VENENO NEGRO - capítulo piloto

VENENO NEGRO

Foi um dia bastante conturbado para Samanta. Logo de cara, assim que chegou a lanchonete onde trabalha como garçonete, seu gerente a chamou atenção por não conseguir chegar no horário combinado no dia anterior. Foi uma bronca daquelas na frente dos demais funcionários. Em seguida ela errou o pedido de uma das mesas. A pessoa pediu um hambúrguer de carne de frango e ela lhe entregou um de carne bovina, além do suco sem gelo. Isso também lhe rendeu outra bronca. A tarde ela foi direto para a faculdade onde estuda nutrição a dois anos. Samanta quase teve um ataque do coração ao abrir sua mochila e perceber que o trabalho não estava lá. Era um trabalho mega importante, sua passagem para o período seguinte dependia e muito dessa tal tarefa. Enfim. Foi complicado viver esse dia.

Na saída da universidade, exausta, com fome e principalmente louca por um longo banho, Samanta dispensou a resenha com as colegas de classe e foi correndo para o ponto de ônibus.

- Tchau, meninas. – disse colocando a mochila nas costas.

A faculdade fica num bairro bem próximo a uma comunidade onde já houve inúmeros assaltos e arrastões. Samanta chegou ao ponto de ônibus que se encontrava vazio. Preocupada, ela olhou para toda a extensão da rua na tentativa de ver algum rosto conhecido. Nada. Ela não viu ninguém. Pegou rapidamente o celular no bolso de trás da calça jeans colada a qual valoriza sua protuberância. Samanta consultou o horário e também se surpreendeu ao ver uma mensagem de Carlos, seu namorado. Sim, o namoro não está legal. Carlos é um cara muito bacana, porém o ciúme doentio vem abalando e muito o relacionamento. Ela leu a mensagem, “Oi, quanto tempo hein!”. Samanta riu. Já faz uma semana desde quando eles tiveram a última briga. Carlos foi embora naquela noite enfurecido, e olha que eles haviam transado gostoso dentro do carro dele. Hesitante ela começou a digitar, “Oi, não posso falar agora, estou saindo da faculdade”. Voltou a rir. No fundo no fundo ela ainda gosta daquele canalha. Carlos ficou online e respondeu, “posso te passar ai? Peguei o carro na oficina hoje”. Por dentro Samanta estava explodindo de alegria, nada como uma trepada deliciosa depois de um dia como esse.

*

Vinte minutos depois Samanta se encontrava bem a vontade dentro do Sandero grafite de Carlos. Uma semana sem vê-lo, uma semana sem ouvir sua voz, uma semana sem transar, Samanta confessa que sentiu muita a falta desse chato de galocha.

- Não me ligou por que? – perguntou Carlos olhando para frente.

- E você, por que não me ligou também?

- Você é muito orgulhosa, não acha não? – reduziu e fez a curva.

- Orgulhosa? Eu? Fala sério. – cruzou os braços.

- Nem sentiu saudade, sentiu?

Samanta sabia aonde essa conversa iria chegar.

- Se liga, Carlos, se você veio até aqui para brigar, pode me deixar em qualquer lugar que eu sigo sozinha.

O Sandero parou no acostamento. O motor foi desligado e Carlos olhou para sua namorada faiscando.

- Pode ir me falando com quem você ficou a semana toda. Vamos.

Samanta riu de nervoso não acreditando no que estava acontecendo.

- Pelo amor de Deus, Carlo, eu tive um dia de cão hoje. Eu só quero chegar em casa e dormir. Por favor.

- Fala logo. – a golpeou no rosto com um forte soco.

Mesmo atordoada Samanta ainda tentou abrir a porta do carro, mas foi impedida. Carlos a socou novamente no rosto. O nariz da universitária sangrou quase que na mesma hora.

- Socorro! – gritou.

- Você vai falar. – mais um soco no rosto da namorada.

Claro, não foi a primeira vez que Carlos bateu em Samanta, porém hoje ele está ainda mais raivoso, ainda mais violento. O sangue escorreu do nariz e manchou sua blusa. As agressões continuam até que algo ou alguém tocou no vidro do motorista. Ao se virar, Carlos deu de frente com um sujeito mascarado, todo de preto, com uma caveira desenhada no lugar do rosto.

- Mas que merda é essa? – falou sob os gritos de Samanta.

Sentindo que Carlos iria ligar o carro, o tal mascarado socou o vidro o quebrando. Carlos foi agarrado pelo colarinho e puxado. Samanta acompanhou tudo apavorada. Lá fora seu namorado era interrogado.

- Quero saber o que aconteceu para você agredi-la. – o segurou pelo pescoço.

- Vá a merda, eu não lhe devo satisfação. – disse tremendo.

Carlos teve o nariz quebrado tamanha foi a violência empregada no soco.

- Resposta errada. Vamos tentar outra vez. Você costuma bater em mulheres?

- Vá pro inferno, você quebrou o meu nariz.

O mascarado desferiu outro soco, dessa vez no estômago. Carlos dobrou o corpo e recebeu uma joelhada. O rapaz urrou segurando o rosto. Mais dois murros e finalmente o namorado de Samanta caiu no asfalto apagado. Ele olhou para dentro do carro e Samanta o estava filmando com o celular.

- Quem é você? – perguntou quase chorando.

- Fique tranquila, seu namorado ficará bem, ele só desmaiou.

- Quem é você, droga? – gritou ainda filmando.

- Esse vídeo vai parar na internet não é? Então tá legal. Pode me chamar de o Veneno Negro.

- Meu Deus, o justiceiro tão temido?

- Moça, gostaria muito de ficar e bater um papo, mas tenho que ir.

O mascarado desapareceu deixando Samanta boquiaberta. Veneno Negro, quem é ele? De onde veio? O que ele pretende fazer? A universitária salvou o vídeo antes de sair e prestar socorro ao namorado valentão. FIM.

Júlio Finegan
Enviado por Júlio Finegan em 19/05/2020
Código do texto: T6951561
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