PAULO ALVES - CAPÍTULO CINCO - MINISSÉRIE

Paulo Alves 5

A casa de Janaína lembra muito uma exposição de quadros de artistas do passado e da atualidade. Por onde se olha há um famoso ou famosa sorrindo forçadamente. Paulo gostou, mas também achou estranho. Ele não perguntou o porquê e deixou para que a dona da casa se manifestasse.

- Sou uma jornalista moderna senhor Alves, me interesso por essas personalidades.

- E isso inclui Menudos? – apontou para o quadro.

- Pois é, coisa de fã retardada. – riu. – quer beber alguma coisa?

- Lhe acompanho.

- Quando vai deixar a formalidade fora dessa detetive? Estamos num encontro. – andou até a cozinha.

Pior que ela tem razão, Paulo está travado sem saber o que fazer. Janaína está no papo, ele sabe disso, mas como ir mais adiante? Ela voltou da cozinha com dois copos pela metade de uísque puro, sem gelo e muito decidida a fisgar de vez seu pretendente.

- E o caso, detetive? – lhe entregou a bebida.

- Estamos num encontro. – ergueu o copo.

- Certo. Vamos começar o jogo. A cada ponto do caso que você revelar eu tiro uma peça de roupa. O que acha?

Paulo apertou os olhos.

- Está falando sério?

- Nunca falei tão sério em toda minha vida. – tomou um gole.

Ótimo, pensou ele.

- Acredito eu que estamos diante de um caso de um assassino em série.

Sim, Janaína tirou a blusa exibindo o sutiã.

- Uma menina se encontra desaparecida e eu creio que o mesmo cara que a sequestrou é o mesmo que matou e decapitou a ruiva.

A calça jeans foi tirada e depois o sutiã. Paulo quase infartou. Um corpo magro, mas muito chamativo. Ele sempre admirou as mulheres negras.

- Só me diz uma coisa. Você está fazendo isso só por causa da sua matéria?

- Não. – pegou o copo em cima da mesa de centro e engoliu o que restava da bebida. – estou fazendo isso porque estou louca por você, detetive. – o abraçou e o beijou.

*

Não me importo com o que os outros pensam de mim, se eu sou esquisitão o problema é meu. Passei muito tempo da minha vida vivendo em função do que os outros iriam pensar ou dizer do meu comportamento e das minhas atitudes. Chega, essa época passou, sou adulto, um novo Romildo Silva.

Boas lembranças foram feitas para serem guardadas no fundo da alma de qualquer ser humano. Romildo costuma lembrar de sua infância sempre que a água morna do chuveiro entra em contato com sua pele. Ele se recorda de seus pais e sua irmã. Típica família que se reúne aos domingos para saborear o suculento frango assado feito pela rainha do lar. Quem iria adivinhar que do seio desse lar supostamente perfeito iria surgir um monstro assassino matador de mulheres? Romildo se transformou num homem sem piedade, frio, calculista, oco por dentro. Ele terminou o banho louco para capturar outra boneca.

*

Se livrar das garras insaciáveis da jornalista não foi nada fácil. Se no quesito estereótipo Janaína perde para Mara, no quesito desempenho sexual as duas empatam. Loucura pura. Assim que chegou ao departamento policial Paulo foi notificado sobre a solicitação de Damião em sua sala.

- Vou logo dizendo, hoje o humor dele está péssimo. – alertou um agente.

Agora imagine uma montanha gigante e enfurecida? Essa é a visão do policial se dirigindo ao gabinete do chefe. Por que as coisas são assim? Elas não podiam ser mais simples? Paulo Alves tocou duas vezes na porta e entrou. Damião Ramos continuou a digitar e a falar ao telefone. Intimidado, restou a Paulo aguardar espremido no canto. O telefone foi colocado no gancho de forma violenta.

- Eles não conseguem fazer nada, absolutamente nada direito. – olhou para Alves. – aonde você estava?

- Bom, eu...

- Provavelmente estava com a jornalista, não é?

Como ele sabe?

- E não adianta mentir meu caro detetive. Quando entrou aqui o cheiro de sabonete feminino empestou a sala, sem falar no fato de você não estar barbeado. Acertei?

- Acertou!

- Viu? Ainda sou um bom investigador. – bateu palmas. – já temos o assassino da ruiva?

- Não, ainda, mas tenho um suspeito. Lembra do caso do sumiço da vendedora?

Damião fechou os olhos assentindo.

Tudo foi explicado ao chefe que ouviu a tudo calado, sem mover um músculo. Isso é bom ou ruim? Quando terminou, Paulo estava ainda mais apreensivo e de uma certa forma com medo do que viria pela frente. Damião é uma incógnita em pessoa, é difícil decifra-lo.

- Quer saber de uma coisa, agente Alves? Sua linha de investigação é um pouco confusa, fora dos padrões, mas pode dar certo. Agora vale um conselho.

Alves empertigou-se.

- Procure não ficar no achismo, vá lá e confira. Ver é melhor do que não ver. Entendeu?

- Sim, senhor.

- Dispensado!

A curta reunião com Damião deu um novo gás ao jovem policial, “ver é melhor do que não ver” Paulo gostou disso. De volta a sua mesa ele se pôs a pensar. Por enquanto ele só tem a imagem do suposto matador. Sair do achismo. É preciso ir lá e conferir. Chega de pensar muito, hora de agir.

*

Ler sempre foi uma dificuldade para Romildo desde criança, mas o fato é, o que um cara que não suporta leitura faz dentro de uma livraria? Claro, uma boneca ambulante. Linda, apetitosa e provavelmente muito inteligente. Ela tem nas mãos dois livros de Stephen King, qual levar?

- Eu levaria esse de capa preta. – interferiu Romildo.

- “Escuridão total sem estrelas”. – falou desconfiada. – já leu os contos?

- É... Sim! – ruborizou.

- Pelo seu visual, o senhor adora leitura, acertei?

- Amo, tenho todos desse autor e quero doa-los. Lhe interessa?

- Muito! – riu.

- Ótimo, vamos até minha casa, é aqui perto.

Uma serpente. É isso que o velho Romildo Silva é, uma serpente. Michele foi envolvida, caiu na armadilha do esquartejador, será sua próxima boneca. A cara de satisfação do assassino e até seu jeito de andar faz pensar que ele está nas nuvens. A moça não para de tagarelar, mas isso não chega a incomodá-lo. O que ela lhe proporcionará será grandioso.

- Chegamos. Seja bem vinda.

Júlio Finegan
Enviado por Júlio Finegan em 31/07/2020
Código do texto: T7022255
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