PAULO ALVES - CAPÍTULO DOIS - MINISSÉRIE

Paulo Alves 2

Mara. A mulher que Paulo um dia pensou em ser a mãe de seus filhos. A mulher pela qual se apaixonou de verdade, o traiu. Logo agora? Justo quando ele está vivendo a realização de um sonho, ser investigador da polícia, justo agora? Que vida é essa? Está certo, é preciso saber separar o pessoal do profissional, mas isso é algo quase impossível. Dizem os mais religiosos que quando a vida pessoal vai bem, tudo transcorre em paz. Paulo prefere acreditar nessas palavras mesmo não sendo tão espiritual assim. O problema é que ele ainda é apaixonado por Mara, ela tem tudo que um homem gosta. Bonita, inteligente, gostosa, sabe transar como poucas e tem uma visão de futuro incrível. Aonde está o problema então? Seria ele o causador de toda essa tempestade?

O Sandero parou enfrente ao terreno onde a cabeça foi encontrada. Calça jeans, camisa justa ao corpo, sapatos engraxados. Paulo mais parece um garoto de programa do que um policial. Melhor rever isso, pensou ele entrando no terreno. Muito entulho espalhado, mato crescido e há também sacolas de lixo por ali. Andando um pouco mais, o detetive chegou num ponto onde possivelmente a cabeça foi achada. Olhando mais de perto pode-se ver sangue seco no meio das pedras.

- Foi aqui! – sacou o telefone e bateu algumas dezenas de fotos.

A grande dúvida é, o que fizeram com o restante do corpo? Que motivação é essa? O que teria feito a coitada da ruiva? Ainda se perguntando, Paulo olhou ao redor e não viu nenhum ponto de iluminação. aquele lugar a noite deve ser tenebroso. Quando já estava passando pelos tapumes mal colocados, Alves viu um cartão de visitas amassado, caído entre a calçada e a rua.

- Loja de bonecas quase humanas. Curioso. – virou o verso do cartão. Um número de telefone muito mal escrito. Alves o enfiou no bolso e foi embora.

*

Janaína Lopes, jornalista de um tabloide digital. Adora as páginas polícias, por isso optou por ser a responsável em investigar e divulgar o que anda acontecendo por dentro das delegacias. Enquanto revisava seu texto, algo a chamou atenção. O horrendo caso da cabeça da ruiva. Ela leu o nome do investigador.

- Paulo Alves. – clicou no nome onde abriu outra página com informações sobre o agente. Janaína leu somente o resumo. – não parece policial do setor de investigação, bonitinho demais. – ampliou a imagem. – preciso conversar com você detetive Alves.

Janaína já teve a oportunidade de trabalhar em dois bons jornais, porém sua fama de fuxiqueira falou mais alto e ela não chegou a completar um ano em nenhum deles.

Na época ela achou estar sofrendo racismo, mas assim que conseguiu entrar para o Cidade News descartou essa possibilidade. Graças a sua experiência, a página policial do tabloide é uma das mais lidas e solicitadas, ganhando prêmio inclusive. Mediana, bem magra e adepta ao uso dos cabelos naturais, Janaína se sente orgulhosa por representar uma classe sofrida e que precisa engolir preconceito atrás de preconceito.

*

Quem o vê andando de forma tão faceira no meio da rua não acredita que Romildo Silva seja um cara frio, um assassino gelado sem sangue passando pelas veias. O que teria acontecido com ele para que chegasse a esse ponto? Um terrível trauma de infância? Lógico que não. Romildo foi uma criança saudável, cercado de carinho, dedicação e atenção. Sua irmã mais nova, Olga, também foi uma criança que teve total atenção dos pais. O que houve de errado com Romildo? Por que matar? E não só matar, ele esquarteja suas vítimas, todas mulheres, suas bonecas como costume dizer. Bonecas de pano ou de plástico não gritam quando corto uma parte do corpo delas, mas as de carne e osso, ah, que legal.

Alto, robusto, rosto grande e corado. A marca registrada de Romildo é com certeza seu bigode grisalho bastante grosso e mal aparado. Para se vestir até que o assassino tem bom gosto. Ao entrar na padaria ele contemplou uma boneca em potencial, a beleza da menina o fez salivar, Parece ter saído dos desenhos animados de princesa. Café puro e uma empadinha de frango. Comeu em pé mesmo, devorando a jovem estudante com seus olhos miúdos e apertados. Sem sombra de dúvidas ela será sua próxima boneca, a próxima a satisfazer, mesmo que de forma involuntária, os desejos mais sombrios de Romildo. Mas, felizmente para ela e infelizmente para ele, a mocinha foi surpreendida pelo namorado que a tapou os olhos por trás. Salva pelo gongo. O esquartejador deixou a padaria saboreando ainda a empadinha e lamentado a perda de uma nova boneca.

*

Pelo visto seu novo trabalho como detetive já anda dando às caras. Com mil coisas se passando a todo vapor em sua cabeça, ainda assim, Paulo consegue separar bem as situações. Ele pensa em Mara, em sua carreira como policial e também no caso, porém prioriza o que no momento se encontra ao alcance de suas mãos, o caso da ruiva. Vamos nessa então. Antes de ligar para o número da loja de bonecas quase humanas ele foi surpreendido pela chegada de uma negra linda, de olhos marcantes sendo conduzida por um agente fardado.

- Investigador Paulo Alves, essa é Janaína Lopes do Cidade News.

Paulo se levantou e a cumprimentou sem muita empolgação.

- Em que posso ser útil?

- Bom, é que, quero muito acompanhar as investigações do caso da cabeça da ruiva e...

- Ah, sim, sente-se. Cidade News, já andei dando uma olhada nesse tabloide, vocês fazem um bom trabalho. – Alves se sentou meio largado. – digamos que eu estou bem no início, não tenho nada de concreto ainda.

- Mas o que você acha? – começou a escrever no bloco.

- Terrível. Um crime que merece toda atenção e também uma resolução. Farei o que for necessário pra que isso se resolva e o culpado seja detido.

- Você é sempre muito formal desse jeito, detetive?

- Quando estou trabalhando, sim.

- E quando não está? – deixou o bloco de lado.

- Bom. Aí eu me torno um jovem rapaz de 26 anos que só quer curtir com os amigos.

- Legal! – recolheu seus pertences. – da próxima podemos marcar num lugar menos hostil. O que acha?

- Boa ideia, quem sabe? Até lá já terei bastante material para publicação.

Homens, são todos iguais. Esse discurso se encontra na boca de toda mulher. Paulo Alves viu Janaína indo embora e na hora ele riu como se fosse um garoto de quinze anos - é impressão minha ou ela me chamou para sair? Pensou. Passado esse momento de pura exaltação, ele ligou para a loja. Demorou-se um pouco, mas o atenderam.

- Loja de bonecas o que deseja?

- Sou o investigador Paulo Alves e...

- Aí, graças a Deus, vocês a encontraram?

Paulo sentiu o estômago dar um nó.

- Calma, moça, encontramos quem?

- A Jasmim, a menina que trabalha aqui como vendedora, ela sumiu tem dois dias.

- Fique calma, chego aí em vinte minutos.

Júlio Finegan
Enviado por Júlio Finegan em 22/07/2020
Código do texto: T7013761
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