Incidente em Mesa Redonda
Eram dez da noite de uma sexta-feira, agosto de 1978, quando o policial de plantão no escritório do xerife de Mesa Redonda, Novo México, recebeu uma ligação comunicando o roubo de um carro.
- Seu nome? - Indagou o policial.
- Derrick Pennington. Estacionei o meu BMW 320i na porta de uma loja de conveniência e quando saí, ele havia desaparecido!
Formulário sobre a mesa, o policial pediu outros detalhes sobre proprietário e veículo: endereço residencial, placa, cor do automóvel.
- Havia algo de valor dentro do carro? - Inquiriu.
- Um toca-fitas, valendo uns 100 dólares. E uma caixa de papelão no porta-malas, com documentos pessoais.
O policial parou de escrever.
- São documentos valiosos? Títulos bancários, ações... que tipo de doumento?
- Não... são documentos que tem valor apenas para mim - afirmou Pennington.
O policial começou a tamborilar com a caneta na mesa.
- Se deseja que procuremos pelos seus papéis, terá que ser mais específico. De que tipo de documentos estamos falando, senhor Pennington?
O interlocutor pareceu ficar contrariado.
- Já lhe disse que são documentos pessoais... cartas, relatórios, esse tipo de coisa.
- Possuem o seu nome neles, ou algum tipo de identificação que permita reconhecê-los? - Insistiu o policial.
Pennington pareceu tomar fôlego.
- Bem... já que perguntou... eles estão carimbados em vermelho com "SECRETO" e "CONFIDENCIAL". Mas não é para valer, se me entende...
- Secreto e confidencial? - Repetiu calmamente o policial. - Está bem, senhor Pennington; vou emitir um alerta para todas as unidades. Nós entraremos em contato, caso alguma documentação com essas características seja localizada.
Quando Pennington desligou, o policial ligou imediatamente para o FBI.
- Derrick Pennington. Vocês têm alguma coisa sobre ele nos seus arquivos?
O agente do outro lado da linha retornou a informação poucos minutos depois.
- Se é a mesma pessoa, foi adido na nossa embaixada na Cidade do México, até 1975.
- Ele disse que tinha uma caixa cheia de documentos carimbados com "secreto" e "confidencial", no porta-malas de um BMW que foi roubado.
- Maldição! - Exclamou o agente. - Escute, não sei que tipo de documentos poderia ter em seu poder, nem o que fazia com eles, mas é importante que o xerife dê prioridade para este caso. Nós vamos enviar dois agentes para tomar o depoimento de Pennington, mas só devem chegar pela manhã.
- Está bem - aquiesceu o policial. - Vou avisar o xerife.
* * *
Na tarde de sábado, o BMW foi encontrado por uma patrulha nos arredores de Mesa Redonda, aberto e depenado. Não havia sinal da caixa de documentos.
- Vocês precisam encontrar a caixa - havia dito Pennington para os agentes do FBI que o procuraram na manhã daquele mesmo dia. - Eram apenas cópias do meu arquivo pessoal, mas em mãos erradas, podem causar um grande estrago nas nossas relações com o México...
- Você tinha em mãos documentação confidencial da embaixada? - Inquiriu o agente Grimes. - Com autorização de quem os reteve?
- Já lhe disse... eram apenas cópias, não originais - defendeu-se o ex-adido.
- Não importa. Você pode ser preso por isso - atalhou o agente Quinn.
Pennington abriu um sorriso autoconfiante.
- Creio que essa possibilidade é pouco provável... todavia, é preciso que descubram o paradeiro da caixa.
Surpreendentemente, no domingo de manhã, um grupo de garotos que brincavam num bosque próximo à igreja batista da cidade, viram algumas folhas de papel impresso espalhadas pelo mato. Quando perceberam que elas também apresentavam carimbos de "CONFIDENCIAL" em vermelho, e as armas dos Estados Unidos da América gravadas, acionaram a polícia. Pennington e os agentes foram chamados ao escritório do xerife, para avaliar a autenticidade do material.
- Sim, isso faz parte do conjunto que estava na caixa - informou Pennington ao ser apresentado às folhas recuperadas. - Mas parece que descartaram o que tinha menor valor; não há nenhuma página carimbada como "secreto" aqui.
Grimes e Quinn puderam então finalmente tomar conhecimento do que se tratava: aparentemente, negociações entre a embaixada americana e o chefão do Cartel de Sinaloa, Don Pedro. Os agentes coçaram a cabeça; se aquela era a parte menos explosiva do material, o que poderia haver no material extraviado?
- Ainda não sabemos o seu papel nesta história e o que fazia com essa documentação - disse Grimes para Pennington.
- Quanto menos vocês souberem, melhor - replicou o ex-adido.
As buscas pelo escritório do xerife de Mesa Redonda e pelo próprio FBI, revelaram-se infrutíferas; nenhum dos documentos secretos jamais foi recuperado. Derrick Pennington não foi acusado formalmente de nada, e poucos dias depois do incidente, deixou a cidade.
A única consequência atribuída indiretamente ao caso, foi a morte de Don Pedro, emboscado pelo exército mexicano semanas após o roubo dos papéis.
- [30-01-2021]