LINHA POLICIAL - Paulo Alves - Parte Dois - Capítulo um

LINHA POLICIAL

- Paulo Alves –

A violência é um monstro que impede toda uma sociedade de crescer e evoluir. Temos medo de sair durante o dia e principalmente a noite quando esse monstro toma proporções gigantescas e consome vida por vida. Medo, essa é a palavra que não falta no vocabulário de quem já foi abordado por esse terrível mal assolador. A violência se apresenta de várias formas. Estupros, sequestros, agressões, roubo seguido de morte, arrastões, entre outras vertentes. O pior de todas essas ações são as de quem deveria estar nas ruas combatendo-a, financiam o crescimento do monstro. Homens de terno e gravata, sentados em seus gabinetes. Bandidos de farda. Esses contribuem para que o câncer assuma o controle com sua metástase e mate sem piedade o cidadão de bem.

Nos últimos meses o roubo de carro cresceu assustadoramente ao ponto de haver a incrível diminuição de veículos circulando nas ruas. Já não bastasse você perder o seu bem conquistado com suor, a vítima é agredida não importando idade, limitações físicas ou sexo. Os bandidos levam seu carro e lhe deixam um trauma marcado na pele. Covardes. Quem se arrisca, antes de sair de casa recorre a fé para buscar proteção e assim foi com a família Barbosa.

Carlos esperou com paciência tamborilando os dedos no teto do veículo a saída da esposa. Dentro do carro seus filhos, ainda sonolentos também aguardam a vinda da mamãe.

- Papai, vamos chegar atrasados na escola. – disse a menina.

- Podes crer que sim. – respondeu a olhando pelo vidro.

Por fim ela chegou. Maquiada, perfumada e muito bem arrumada, arrancando aplausos do marido apaixonado. A primeira missão de Carlos antes de ir para o escritório é deixar seus rebentos no colégio. A segunda é levar sua mulher até a rodoviária onde ela trabalha como atendente e pronto. O carro mal pegou a via principal e dois sujeitos armados numa moto os abordou aos berros. Pois é, mais um bem conquistado com sacrifício será levado e o que é pior, às vítimas não terão a chance de se defender. Como ordenou os meliantes, Carlos encostou o carro. Dentro do veículo a mãe tenta sem muito sucesso acalmar as crianças, talvez por que ela mesma esteja tão desesperada quanto aos seus filhos.

- Perdeu, desce. – falou o que descia da garupa segurando uma pistola.

A demora começou a irritar os vagabundos que iniciaram com as agressões. Carlos foi puxado a base de socos e coronhadas na cabeça.

- Calma, cara! – gritou.

A esposa conseguiu retirar o casal de filhos e se afastar com os dois em seu colo. Outros carros ao verem a ação criminosa davam marcha ré e enquanto isso o chefe da família Barbosa era surrado deitado no asfalto.

- Tá bom, ele já aprendeu a lição, vamos embora. – falou o piloto da moto.

Carlos Barbosa acompanhou deitado seu veículo sumindo de sua vista ao som dos choros dos filhos. A sensação de impotência é arrebatadora, principalmente quando atinge ao homem. Ele prende o choro quando as pessoas vão a seu socorro e tudo o que ele quer é o abraço de sua família. A violência saiu ganhando mais uma vez. Até quando isso? Até quando iremos nos sentar diante da tela do televisor a sermos noticiados sobre mais um caso de roubo, morte, sequestro e Eteceteras?

Carlos se colocou de pé com a revolta saindo pelos olhos. Notou que havia um jovem filmando toda a situação e foi até ele.

- Meu jovem, aonde pretende postar esse vídeo?

- Em todas às minhas mídias. – respondeu meio trêmulo.

- Ótimo, jogue o zoom, foque o meu rosto.

*

Janaína ainda dormia quando Paulo recebeu um vídeo de dois minutos pelo whatsapp. Um vídeo de um cidadão aos prantos fazendo sua denuncia, “ Levaram meu carro, me agrediram, meus filhos não param de chorar e minha mulher está a base de remédio. Até quando iremos suportar isso? As autoridades polícias deveriam ter vergonha, os criminosos estão dominando nossa cidade, nosso país. Por favor, façam alguma coisa”. Alves pausou o vídeo, já ouviu o bastante. Janaína acordou com o áudio alto do vídeo.

- Bom dia. – falou bocejando. – posso ver?

- Bom dia. – a beijou. – ainda hoje vou iniciar uma operação. O número do roubo de carros aumentou absurdamente. Acho que deixamos de olhar para essa questão.

- Acha que existe uma quadrilha por trás disso? – se sentou.

- Acho não, tenho certeza. – entregou o telefone. – vou tomar um banho e sair fora.

A jornalista ouviu e viu o vídeo, mas também leu a mensagem de Mara para Paulo e não gostou do teor da conversa. O relacionamento entre o agente e ela vai bem, ambos estão se curtindo bastante. Pelo visto, a ex de Alves ainda não se resolveu emocionalmente. Janaína tocou na foto de perfil e a mesma mostrou uma mulher estupidamente linda, gostosa, dona de um sorriso mágico capaz de enfeitiçar qualquer marmanjo. Paulo Alves voltou do banho enrolado na toalha.

- O que achou?

- Do vídeo ou da mensagem da Mara?

Alves encolheu os ombros.

- Pois é, eu iria te mostrar, mas acabei esquecendo. Não vou mentir, temos nos falado com frequência.

- Sobre? – cruzou os braços.

- Mara ainda não deu por encerrado o nosso lance. – colocou as mãos na cintura.

- E você, já deu por encerrado? – segue com os braços cruzados.

- O que você acha?

- Bom, eu não chego aos pés dela, mas...

- Janaína, por favor, esquece isso, estamos juntos agora, você é tudo que importa para mim. Deixe Mara prá lá. Você é uma negra sensacional. – sorriu.

- Mesmo?

- Sim!

- Então vem aqui, você vai receber um prêmio.

*

Antônio Carlos, mais conhecido como Peixe desde quando ainda defendia as cores da polícia. Antônio Carlos hoje comanda uma poderosa quadrilha, especializada em furto e roubo de veículos. O esquema é o seguinte; o grupo menor pega o produto na rua e o leva até o galpão onde será desmanchado e suas peças vendidas. Peixe paga pelo trabalho do grupo menor. Já o grupo maior o acompanha nas grandes negociações. Peixe, como todo mafioso, tem seu braço direito, Felipe Chagas, o Filé. Perigoso. Filé é o assassino mais letal que Antônio já conheceu. Bom com números e intimidador, perfeito para ser o segundo homem na ausência do chefe.

Mais um veículo é negociado, exatamente o carro da família Barbosa. Peixe analisa demoradamente o material. A seu lado, Filé, portando uma metralhadora apontada para o assaltante. Antônio joga o cigarro fora e o amassa.

- Carro de família metida a besta, mas é bom. Quanto você quer nele?

- Pensei em dez mil. – disse gaguejando.

- Pago quatro.

- Mas, ele vale mais de sessenta mil, que tal sete mil?

- Que tal o Filé te fazer de peneira?

O sujeito engoliu seco e se afastou.

- Pago quatro e não se fala mais nisso. – pegou outro cigarro.

- Já é então. – coçou a nuca.

- Filé, dá o dinheiro dele. Estarei no escritório caso haja qualquer problema, ok?

- Deixa comigo.

Peixe estava subindo as escadas que leva ao seu escritório quando recebeu outra ligação. Mais um carro mais dessa vez um baita produto.

- Sério? Sem nenhum arranhão ou amassado? – pausa. – caramba, precisou balear o cara? Azar o dele. Trás aqui, vou avaliar. Quanto você quer nessa máquina? – arqueou as sobrancelhas. – ótimo, apareça aqui as 16 horas hoje. – entrou na sala. – faremos um bom negócio meu caro, um bom negócio. – se jogou na cadeira.

*

Chefe Damião Ramos observa a grande movimentação da cidade de pé segurando a persiana. Está um dia claro, com um sol jorrando seus raios que são refletidos em toda parte. Como pode, uma cidade linda, moderna como essa servir de palco para bandidos? Como pode o governo federal não fazer nada, o governo estadual fechar os olhos e tão pouco o municipal. Poucos são aqueles que a amam e querem o bem dela. Seria ele o único a pensar assim? Claro que não. Ramos tem em seu DP os melhores profissionais, homens que dariam a própria vida em favor da população.

Ele deixou a janela e se sentou. No encosto da cadeira o seu paletó repousa. Em sua mesa diversas ocorrências, casos em andamento e outros que ainda não foram solucionados. Damião não sabe por onde começar. Paulo bateu na porta e a empurrou em seguida.

- Atrapalho?

- Não. O que houve, por que o atraso? – entrelaçou os dedos.

- Tive contratempos, me desculpe, chefe. – se acomodou.

- Antes que eu me esqueça, fez um belo trabalho na operação Boi de carga, conseguimos desarticular uma quadrilha inteira de uma só vez.

- Valeu! – ruborizou. – senhor, quero iniciar uma nova operação. Veja esse vídeo.

Damião assistiu ao vídeo com sua expressão mudando a cada segundo. Ele devolveu o celular ao detetive e depois voltou para a janela. Se Paulo percebeu o abatimento do chefe? Sim, claro que percebeu.

- Chefe? O senhor está bem?

- Inicie essa operação imediatamente, Alves. – se virou para o policial. – se eles, presidente, governador não fazem nada para proteger a cidade, nós faremos. Vamos prender esses vagabundos.

Paulo Alves deixou a sala do chefe empolgado, mas também bastante intrigado. Nesses quase dois anos trabalhando no DP ele jamais viu os olhos de Damião faiscarem daquela forma. Um justiceiro, foi isso que ele viu lá dentro, um homem com sede de justiça. Determinado a honrar essa vontade de seu superior, Alves ligou o computador e digitou no Google “ roubo de veículos” logo apareceu diversas páginas falando sobre o assunto. Vítimas, mortes, números de roubos, depoimentos entre outras coisas.

- Hora de enjaular esses bichos.

Júlio Finegan
Enviado por Júlio Finegan em 01/09/2020
Código do texto: T7052362
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