PAULO ALVES - CAPÍTULO QUATRO - MINISSÉRIE

Paulo Alves 4

É difícil se concentrar quando se tem mil coisas girando a todo vapor na mente. Por mais que Paulo force a barra, Mara continua lá, linda, cheirosa e gostosa, invadindo seus pensamentos. Vida que segue. O trabalho nesse momento vem em primeiro lugar. Sentado de forma relaxada Alves apertou o play e logo a fita de vídeo lhe deu as primeiras imagens da loja de bonecas. Lá está ela, jasmim – nossa, uma gatinha mesmo – é notório sua dedicação ao trabalho, sua entrega, mal o cliente entrou e ele já é recebido com um sorriso de fada. É venda na certa. Um casal entrou e foi recepcionado da mesma forma, claro que saíram dali com o produto em mãos.

Damião Ramos parou e ficou ali, de pé, olhando o vídeo sem ser notado por Paulo.

- Como vão às coisas, Alves?

A voz do chefe soou como um trovão numa tempestade.

- Opa! – se ajeitou. – sim, caminhando.

- O que é isso? – cruzou os braços.

- Imagens de uma loja de bonecas, essa vendedora desapareceu há três dias, penso eu que tanto o caso da ruiva quanto esse estão interligados.

Damião voltou a olhar para o vídeo.

- E o que te faz acreditar nessa hipótese?

Rapidamente Paulo pegou o cartão de visitas em cima da mesa.

- Achei isso no lugar onde encontraram a cabeça da ruiva. – entregou ao chefe.

Meneando a cabeça o chefe analisou frente e verso do cartão e o devolveu ao detetive.

- Siga em frente. Está no caminho certo. – saiu.

Isso era tudo o que Alves queria ouvir numa manhã conturbada. Não chegou a ser um elogio, mas sim uma alavanca. Sentindo os efeitos das palavras do chefe ele voltou a se sentar e ficar praticamente com a cara enfiada no monitor – vou te pegar seu merda.

*

Janaína ultimamente, ou pelo menos desde quando conheceu pessoalmente o policial Paulo, ela anda confusa. Ela não sabe direito o que vem sentido por ele. Paixão? Admiração? Ou fogo no rabo mesmo? Pois é, ela sabe muito bem que com essas coisas não se brinca. Coisas do coração são perigosas demais. Janaína passou por um relacionamento que no início foi bacana, Fabio era um sujeito apaixonado, a tratava como uma rainha. Eles não se viam todos os dias, mas aos finais de semana se trancavam no apartamento dele e transavam até ficarem exaustos. Não demorou muito tempo para que Fabio tirasse a máscara e revelasse seu lado ciumento, possessivo e até violento. Foi duro. De repente a menina que era uma rainha se tornou a pior das plebeias. Janaína acreditava piamente que poderia construir uma família com Fábio, ser mãe de seus filhos. A vida e suas reviravoltas.

Os tempos mudaram. Se uma mulher está afim de um cara, ela toma a iniciativa e isso cabe perfeitamente na jornalista. Janaína pegou o celular e ligou para Paulo que atendeu no primeiro toque.

- Novidades?

- Poucas.

- Pode me contar? – girou a cadeira.

- Sim, mas peço que não publique nada ainda, certo?

- Você quem manda chefe. – brincou.

Paulo disse tudo, ou quase tudo, ele conhece bem o mundo jornalístico. Ao fim da conversa Janaína Lopes resolveu atacar.

- Ainda está de pé o nosso encontro informal?

- Sim, está de pé sim, com certeza. Que tal hoje?

- Hoje é dia útil, detetive. – falou vibrando.

- E quando não é dia útil para um policial e para uma jornalista?

- Tem razão. Posso escolher o lugar? Gosta de pizza?

- E quem não gosta?

- Legal, anote o endereço.

Feito, ou melhor, fisgado. A ligação foi encerrada seguida de um gritinho de comemoração que chamou atenção de toda redação. Gás renovado. Nada como uma deliciosa pizza portuguesa para fechar bem a noite. Xeque-mate dona Janaína Lopes.

*

Conter pranto não é nada fácil, ainda mais depois de passar por situações tão traumáticas. Jasmim conheceu uma menina que foi estuprada, ela estudava no mesmo colégio que ela. Isso aconteceu faz bastante tempo, jasmim não se lembra exatamente em que ano estava e nem a série cursada. De uma coisa ela lembra, a menina nunca mais foi a mesma, as vezes ela dizia que preferiria ter morrido. E foi o que fez. Numa segunda-feira ela não apareceu na escola. Sua professora, visivelmente abalada pediu para que fizessem um semicírculo e despejou.

- A Clara, a menina da outra turma cometeu suicídio. Rezamos por seus pais e familiares.

Em posição fetal todo o corpo treme sem controle. Jasmim agora se vê como Clara, desejando a morte olhando para Romildo que se recompõe das duas trepadas sentado numa cadeira na outra extremidade da sala.

- Olha, bem que eu gostaria de transar mais, porém confesso que ando fora de forma. – subiu o zíper. – e você, jasmim, aguentaria mais uma?

Jasmim balbuciou algo.

- Se quiser posso subir e tomar o azulzinho. Riu. – não, claro que não farei isso. – deu as costas. – volto logo, vou pegar o cutelo.

*

O sono começa a bater forte e os olhos parecem pesar uma tonelada cada um. Pois é, é o que acontece por ficar um longo período diante de um monitor. Paulo pausou o vídeo e foi até onde fica a cafeteira. Bocejando ele se serviu de um pouco mais da metade do copo. Tudo o que viu até agora no vídeo não o alarmou, não acionou seu lado policial. O caso da ruiva com certeza está interligado com o desaparecimento de Jasmim, isso ele não descarta jamais. O café é fresco, a temperatura mostra isso e Alves mais uma vez está diante do monitor um pouco mais acordado agora. Entra e sai de clientes. Jasmim ziquezaqueando entre eles tentado dar atenção a todos. Um cara olhando uma boneca no canto superior esquerdo, pelo menos aos olhos de Paulo ele não parece muito interessado no produto. Cada vez que jasmim passa por ele é observada descaradamente. Ele deve fazer parte do grupo de homens mais velhos que são tarados por novinhas.

- Pode ser ele! – saltou quase derramando café na camisa. – pausou o vídeo. – meu Deus, será? – apertou o play.

O tal sujeito finalmente tem atenção de jasmim. Eles conversam por um tempo e depois a vendedora o conduz para o outro lado da loja. Mais conversa. Jasmim tenta convencê-lo a comprar pelo menos uma boneca pequena de pano. Como era de se imaginar ele não levou nada, só queria estar perto da ninfeta. Jasmim lhe entregou o cartão da loja. O cara parece ter pedido algo que aparentemente ela se negou a fazer, mas por fim aceitou. Jasmim pegou o cartão de volta, sacou sua caneta do bolso e escreveu algo no verso. Na mesma hora Paulo olhou para o cartão de visitas sobre a mesa.

- Te peguei, seu filho da mãe.

*

O rosto está salpicado de sangue, diferente das mãos e braços que estão cobertos por ele. Romildo terminou de arrancar a cabeça – ele sempre as deixa por último – com dificuldade para ergue-la no alto, ele enrolou os cabelos entre os dedos e a levantou até ficar cara a cara. O aspecto de jasmim é de cortar o coração. Os dois olhos abertos focando o nada e a boca semiaberta. Romildo Silva consegue olhar para aquilo e sentir prazer.

- És a mais linda entre as outras. – a beijou na boca. – perfeita.

Colocou a cabeça perto dos outros membros cortados e comemorou o terrível feito com palminhas. É preciso ser muito doente para se alegrar ante a um cenário macabro como por exemplo ter o corpo de alguém esquartejado, esvaindo sangue por todos os lados.

- Bom. Hora de limpar essa sujeirinha.

*

Janaína não chega nem aos pés de Mara no quesito gostosura. A jornalista é magra, pouco quadril e pra contrariar de vez as preferências do policial, os seios não chegam nem na média, são bem pequenos. Por outro lado ela é simpática, agradável, incrivelmente inteligente e algo que Paulo pode notar no primeiro encontro com ela lá no DP, Janaína carrega nela uma sensualidade que o faz perder a concentração na conversa, imagina essa magrinha na cama?

- Gostou da pizza? – perguntou Janaína cortando mais uma fatia.

- Adorei, a massa é bem leve.

- Eu só peço daqui. – fez uma pausa. – e o caso?

- Achei que esse encontro fosse informal. – sorriu.

- Verdade. – limpou a boca. – vamos falar de você então. – cruzou às pernas. – é casado, mora aonde, pra que time torce, por que entrou para a polícia?

- São muitas perguntas, melhor pedirmos mais uma pizza. – brincou.

- Concordo! Garçom.

Foi uma noite pra lá de agradável. Risadas, boa conversa, confissões, enfim, fazia tempo que ambos não se divertiam tanto. Janaína terminou aquele encontro ainda mais apaixonada por Paulo e ele por ela. O Sandero grafite parou em frente ao portão da casa de Janaína. No rádio o locutor anuncia a próxima canção.

- Amo essa rádio. – disse Janaína.

- Pois é, só toca música boa. – olhou para ela. - Gostei da nossa noite e você?

- Encantada.

- Quer repetir a dose?

- Perguntando se macaco quer banana? – riram. A jornalista olhou para sua casa e disparou. – vamos entrar?

Júlio Finegan
Enviado por Júlio Finegan em 28/07/2020
Código do texto: T7019716
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