LINHA POLICIAL - Paulo Alves - Parte dois - Capítulo três

LINHA POLICIAL

Paulo Alves

Chegou a hora de atacar, mostrar para a vagabundagem que a polícia está com os olhos bem abertos. Paulo Alves reuniu sua equipe na saída do estacionamento do DP para uma última conversa. A ideia é capturar pelo menos um que faça parte da quadrilha e daí iniciar de fato a operação. Paulo achou melhor fazer uso das viaturas descaracterizadas.

- Rapazes, não será fácil, eu sei, mas, pior que não fazer nada é ficar medindo os esforços. Nossa cidade está sendo sitiada e os civis, a população de bem não tem a quem recorrer a não ser a nós. Vamos dar o nosso melhor e enjaular esses merdas.

Estaria Damião Ramos certo? Paulo Alves é realmente o líder tão esperado no meio policial? Apesar de ser ainda jovem na idade e novato na profissão, ele tem se mostrado um destemido soldado no campo de batalha e isso tem sido perceptível aos olhos de todos. Essa introdução no estacionamento provou mais uma vez de que a pessoa não se forma policial na academia, mas sim, se nasce policial. Um a um os carros foram saindo do DP. Destino traçado, todos focados, vamos ao combate.

Paulo sempre fez questão de conduzir a viatura. Para ele, um líder, para ser líder precisa estar a frente em tudo e não só verbalmente. Além do mais, dirigir para ele nos últimos dias vem sendo uma espécie de terapia. Mulheres, sempre elas, o motivo maior para que a vida de qualquer homem saia fora do rumo. Ele ama Janaína e pretende fazer com ela o que não conseguiu com Mara, construir uma família. Mas para que tudo isso venha se tornar realidade, o fantasma da ex precisa ser de uma vez por todas extirpado. Vale um telefonema? Lógico que vale.

Janaína Lopes estava concentrada em sua nova matéria quando o celular vibrou.

- Oi, amor, como vão as coisas? – Paulo.

- Estou enrolada, mas sempre tenho um tempinho para você. – respondeu digitando.

- Estou no meio da operação, estamos indo buscar essa casta dentro de casa.

- Tenha cuidado, essa quadrilha é especializada, não são amadores.

- Também penso assim, vou tentar chegar até o chefe ainda hoje.

- Vish, pelo visto meu detetive predileto vai chegar tarde em casa hoje.

- Acho que sim, por que, você tinha planos?

- Eu vou fazer uma receita nova que aprendi, mas tudo bem, vou deixar no forno pra você e por favor.

- Sim?

- Me acorde se eu estiver dormindo, quero transar.

- Ah, quanto a isso você não precisa se preocupar. – risos. – beijo amor, te amo.

- Eu também te amo meu gato.

Pois é, ao falar com a mulher amada o gás do policial foi renovado. Ele olhou para o companheiro ao lado que tentava em vão segurar o riso.

- Alguma novidade? – perguntou jogando o aparelho em cima do painel.

- Sim, nos mandaram ir para o próximo bairro, me parece que lá o índice de roubo é bastante alto.

- Passe um rádio para a equipe 2, mande-os pra lá, nós iremos seguir com o plano.

- Sim, senhor.

*

O carro da polícia parou enfrente a uma pequena loja onde há dois veículos a venda. O valor chamou atenção de Alves. O investigador desceu e andou apressado até um sujeito de mais ou menos cinquenta anos de idade que varria o estabelecimento no momento. Antes de entrar, Paulo deu uma nos dois veículos.

- Boa tarde, o valor é esse mesmo? – perguntou Alves.

- Exatamente. – continuou varrendo.

- Rapaz, mas, o valor dos dois, equivale a esse. – bateu no carro branco. – por que quer se desfazer deles?

- O senhor pode entrar, por favor? – se apoiou na vassoura.

O sinal de alerta de Paulo já foi acionado.

Dentro do estabelecimento há várias coisas a venda, desde discos antigos até capas de celulares, sem falar da poeira que orbitava no ar pesado. O homem foi para trás do balcão e se esforçou em se mostrar simpático ao suposto cliente.

- Agora podemos conversar mais a vontade. O senhor se interessou por qual deles?

- Bom, na verdade eu me interessei pelos dois e...

- Olha, se o senhor levar os dois eu ainda posso fazer uma pequena promoção. – sorriu.

- Tá de brincadeira? Vai ficar ainda mais barato? – fingiu estar surpreso.

- Claro. Então, vamos fechar negócio?

Rapidamente Paulo sacou sua pistola. O sujeito ergueu os braços e arregalou os olhos.

- Que tal você me falar de onde vem esses carros?

- Eles são meus...

- Chega dessa atuação ridícula. – mirou na testa. – então, vai me dizer de onde vem ou...

- Tá bom, tá bom, vamos conversar.

Paulo Alves o puxou de trás do balcão e o sentou com truculência. Devagar, mas com detalhes o comerciante foi revelando o esquema. Por precaução, Alves chamou um de seus homens para guardar a entrada da loja. Foram meia hora de conversa e no fim o sujeito pareceu arrependido e por que não dizer temeroso.

- Então o líder do bando é o tal de Peixe?

- Sim! – falou de cabeça baixa. – aí, meu Deus, aonde fui me meter. – tampou o rosto com às mãos. – ele vai me matar, vai acabar com a minha família.

- Você deveria ter pensado nisso antes de aceitar entrar no jogo. – despejou outro policial.

- Eu, eu não consigo tirar nem do aluguel o que vendo aqui na loja e do nada alguém me oferece semanalmente não só o do aluguel, mas o equivale a um ano de vendas. Eu não pensei duas vezes. Mas agora...

- Pois é. – disse Paulo. – o senhor será levado para o DP, quanto a sua família vou ver o que posso fazer. Feche a loja. Vamos lá pessoal.

*

Durante a volta para o DP o comerciante, instigado pelo agente sentado a seu lado, fez mais revelações sobre o chefe do bando e como funciona o esquema. Na verdade a loja só serve de fachada e periodicamente Peixe passa por lá para saber como está o andamento das coisas e é claro deixar o pagamento.

- Ex policial? – Paulo perguntou mais uma vez.

- O senhor promete proteger minha família? – chorou.

- Chico. – falou Alves. – pode deixar comigo, ainda hoje vou enviar uma patrulha na sua casa. Agora só me diga como funciona a parada.

- Já que o senhor está dizendo. – puxou ar. – vamos lá. O Antônio Carlos, quero dizer, o Peixe é o mandachuva e ele conta com o apoio do Felipe Chagas, o Filé, um sujeito cheio de marra, perigoso demais e...

Sorte. Alves sabe muito bem que não basta ser um bom policial, ele precisa contar com a sorte de vez em quando e hora. Passar por aquela rua e dá de frente com a loja do seu Francisco, além de ter sido usado o faro de tira, Paulo teve o auxílio das forças positivas que regem o universo. Assim acredita ele. O comerciante laranja entregou todo o esquema, mostrou como funciona as engrenagens.

- Muito bem, seu Chico, não vou prometer, mas vou tentar uma redução de pena para o senhor. – o carro desceu a rampa do estacionamento do DP.

- Tudo que eu mais quero é me livrar de vez do Peixe. Vou cumprir minha pena e quando tudo isso acabar, vou voltar para mim terra, viver do plantio. – desceu algemado.

Francisco foi conduzido por um agente enquanto Paulo pedia a todos que se juntasse afim dele refazer o plano. O detetive tem algo em mente. Ele sabe que a essa altura Peixe já deve ter sido informado sobre a ação da polícia. E ainda há um agravante, Antônio Carlos é um ex agente da lei e sabe quais são os padrões utilizados. Por isso o cuidado deve ser redobrado.

- Rapazes, o nosso alvo é perigoso e ele conta com ajuda de outro igual ao pior que ele, então temos que atacar às bases, enfraquecer o sistema. Se preparem, daqui a meia hora sairemos.

Chefe Damião está no corredor falando ao celular acompanhado de outro policial apaisana. Mesmo distante é possível saber que a montanha negra, um dos seus apelidos da época em que atuava nas ruas, se encontra nervoso. Paulo se aproximou e cumprimentou os colegas.

- É sobre a operação? – perguntou o agente de terno e gravata.

- Sim!

- Acho que você terá um novo membro na equipe. – apontou para Damião que guardava o aparelho no bolso.

Alves torceu a boca.

- Soube que teve êxito nessa primeira fase, cadê o laranja? Vamos arrancar mais informações dele.

- Já fizemos isso. Antônio Carlos. Conhece?

Damião apertou os olhos.

- O Peixe? Achei que já estivesse morto. Ele era um péssimo profissional, um mal exemplo.

- Ele comanda a quadrilha, ele e um tal de Felipe Chagas, Filé.

- Já ouvi falar desse tal Filé. – falou o outro agente. – barra pesada, matador impiedoso.

- Então, detetive Alves, qual o plano? – Damião cruzou os braços ficando ainda maior.

- Peixe tem outras base, vamos ataca-las.

- Um bom plano, enfraquecer o sistema. – falou o engravatado.

- Sairemos daqui a poucos minutos, o senhor vai mesmo compôr a equipe?

- Se me aceitarem, é claro. – sorriu. – vai ser bom sair um pouco da burocracia e viver novas aventuras. Então, detetive Alves, me aceita como membro de sua equipe?

- Vamos nessa, montanha negra. – se empolgou batendo no braço do chefe. – opa! Me desculpa chefe.

*

Se Antônio Carlos achava a vida de agente da lei algo sem futuro, sem perspectiva, imagina agora atuando contra a lei. Na época em que defendia as cores do estado, ele não passava de um soldadinho mequetrefe, mal caráter que vivia abusando das garotas de programa e extorquindo traficantes. Na verdade, Peixe já era um bandido antes de ingressar na polícia. Sua adolescência e parte da juventude foram marcadas pelas badernas, saques e pequenos assaltos. Hoje ele lida com muita grana, algo que ele sempre almejou. Antônio construiu sutilmente um império onde há homens trabalhando para ele em toda cidade. Se ele acha tudo isso perigoso? Sim! Quanto mais poderoso, mas os seus aliados e rivais desejam sua queda e assim poder assumirem seu trono. Peixe não confia em ninguém e desconfia de todos.

Peixe é tão cismado que ele mesmo se encarrega de fazer a contabilidade. Desconfiar é pouco. Filé entrou na sala trazendo péssimas notícias.

- Chico caiu. – despejou.

- Merda. – parou de contar. – já deve ter entregado nosso esquema. E a família dele, já deram jeito?

- Sumiram.

- Eu ainda disse que ele não era de confiança. E as nossas outras bases?

- Reforçamos a segurança.

- A polícia vai cair dentro. Peça a rapaziada que coloque quente pra cima deles, atirem pra matar mesmo.

- Deixa comigo.

Vida de cão. Vida sem paz. Chegou o momento de lutar pelo que conquistou. Ele abriu a primeira gaveta e pegou sua arma e a deixou sobre os maços de dinheiro.

- Venham me pegar, seus vermes.

Júlio Finegan
Enviado por Júlio Finegan em 17/09/2020
Código do texto: T7065723
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.