ainda era um ladrãozinho mequetrefe ele ousou tanto. Fato é; Félix quer sua carga de volta e nada mais insano do que pedir resgate usando agentes. Os três são levados aos empurrões e murros para dentro da fábrica. Lá dentro o ar é pesado, sufocante, isso porque há muita poeira orbitando por ali. Eles passam por máquinas, empilhadeiras mal estacionadas, montes de correntes e chegam aonde seria o almoxarifado.

- Que tal um pouco de diversão, rapazes? – sugeriu Romão.

Todos os quinze bandidos se armaram com pedaços de madeiras. Sob o olhar frio do chefe, os agentes sofreram as piores torturas, um deles chegou a perder os sentidos e foi acordado com um balde de água. Félix retirou a venda de um deles, o segurou com força pelos cabelos e o forçou a olhar nos olhos.

- Sua vida agora pertence a mim. Melhor dizendo, pertence ao canalha do Paulo Alves. Se ele fizer tudo o que eu pedir você e os outros voltarão para suas famílias, mas, se por um acaso ele não fizer, vocês voltarão também, porém em pedaços.

Romão o vendou novamente e cedeu espaço para o comparsa seguir com a seção de espancamento. A pancadaria foi brutal. Gritos abafados, ossos sendo quebrados, muito sangue e gemidos de dor. Satisfeito, o líder afastou seus asseclas e sacou um aparelho celular do bolso. Félix fez um curto vídeo dos policiais esparramados no chão. Na gravação ele apenas disse que às coisas podem ficar ainda piores para os pobres homens. Antes de encerrar o vídeo ele virou a câmera para ele.

- Paulo Alves, sei que a minha cocaína está com você. Eu a quero de volta. – encerrou o vídeo.

*

Naquela mesma madrugada o vídeo viralizou e chocou ao mesmo tempo. A imagem de três agentes da polícia amarrados com marcas de agressões deixou Luzia agitada, principalmente às autoridades. O DP enlouqueceu dentro e também fora dele. A imprensa cercou às ruas em torno, todos queriam ouvir da boca do chefe Ramos qual seria a atitude da polícia. Damião não saiu de sua sala. Gravata afrouxada. Mangas da camisa dobradas até os cotovelos e muito suor escorrendo da careca. Damião Ramos assistia pela milésima vez o vídeo quando Paulo chegou.

- Mais que droga Alves, onde estava? – gritou esmurrando a mesa.

- Em casa. – gaguejou.

- Eu estou com três homens em poder de um assassino de policiais e você em casa? Já assistiu ao vídeo?

- Calma, chefe!

- Não me peça para ter calma, garoto. Eu quero que você resgate meus homens e mate o Félix agora. – berrou. – o governador já me ligou trocentas vezes.

Alguém precisa pensar em meio a essa crise, mas antes disso, alguém precisa controlar Damião Ramos também. Nos corredores é possível ouvir seus berros e socos na mesa. Paulo Alves se sente um menino indefeso diante de um gigante furioso. De repente, Alves se vê com a responsabilidade de ter que dá uma resposta a altura ao bandido. Querendo ou não a sociedade cobra isso dele. Enquanto seu chefe assistia ao vídeo mais uma vez, ele foi até a janela. Abaixando a persiana ele pode ver a movimentação dos jornalistas lá fora em meio a madrugada. Luzia precisa de um herói. Paulo deixou a sala de Ramos e correu até a frente do DP. Como moscas os profissionais de imprensa rodearam o detetive.

- Como representante da lei dessa cidade, declaro que daremos uma resposta. Os familiares dos agentes podem ficar tranquilos. A polícia de Luzia resgatará nossos companheiros.

Feito isso, Paulo Alves voltou para o interior do departamento e correu para sua mesa. Ao passar pela sala do chefe o mesmo tentou bloquear sua passagem.

- O que pensa que está fazendo? – vociferou.

Alves engoliu o medo.

- Uns choram, outros gritam, esmurram mesa e se escondem. Eu prefiro agir. Com licença, senhor.

- Eles são meus homens e...

- São meus homens. Vou buscá-los.

Paulo Alves pegou sua arma, seu colete e a chave da viatura.

Júlio Finegan
Enviado por Júlio Finegan em 13/02/2021
Código do texto: T7183873
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