LINHA POLICIAL - Paulo Alves - Parte dois - Capítulo dois

LINHA POLICIAL

Paulo Alves

Depois de assistir exaustivamente a todos os vídeos sobre roubo de carros e de fazer anotações, Paulo se viu louco por um café fresco e forte. Ao se levantar, uma breve alongada na lombar e nos braços. Posicionando o copo na máquina ele voltou a pensar em Mara. O que ela estaria fazendo nesse momento? Com quem está compartilhando a vida? Por que o traiu? Ele a amava de verdade e chegou a imaginar constituir uma bela família com ela, porém ele não sabe se isso também era os planos dela. Pelo visto não. Ele não foi o bastante para Mara. O copo transbordou. Até nos pensamentos Mara o atrapalha. Sacanagem.

Após limpar a sujeira Alves voltou para sua mesa que por sinal está uma bagunça. Ao se acomodar tomando seu café extraforte o celular vibrou entre a papelada. O nome no visor o fez sobressaltar.

- Mara?

- Oi, amor, posso dar uma passadinha aí?

- Mara, eu estou trabalhando e mais uma coisa, vê se me esquece, acabou, estou em outra, tenha dignidade, caramba.

- Dúvido você conseguir falar tudo isso pra mim pessoalmente.

- Não me provoque.

- Venha, estou no bar ao lado do departamento.

Paulo enxergou nessa situação a chance de colocar um ponto final nessa história. Será complicado, mas é preciso resolver. Enquanto sua ex falava com seu tom de voz meio rouco, Alves sentiu que estava apertando o aparelho de tanta raiva. A raiva em si não era só por Mara, mas sim pelo fato dele ainda não conseguir resistir aos encantos dela.

- Tudo bem, Mara, cala a boca. Estou descendo.

*

O rapaz bem vestido deixou a loja de artigos para o lar segurando duas sacolas. Entrou em seu carro e deu a partida saindo devagar da área reservada para clientes. Ao pegar a via, outro veículo deu a partida também.

- Dá hora esse modelo. Peixe vai vibrar. – disse o motorista.

- Deve valer uns vinte mil, ou mais. – completou o outro segurando uma pistola.

- Eu já estou de olho nesse há dias e hoje ele não me escapa.

- Beleza, vamos esperar um mole dele.

Lá fora o carro visado pelos bandidos sai da principal e entra numa secundária de baixo movimento. Depois de andar mais trezentos metros o carro de trás acelerou e ficou lado a lado com ele. O homem armado abaixou o vidro, apontou a pistola e o rendeu.

- Desce do carro, vamos, vamos.

Nervosa, a vítima abandonou seu bem e correu para a calçada. O vagabundo o fez voltar simplesmente para agredi-lo com chutes e coronhadas.

- Caraca, deixa o cara, vamos embora. – gritou o motorista.

- Seu merda. – mais um chute. – otário. – entrou no carro roubado e se foi.

Revoltado, machucado, impotente, assim ficou a vítima sentada na calçada tentando ligar para a polícia. Moradores daquela rua ao ouvirem a confusão deixaram suas casas e foram ao encontro do rapaz lhe prestar socorro.

- Meu jovem, você está sangrando na cabeça, venha, entre. – falou um senhor.

- Essa rua está a cada dia mais perigosa. – comentou outra moradora.

Por fim ele foi atendido.

- Alô, por favor, acabaram de levar meu carro, me bateram, foi aqui na rua...

Na verdade tudo o que é preciso fazer é simplesmente uma reforma na segurança pública. Entra governo, sai governo e nada muda, pelo contrário, só piora. A instituição policial já perdeu sua credibilidade há anos. A corrupção faz parte e está entranhada dentro dos batalhões. O que mais se ouve falar é de comandantes envolvidos com traficantes ou chefiando milícias, com isso, toda a confiança que a população tinha na corporação foi pelo ralo.

Mais nem tudo está perdido, nem todos são corruptos, há sim quem queira fazer um trabalho sério, honrar seu juramento. Homens como Paulo Alves e chefe Damião Ramos que amam a polícia e se doam sem medir esforços para o bem de toda uma cidade. Esses sim são os verdadeiros heróis.

*

Mara, sinônimo de mulher gostosa. Tudo nela chama atenção. Olhos, boca, pernas, quadril, seios, é difícil não passar por ela não se excitar. Vestido vermelho um pouco acima dos joelhos e um decote gritante. Pernas cruzadas e tomando um refrescando suco de abacaxi com hortelã, essa é a incrível Mara Santos.

- Você precisa entender que eu já estou em outra. – falou mais uma vez Paulo salivando olhando para a enorme boca da mulher.

- A tal jornalista, qual o nome dela mesmo? – sorveu mais suco com o canudo.

- Janaína Lopes.

- Eu a vi, bem sem graça ela hein, sou mais eu.

- Você não a conhece, ela é uma mulher maravilhosa...

- Você também falava isso pra mim, principalmente quando fazíamos amor, lembra?

- Pois é, e mesmo assim você me trocou por outro, eu nem sei porque eu estou conversando com você aqui. – se levantou.

De maneira proposital Mara esbarrou em seu molho de chaves as jogando no chão. Educadamente Paulo se abaixou para pegá-las. Na mesma hora Mara descruzou as pernas. Inevitável. Como se fosse um ímã. Paulo pode conferir as partes íntimas descobertas da mulher.

- Você não resiste, detetive Paulo Alves, você é como todos os homens. Gostou?

Paulo ergueu o corpo e deixou o molho em cima da mesa e olhou nos olhos dela.

- Você não presta, Mara. Não presta nem um pouco. – saiu.

*

Assim que Alves colocou os pés no DP alguém o informou sobre a solicitação do chefe. Damião mais uma vez se sentiu desafiado ao saber de mais um roubo de carro em menos de vinte quatro horas quase que no mesmo lugar. A temperatura subiu e Ramos se encontra pronto para a guerra se preciso for. Paulo Alves entrou na sala do gigante negro com sua expressão fechada, como é de costume.

- Alves, quero uma viatura em cada esquina, temos que encurralar esses vermes até eles saírem dos buracos. – Socou a mesa.

- Calma, chefe, vamos pensar com calma.

Damião ficou com o braço estendido e com a mão aberta durante um tempo.

- Está dizendo que eu não estou pensando, é isso? – falou com os olhos faiscando.

- Não, eu não quis dizer isso. Eu só quero que o senhor se acalme, tá bom?

Ramos deu as costas para o investigador e colocou as mãos na cintura e depois esfregou o rosto. Deve ter contado até dez, pensou Alves.

- Tenho que admitir, você está certo. – se virou ficando de frente. – o que você tem em mente? – puxou a cadeira e se sentou.

- Fiz um levantamento. Comparei alguns números. Chequei pontos. Estamos diante de uma quadrilha especializada. Eles querem fortuna e estão conseguindo.

- Houve mais um, agrediram o rapaz. – expirou.

- São os mesmos. É a marca desses vermes, eles não se satisfazem em somente tomar o seu bem, querem marcar a pessoa.

- Entendi. Bom, o que pensa em fazer, Alves?

- Não será um trabalho fácil, digamos que teremos que caçar quem está na ponta da linha para capturar o tubarão.

- Tem a minha permissão para seguir com a operação. – se recostou e esfregou os olhos. – feche a porta quando sair.

Ao ficar novamente sozinho, Damião voltou a socar a mesa. Paulo estava certo. Policial que troca tiro com bandido é policial burro. É preciso pensar, fazer uso de inteligência também. Defender o povo dessa cidade, quem disse que seria coisa fácil? Esse é o preço que se paga quando se tem polícia correndo nas veias e justiça batendo forte no peito. Ele confia no trabalho do novato, ele não sabe o porquê, mas algo lhe diz que Alves ainda será um líder e tanto.

*

Os homens de Peixe cautelosamente abriram o portão para o chegada de mais dois produtos. Armados com fuzis eles revistaram os dois homens e depois os levaram para o escritório do chefe. Na chegada mais uma surpresa. Na mesa de vidro vários maços de notas de cem, cinquenta e vinte reais. Antônio de pé olhava para elas.

- E aí, meus caros, vamos terminar logo com isso, quanto vai me custar as duas maravilhas lá em baixo?

- Trinta mil, cada. – disso o mais magro e alto.

Peixe cruzou os braços e olhou para Filé.

- Que tal trinta nos dois? – Zombou o braço direito de Peixe. – certo, chefe?

- Certíssimo, Felipe Chagas. – riu.

- Qual foi, Peixe, você nunca aceita o que a gente pede, assim fica difícil. – declarou o gordo.

- Você acha mesmo difícil? – saiu de trás da mesa. – vou dizer uma coisa seu ladrão de merda, tem sorte de eu estar num bom dia hoje senão as coisas iriam ficar bem ruins para os dois.

- Vamos fazer o seguinte. – tomou a palavra o magro. – aceitamos os trinta mil nos dois, mas, a partir de hoje não trabalhamos mais para você. Certo?

Silêncio entre as partes.

- Legal. – Peixe andou até Filé. – vá com eles. – bateu no ombro do comparsa. – receberão o dinheiro.

Os dois foram levados para os fundos do galpão. Filé conectou o silenciador na pistola e os matou.

- Ninguém brinca com o Peixe.

Júlio Finegan
Enviado por Júlio Finegan em 08/09/2020
Código do texto: T7057655
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