Anjo da morte de estimação

- Calma, calma, quase na mira... Foi

- Aí Stive, avisa o delegado que o chefe do morro caiu.

- Vai lá, pega Morte... Pow

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Nascido e criado no Rio de Janeiro, zona oeste, sempre sonhei em entrar para polícia, desde de pequeno, quando se é criado no morro ou você ama a bandidagem ou odeia, e eu meu amigo, eu era do grupo que odiava.

Ao completar 18 anos já entrei em uma faculdade para conseguir meu diploma e poder ingressar na Polícia Federal, pois o concurso é de nível superior, eu sempre admirei todas as policias, mas venhamos e convenhamos que a PF é a mais foda. Aos 22, exatamente no ano que terminei meu curso, não abriu concurso para minha tão sonhada instituição, porém, coincidentemente estava para sair o edital da Polícia Civil do RJ e fazia uns 2 anos que eu estava estudando para a Federal, obviamente passei fácil nesse concurso e aos 23 já havia tomado posse como investigador da Polícia Civil do Rio de janeiro.

Sempre gostei das operações, olhava o pessoal do CORE, basicamente a tropa de elite da polícia civil, e eu vibrava de emoção, mas meu sonho era maior, era proteger meu país e não apenas meu estado, passou 1 ano de polícia, e em 2009 veio a tão sonhada prova, eu não havia parado de estudar em nenhum momento, sabia muito bem o que queria.

O dia esperado chegou e eu fui com sangue nos olhos para conquistar meu sonho, para quem não sabe, a banca que organiza o concurso é a CESPE e lá, cada questão errada anula uma certa, ou seja, é prova de alto nível, você literalmente não pode errar... Bom, passei. Houveram outras etapas, o exame médico, o psicotécnico, o TAF (Teste de aptidão Física) e finalmente faltando uma semana para o meu curso de formação, uma semana para os 5 meses finais da realização do meu sonho, eu recebo um telefonema do meu pai, minha mãe havia ido visitar minha avó que morava no pé de um morro na Praça Seca, um bairro aqui do Rio de Janeiro, e acabou levando um tiro de bala perdida e veio a óbito.

O que aconteceu naquele dia?? O CORE estava subindo a favela com seu caveirão, estavam em uma operação contra o tráfico de drogas do Comando Vermelho e minha mãe estava próxima ao portão da casa dos meus avós quando simplesmente a bala da arma do desgraçado de um bandido a atingiu (foi comprovado pela perícia que não foi disparado pelos policiais) e no instante que eu recebi essa notícia o meu sonho mudou, eu era caveira porra, eu ia entrar na PF pra trabalhar na fronteira, combater o contrabando, tráfico de drogas, de armas, eu queria operacionalidade, nunca gostei de ficar na delegacia atendendo B.O, eu queria estar na linha de frente e iria estar, mas naquele exato momento que meu pai me deu a notícia eu falei, “Foda-se a Federal, eu vou subir cada favela no Rio de Janeiro pra vingar a morte da minha mãe”.

Porra, eu já estava com a passagem comprada pra Brasília, já tava quase de mela pronta pra ANP (Academia Nacional de Polícia) mas eu não quis nem saber, meu objetivo agora era outro.

As vezes a gente sonha a vida inteira com uma coisa, mas o que o destino tem reservado para nós é algo totalmente diferente, bom, meu estágio probatório acabou e eu entrei no CORE, aí você deve estar se perguntando, “Nossa, mas para entrar lá não é difícil? ” E eu te respondo “Difícil é perder sua mãe com um tiro dado por um filho da puta viciado.”

Aqui no CORE eu me especializei e me tornei sniper, sim, atirador de elite, falando assim dá até um glamour, porém de glamour essa profissão não tem nada, mas foda-se, eu não to aqui pra que a população goste de mim eu to aqui pra protegê-la.

A gente costuma dizer aqui dentro que a morte é nossa aliada, ela não ceifa nossa vida nas operações e nos ajuda a abater alguns bandidos, nós atiramos e ela vai correndo buscar a alma. A gente acredita que ela não é boa nem má, apenas existe para cumprir seu papel. Eu mesmo quando toco nesse assunto sempre digo que tenho um anjo da morte de estimação, sempre quando eu coloco minha farda e vou para uma missão ele vai comigo, cada tiro que eu dou, cada vida que eu tiro desse mundo, me sinto mais vivo, sinto que eu estou fazendo a coisa certa, sinto que estou vingando a minha mãe e impedindo que outras pessoas percam pessoas que amam por causa desses traficantezinhos de merda.

Mas teve um tiro em especial, o melhor tiro da minha vida, esse foi o momento onde eu mais me senti vivo em toda minha existência.

O nosso helicóptero nos deixou no alto do morro, não vou falar o nome pois creio que muitos devem conhecer, mas era o mesmo morro onde minha vó morava, onde minha morreu e onde eu cresci, eu conhecia aquilo muito bem, bem pra caralho pra ser sincero, me posicionei em um ponto estratégico com um dos meus parceiros me dando cobertura, o resto dos homens se embrenharam pela mata para pegar os bandidos por trás e encurralá-los pois os caveiras do BOPE estavam subindo pela frente, sim, o BOPE, do filme que todo mundo conhece, e mesmo aquilo sendo “ficção”, os caras realmente são diferenciados.

Eles subiram fazendo a limpa, empurrando os bandidos tudo para cima da gente, foi lindo o que aconteceu naquele dia, o BOPE subiu matando e o CORE foi rendendo todo mundo que fugia para a mata, aí você deve estar pensando, “Poxa que legal, vocês devem ter prendido um monte de gente, isso sim é o certo”. Prender é o caralho, isso aqui é Rio de Janeiro, a gente rendeu, digamos que para conseguir algumas informações e "brincar" um pouco... E foi nesse momento que o o chefe do morro subiu para onde eu estava, foi vindo correndo pelo meio do mato, tentando fugir daquilo tudo, e eu estava só esperando ele parar para pegar bem na cabeça, e acabar com o funeral daquele desgraçado.

- Calma, calma, quase na mira... Foi

- Aí Stive, avisa o delegado que o chefe do morro caiu.

- Vai lá, pega Morte... Pow

CARALHO, que sensação gostosa, foi o melhor tiro que eu já dei, o dono do morro que estava na troca de tiro onde minha mãe morrera, agora estava há uns 100 metros de mim sem o crânio.

- É caveira porra! Gritou meu parceiro.

Foi mais uma para a conta, minha e do meu anjo, com esse foram 12 desde que eu assumi a função de sniper, eu atiro e ele leva a alma, a morte é nossa aliada.

PS - Esta é uma história de ficção, embora certas informações sejam verdadeiras.

Harry S
Enviado por Harry S em 05/08/2020
Código do texto: T7027005
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