- João, me ajude! Por favor! Não fui eu!

Bartolomeu, João Bartolomeu! – deixe-me apresentar! Sou advogado criminalista. Levo meu escritório em meu velho Del Rey preto. E atendo clientes que, em geral, me pagam bem e gostam dos meus serviços.

Também gosto de ajudar os outros. Assim quando vejo uma justa causa, abraço-a e mergulho de peito e alma!

Aquele que me chama se trata de um jovem arquivista, funcionário de um grande escritório. Acusado injustamente e sem provas, está mantido sob cárcere por suspeita de homicídio.

Uma secretária, na volta do trabalho, fora brutalmente assassinada, durante um assalto na esquina de um beco escuro. O jovem estava na hora errada no lugar errado! Batata! Policiais à paisana de passagem pelo local o prenderam!

Da prisão, com direito a um telefonema, não hesitou e prontamente me contactou na primeira oportunidade. É filho de uma diarista que trabalha em minha casa há anos. Não hesitei também e logo fui a seu encontro.

Na delegacia, logo ao chegar, conversei com o delegado e os investigadores. Caso cabeludo!, pensei. Mas pude argumentar e provar a inocência do jovem mancebo bom barrete. Uma advogada do escritório em que ele trabalhava, colega minha da época da faculdade, presenciou o crime e viu o rapaz sendo preso injustamente pelos policiais. Quando cheguei na delegacia, ela lá se encontrava e assim acertamos os ponteiros.

Liberado, agradeceu muito a nós dois! Sua mãe no dia seguinte, me trouxe um bordado e um bolo de fubá! – disse que eu aceitasse em sinal de gratidão! Não pude recusar!

A noite havia sido longa. No dia seguinte, sábado de manhã, entrei em meu Del Rey e fui passear pela Serra da Cantareira, fiscalizando o verde, a natureza e a fauna. Em minha companhia, minha colega de faculdade que não via há anos!

Em certo local reservado, privilegiado pela natureza, montamos um piquenique com quitutes e vinho de supermercado. Acendi meu charuto holandês barato e soltei umas baforadas pelo ar. E juntos jogamos cartas durante a linda tarde do final de semana.

Após comes e bebes, folheio o jornal. “Procura-se advogado criminalista”, vejo nos classificados. Havia somente as iniciais do escritório e um e-mail. “Precisam de advogado”, penso. Pego meu smartphone e envio uma mensagem. A resposta chega logo sem avisar.

“Encontre-me, na segunda, pela manhã na Av. Paulista próximo à Livraria Martins Fontes.” – simples e direto. Terminei meu fim de semana e na segunda fui ao encontro.

Encontrei o velho advogado de cabelos grisalhos, terno preto e gravata vermelha e sapatos italianos pretos engraxados. Tomamos um café e conversamos. Quis me conhecer e conversar sobre Justiça Restaurativa e princípio da bagatela e a metafísica do direito, ou ainda, direito quântico.

Disse que vinha conversando com alguns advogados e ouvindo suas opiniões. E que escolheu o jornal impresso para anunciar, pois queria falar com quem ainda lê jornal impresso, já que hoje todos leem notícias pela internet e pelo whatsapp.

Depois de algum tempo, desabafou e confidenciou:

- Quer saber! Às favas! Vou anunciar na OLX! Fazendo bem, que mal tem? Hoje só dinossauros anunciam em jornal! Quero ouvir essa juventude pujante! Vou anunciar nas redes sociais! Facebook, Twitter e Instagram e impulsionar as publicações! Sem medo de ser feliz! Ah! A mercantilização do direito, dizem. Nossa profissão é nobre! Sem dúvida! Humana! Empática! Altruísta! Mas nem por isso, devemos negar a modernidade! Vou fazer pró-bono e ajudar os que precisam! Obrigado! Muito bom falar com o dr!

E, após se despedir, deixou o café pela metade e, saindo às pressas, deixou também um livro velho empoeirado em cima da mesa, partindo rumo a uma caminhada peripatética, sem destino, pelo coração financeiro da América Latina! Sem que desse tempo de o avisar!

Sentado à mesa, mando um whats para minha amiga. Vamos almoçar juntos! E penso... até o próximo causo!

Gostou? Quer conhecer mais estórias do J.B.? Visite e conheça: www.palavraserascunhos.wordpress.com . Não gostou? Não faz mal! Só não leia mais! Mas, por favor, não se esqueça de ligar ou mandar um whats para o J.B. p/ dizer um Oi! Nos vemos nas próximas causas... Até!