Enigma 5 parte 2

Apesar de estarem em um cenário que convidava mais a um banho de mar que a uma investigação policial, Luís e Hector contemplavam as próprias surpresas em notar que a cabana estava vazia. Não tinha nenhuma vítima lá, embora as pistas sugerissem isso. O jeito era voltar à estaca zero. Ou melhor, quase zero, afinal chegar até a cabana por um caminho sinuoso já era uma grande jornada.

E assim fizeram. Reviraram de um lado para o outro para procurar alguma pista, mas nada além de uma velha escrivaninha, com uma cama encostada na parede, instalada a frente de uma janela. Apesar de estarem próximos a praia, Luís se perguntou o porquê dessa janela voltada pra vegetação, pra colinas ao fundo. Significaria algo?

Na ausência de pistas, decidiu olhar pela janela para ver qual o cenário que ela escondia. Olhou e olhou, até perceber uma fumaça que via ao fundo, como se alguém estivesse fazendo uma fogueira. Aquilo lhe parecia suspeito, especialmente por estarem numa praia, de difícil acesso, em uma cabana que poderia ser habitada por surfistas ou pescadores, ou seja, alguém que não se importasse tanto com o acesso com a civilização. Então, por que raios tinha fogo numa parte ainda mais distante da praia?

Ali tinha alguma coisa escondida. Seus instintos diziam isso. Apesar de já ter errado em algumas ocasiões, não tinha lá muita opção. Era o último desafio a ser cumprido, talvez o caminho para pegar a gangue que causou tanta confusão e dor para ele. Não precisava ter medo de apostar. Agora, era matar ou morrer.

- Hector, você viu?

- Vi o quê?

- Aquela fumaça ali ao fundo, você acha que tem alguém escondido lá?

- Hmmm, rapaz, agora que você disse acho que tem chance sim.

- Vamos lá olhar?

- O caminho pra lá não parece ser tão acessível, mas o que temos a perder, não é?

- Exatamente!

- Por favor, guie o caminho.

- Vamos!

Luís guiou o caminho com confiança. Depois de uns 20 minutos caminhando, começaram a ouvir vozes, o que os fez atrasar as passadas. Qualquer erro naquele local poderia levá-los a uma emboscada com poucas possibilidades de auxílio. Era preciso tomar cuidado mesmo no limite da exaustão e do esforço.

Então, decidiram se dividir. Luís foi por um lado e Hector pelo outro até chegarem perto da fogueira. Entretanto, para surpresa deles, a fogueira estava apagada. A madeira queimada tinha areia e água, mas ainda exalava o cheiro do fogo. Não resta dúvidas de que aquilo foi um trabalho recente. Os responsáveis por apagar a fogueira deveriam estar por perto e, quem sabe, com a última vítima.

A tensão estava no ar. Todos os passos eram dados com cuidado, afinal não se sabia de onde poderia ver um tiro, um golpe, ou uma armadilha. Tudo era um perigo em um terreno desconhecido. No fim das contas, a armadilha veio do lugar em que menos se espera. Em menos de um minuto, Hector e Luís estavam abatidos por dois dardos atirados no meio das árvores.

Foram então arrastados e amarrados pendurados pelos braços em uma árvore. Ao lado deles, estava a última vítima, essa amarrada com os braços pra trás em uma cadeira. A fogueira, apagada, voltou a ser acesa. Agora, estavam à mercê do inimigo. Entre eles, uma surpresa nada agradável…

- Acorda pra cuspir, vagabundo! Tudo acaba aqui e agora.

- Hein, o quê?

- Ai, ele é tão bonito, a gente tem que matar mesmo? Não pode brincar mais um pouquinho?

- Não, ele já me deu trabalho demais. Mas você brincar com o outro ali.

- Ah, que chato…

- É a vida, minha querida – falou enquanto acendia um cigarro – é assim.

- Você é o Jacó? O que diabos faz aqui? E ainda está junto com eles? Como? Por quê?

- Olha, até que você é esperto! Eu estou pra defender meu território! Não vou deixar nenhum moleque qualquer ficar com a minha promoção!

- Promoção? Moleque? O que diabos você tá falando?

- Ah, você não sabia? Hector pode explicá- lo por favor?

- O seu desempenho chamou a atenção dos chefes de polícia, Luís. Ao fim desse caso, você receberia um convite para trabalhar como detetive fixo na delegacia.

- Sério? E por que isso irritou o pamonha aqui?

- Pamonha? Ora, seu moleque! Você estava pegando o que é meu por direito e isso, eu não aceitarei!

- E eu lá estou interessado no seu trabalho, velho? Estou tão surpreso quanto você!

- E agora, não vai ter mais pra que não é? Últimas palavras?

- E vai se livrar de mim e de um investigador do FBI, assim tão fácil?

- Como você bem disse, um investigador particular não faz tanta falta não é?

- Hahaha, hahaha, hahaha!

- Qual a graça, rapaz? Você está entre a vida e a morte e ri?

- Ó dona, sério mesmo que você se associou a esse daí? E vai deixar ele “roubar” o seu desafio assim tão fácil?

- Deixa-a fora disso!

- Hohoho, ficou bravinho é? Tão fácil ser machão quando se tem tudo na mão, né?

Nesse momento, Jacó se dirigiu até Luís e desferiu um tapa na sua face, exaltando toda a sua raiva.

- Aí, não faz isso com ele, um rosto tão bonito e a gente vem jogando tão bem. Tem certeza que não pode deixá-lo vivo?

- O quê? Você está com pena desse verme?

- Ah, pra que acabar com a diversão né? Deixa vai?

Apesar de toda a impaciência de Jacó, doido para acabar com tudo, a chefa da gangue conseguiu puxá-lo de canto para conversar, enquanto os seus auxiliares ficavam vigiando os presos. Nesse momento, Luís deu uma olhada para Hector com o intuito de colocar um plano em ação. Uma troca de gestos, baseado no que Luís observou dos assistentes de Jacó e da gangue. Daria certo?

O andarilho.

Rousseau e o Andarilho
Enviado por Rousseau e o Andarilho em 07/09/2020
Reeditado em 22/09/2020
Código do texto: T7057170
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