O sinistro entregador de pitza
O SINISTRO ENTREGADOR DE PITZA
Miguel Carqueija
Romuald Abricó Peixoto aproximou sua motocicleta de um grande prédio de apartamentos. Ele já se sentia cansado e sonolento, dado o adiantado da hora, mas ainda teria outras entregas a fazer. Chegou junto ao vidro, tocou o interfone e aguardou.
— Quem é?
— É a pitza!
— Está atrasado!
— Desculpe, tivemos muita entrega...
— Vocês, subalternos, sempre dão essas desculpas. Está bem, vou descer!
Romuald, já se sentindo furioso, aguardou que o Sr. Pacheco descesse lá do décimo andar. Este, embora reclamasse do atraso, demorou um tempão. Finalmente apareceu, um sujeito corado, meio careca, enfiado num “robe”.
— Sabia que era um tipo assim!
— Como assim, senhor?
— Ora! Brinquinhos nas orelhas, tatuagens... esses costumes dessas gerações de imbecis. Me dê logo a pitza!
— Senhor, está aqui a notinha...
— Já sei, babaca! Seu dinheiro está aqui! Fique com seu troco imundo!
Ele pagou e pegou a caixa de pitza.
— Que está olhando?
— Seu Pacheco, espero que sua família aprecie.
— Família? Do que você está falando?
— É só o que eu queria saber.
Romuald deu um tiro certeiro na cabeça do outro, pegou de volta a pitza e tratou de escapar em sua motocicleta. Depois de dobrar a esquina parou um instante só para tirar o produto da caixa da motocicleta e transferi-lo para sua mochila, junto com o recibo que pegara de volta. Para todos os efeitos a entrega estava feita e ao retornar para casa ele estaria com fome.
“Preciso ser mais controlado com esses fregueses mal-educados”, pensou ele. “Afinal já é o terceiro freguês que o meu patrão perde em um mês e isso não é legal da minha parte! Ele é um bom patrão!”
NOTA: Antes que me acusem de escrever errado, esclareço que a palavra “pizza” é um estrangeirismo italiano e que na língua portuguessa não existe o “z” dobrado. Eu aportuguesei o vocábulo.
Rio de Janeiro, 20 de março a 26 de abril de 2020.
imagem pinterest
O SINISTRO ENTREGADOR DE PITZA
Miguel Carqueija
Romuald Abricó Peixoto aproximou sua motocicleta de um grande prédio de apartamentos. Ele já se sentia cansado e sonolento, dado o adiantado da hora, mas ainda teria outras entregas a fazer. Chegou junto ao vidro, tocou o interfone e aguardou.
— Quem é?
— É a pitza!
— Está atrasado!
— Desculpe, tivemos muita entrega...
— Vocês, subalternos, sempre dão essas desculpas. Está bem, vou descer!
Romuald, já se sentindo furioso, aguardou que o Sr. Pacheco descesse lá do décimo andar. Este, embora reclamasse do atraso, demorou um tempão. Finalmente apareceu, um sujeito corado, meio careca, enfiado num “robe”.
— Sabia que era um tipo assim!
— Como assim, senhor?
— Ora! Brinquinhos nas orelhas, tatuagens... esses costumes dessas gerações de imbecis. Me dê logo a pitza!
— Senhor, está aqui a notinha...
— Já sei, babaca! Seu dinheiro está aqui! Fique com seu troco imundo!
Ele pagou e pegou a caixa de pitza.
— Que está olhando?
— Seu Pacheco, espero que sua família aprecie.
— Família? Do que você está falando?
— É só o que eu queria saber.
Romuald deu um tiro certeiro na cabeça do outro, pegou de volta a pitza e tratou de escapar em sua motocicleta. Depois de dobrar a esquina parou um instante só para tirar o produto da caixa da motocicleta e transferi-lo para sua mochila, junto com o recibo que pegara de volta. Para todos os efeitos a entrega estava feita e ao retornar para casa ele estaria com fome.
“Preciso ser mais controlado com esses fregueses mal-educados”, pensou ele. “Afinal já é o terceiro freguês que o meu patrão perde em um mês e isso não é legal da minha parte! Ele é um bom patrão!”
NOTA: Antes que me acusem de escrever errado, esclareço que a palavra “pizza” é um estrangeirismo italiano e que na língua portuguessa não existe o “z” dobrado. Eu aportuguesei o vocábulo.
Rio de Janeiro, 20 de março a 26 de abril de 2020.
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